Bianca chegou na sala de aula furiosa e sem o Lucas. Que esquisito. Desde quando eles começaram a sair ele a segue pela escola inteira parecendo um cachorrinho.
Sinal do fim de intervalo bateu mais ainda faltavam Marcia e Lucas. Aonde será que os dois estavam? Na chamada quando a professora parou no nome do Lucas e olhou para a sala estranhou.
“Aonde estão Lucas e Marcia? Eu os vi na escola hoje!” Ela falou encarando todos os rostos da sala e um ‘huuuuuuummmmmmm’ se ouviu de um grupo de meninos.
“Mal terminou com a Bianca e já ta pegando a Marcinha?” Falou Felipe, o menino irritante que descia para a coordenação em quase todas as aulas.
Então a professora saiu da sala em disparada e voltou com uma cara de nervosa. Ela tinha ido da sala ao lado onde a professora que deu nossa primeira aula afirmou que os dois estavam presentes em sua aula. Ela viu que estava atrapalhando a aula por causa dos dois que desistiu de tentar encontrá-los decidindo então dar logo a sua matéria.
Assim que a aula acabou e a professora saiu da sala, os dois entraram e todos os olhares da sala foram em cima deles. Marcinha ficou tão vermelha que pensei que ela iria explodir, já o Lucas continuou com aquele rostinho de anjo que não faz merda.
“Meninas, eu juro que não fiquei com o Lucas. Estávamos só conversando!” Marcia veio em nossa direção quase chorando. Senti que ela pousou o olhar mais em mim do que na Nath para dizer isso.
“Marcia, relaxa. Nenhuma de nós duas acreditamos que vocês estão ficando ou algo assim. Sabemos de quem você gosta e sabemos que mesmo você nem falando direito com ele você é fiel a ele.” Nath falou.
“E você, Amanda? Acredita?” Ela perguntou desesperada.
“Marcia, eu acredito que vocês não ficaram, mas, mesmo que ficassem, qual seria o problema? Pelo o que eu vejo os dois são solteiros e livres. Calma, gata!” Falei calmamente para ver se assim ela diminuía o desespero.
“Obrigada!” Ela respondeu e foi se sentar na frente da Malu. Sinto tanta falta delas duas sentarem perto da gente. De todos nós. Thiago sempre pedia as respostas e cada um do grupo(tirando ele é claro) ficava encarregado de fazer os trabalhos das matérias que se garantiam e os outros copiavam. A gente tinha nosso próprio sistema de colas mesmo ainda estando em abril.
Eu estava tão distraída desenhando na folha de português que nem vi que tinha alguém se aproximando de Nath e eu. Até que:
“Meninas, preciso falar com vocês uma coisa muito urgente. Vão lá em casa hoje no horário de sempre, 15h.” Disse Lucas ao passar do nosso lado para voltar a sentar na sua carteira que era a penúltima da fila da parede.
Nath então se levantou e foi atrás dele. “Está achando que é só terminar com a Bianca e vir atrás de nós duas que as coisas vão voltar ao normal?” Perguntou ela irada que estava quase gritando.
“Olha Nath, não quero arranjar briga com você ainda mais na sala de aula. Quer brigar comigo e me humilhar? Ok! Vá na minha casa hoje às 15h.” Ele abriu um sorrisinho ao terminar a frase. E então, vi um estojo voando na cabeça dele.
A Nath era muito esquentada e não aguentava só discutir, ela precisava voar em cima da pessoa para que a raiva passasse. Isso era só com os meninos, é claro. Com as meninas ela geralmente a faziam chorar antes mesmo de começar a falar.
“Vamos na casa desse mané hoje. Eu vou acabar com ele!” Disse ela se sentando na minha frente. Olhei disfarçadamente para trás e notei que Lucas estava me encarando. Virei para frente no mesmo instante.
Eu necessitava saber o que era de tão urgente.
Ao chegar naquele portão meio dourado, ouvi os latidos da Doritos.
De tanto que eu ia na casa do Lucas com a Nath, a Doritos começou a amar a gente, até nos deixava pentea-la. Eu sempre quis ter um cachorro, mas minha mãe nunca deixou. Falava que eu não ia ter responsabilidade e catar a sujeira e que certamente sobraria para ela limpar. Toquei a campainha e torci para que a Nath já estivesse lá porque ela não atendia o celular.
“Oi minha querida. Quanto tempo que não vem aqui! Que saudade!” Disse Celeste me abraçando. A abracei de volta. Eu a adorava desde a primeira vez que a vi. Ela era tão simpática e tão divertida que não tinha como não gostar dela. A Nath já a conhece a mais tempo pois cresceu na casa do Lucas e também porque já ficou com o filho da Celeste. Mundo pequeno, não? Porém a Celeste nunca soube.
“Lucas está no quarto e falou para que quando você chegasse com a Nathalia eu mandasse vocês subirem. Cadê ela?” Ela perguntou olhando para a rua procurando minha amiga.
“Pensei que ela já estivesse aqui...” Falei me arrependendo de ser pontual na primeira vez da minha vida. “Vou subindo então, Celeste!” Eu necessitava demais saber o que era tão urgente. Eu estava morrendo de curiosidade desde quando ele me falou que precisávamos conversar.
“Vai lá, querida!” Ela disse ao fechar o portão e voltar para dentro da casa.
A casa do Lucas parecia um palácio. Era gigante e linda. Nas primeiras vezes que fui lá, me perdi. Mas agora eu já sabia muito bem como chegar em cada canto daquela casa.
Cheguei a porta do quarto do Lucas e bati. Nervosa.
“Entra!” Ouvi sua voz rouca ecoar pelo quarto e então abri devagar.
“Oi. A Nath não chegou ainda então eu posso esperar por ela lá na sala e quando ela chegar, eu subo...” Falei quase dando meia volta.
“A Nath não vem.” Ao ouvir isso eu dei um pulo e o encarei. Não acredito que os dois tinham armada aquilo tudo.
“Por que?” Foi a primeira coisa que pensei em questionar.
“Ela me ligou e falou que nós dois precisamos conversar sozinhos.” Ele falou envergonhado. Sabia que aquilo tinha dedo de Nath.
Então entrei e sentei ao lado dele encarando-o. “O que você precisava falar?” Falei um pouco mais seca do que eu pretendia ser.
“Primeiro que terminei com a Bianca porque estava afim de uma menina desde fevereiro. Segundo que nunca quis namorar a Bianca, ela me enganou e eu estava carente então acreditei e começamos a sair. Ela não gostava de mim na verdade, ela queria esbanjar um namorado para a escola e só. Mas o maior culpado dessa história sou eu. Eu me afastei de vocês por bobeira. Eu estava pensando em coisas que nunca perguntei se eram reais ou apenas invenções minhas. Primeiro dizendo que você gostava do Thiago. E depois que você nunca me veria como mais que um amigo. Mesmo se hoje você não vê mais que um amigo em mim, tudo bem. Eu terei que superar e não ficar com a primeira menina que aparecer em minha mente.” Eu estava nervosa. Sabia muito bem como aquela situação iria terminar.
“Lucas, para! Na boa, o que está acontecendo com você? Cadê o menino que dizia que estava louco para terminar o ensino médio e voltar para a Austrália só para ficar longe do Brasil. Cadê o menino que aguardava pela garota que realmente fosse se apaixonar...” Ele me interrompeu e disse:
“O menino está aqui, mas está diferente porque encontrou a menina por quem sempre esperou...” E nesse exato instante os lábios do Lucas estavam nos meus. Ual. Como eu tinha desejado esse beijo tantas vezes antes enquanto ríamos, comíamos ou até mesmo brigávamos.
Mas algo estava errado. Eu não estava sentindo aquele frio na barriga ou a tremedeira. Para aonde essas sensações foram? Será que não tive tempo de senti-las porque o beijo me pegou de surpresa? Eu me afastei.
“O que foi isso?” Perguntei sentindo todo o sangue do meu corpo localizado na minha bochecha.
“A Bianca...” Ele ia falar quando eu comecei a gritar.
“Eu sabia! Você só estava me usando para esquecer a Bianca ou por pena de mim? Com certeza a Nath te disse que eu era afim de você e a então pensou que podia simplesmente me beijar e tudo ficar bem?” Eu sentia uma lágrima rolando pelos olhos. “Não sou digna de sua pena!” Me levantei num pulo mas ele me alcançou e segurou meus braços.
“Você ficou louca? Pena aonde? Você sempre estraga o clima, Amanda. Eu nunca senti pena de você por nada. Já senti orgulho, felicidade, desejo, paixão, amor até... Mas pena?” Ele estava começando aumentar o tom de voz, mas não com raiva, e sim com desespero.
“Preciso ir embora.” Falei tentando me afastar da mão dele. Mas isso só o fez com que ele segurasse mais forte.
“Que merda, Amanda. Eu gosto de você desde quando vi você entrando na sala de aula pela primeira vez. Desde quando você chegou na praia atrasada pela primeira vez de muitas. Desde quando veio estudar comigo e ainda quando jogamos vídeo game e você me derrotou em todos os meus jogos. Desde quando começamos a sessão de filme na sua casa as tardes e imitávamos os personagens. Desde quando você me contou tudo sobre você. Desde quando você me encarou com esses olhos verdes atrás de um óculos gigante pela primeira vez.” Ah, aí estava a sensação de frio na barriga e a tremedeira. Porque agora, eu estava processando tudo.
“Você é chata, irritante, dramática, chorona , fominha, estressada e resmungona. A metade do tempo eu quero ficar longe de você... Mas a outra metade... Aguarda a hora da escola para te ver e as tardes. Você é a primeira coisa que penso quando eu acordo. Eu vivia matando aula, mas agora eu tenho um motivo para nunca faltar: Você. Eu não sei se essa é a declaração que você esperava mas é que...” Agora, foi a minha vez de agarrar ele. Ele parou de falar e me beijou. Se afastou um pouco para me olhar nos olhos e sorriu. “Estou memorizando seu rosto nesse momento” disse para depois voltar a me beijar.
Depois de muito tempo, conseguimos nos separar e colocar tudo o que precisava ser posto para fora. Falamos sobre tudo e de todos e então finalmente falamos de nós.
“Eu gosto de você e não vou negar. Mas e se nossa amizade acabar caso esse nosso lance acabe também?” Falei e quando pensei mais um pouco conclui. “Não quero que termine, mas e se terminar?”
“Vamos deixar o ‘e se’ de lado e aproveitar enquanto estamos juntos? Aliás, Amanda. Você quer namorar comigo?” Ele perguntou ao jogar sua franja para o lado e exibir aquelas covinhas que eu... Agora eu podia morder aquelas covinhas... E foi exatamente o que eu fiz. Ele riu e perguntou se aquilo era um ‘sim’ e eu afirmei.
Eu era a crush do meu crush.
E agora, namorada dele.