Ela.

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Eu sinceramente não entendi a do Lucas ao falar aquilo para a Nath. Agora, ela estava se debulhando em lágrimas dentro do banheiro e eu do lado de fora ouvindo os soluços. "Nath, por favor, para de chorar e me escuta. O Thiago não é louco para gostar da Bianca. Ele com certeza falou que a ideia era boa sem pensar. Você é melhor que ela, amiga! Você é linda, inteligente, engraçada, animada e a Bianca não é nada ao seu lado." Falei mas ela ainda estava chorando, mais baixo, porém ainda chorando. Então falei sem pensar: "Além do mais, com certeza ele falou aquilo para me afetar e não a você..." Ela parou de chorar na hora. Abriu a porta e me olhou com uma cara de interrogação. "Te afetar como, Amanda? Quer dizer que você também gosta do Thiago?" O rosto dela foi de decepção a fúria e eu logo comecei a me explicar chorando porque toda vez em que eu entrava em desespero eu chorava. "Não amiga, não é nada disso..." Ela me cortou gritando "Sua vaca! Eu não acredito..." e começou a chorar de novo. "Amiga, eu não gosto do Thiago..." Vi que falar só isso não adiantaria e como já havíamos perdido o tempo para entrar na aula comecei a contar tudo: "Quando fomos à cantina hoje, o Lucas e eu, ele perguntou o que estava acontecendo comigo. O porquê de todas as vezes que ele chegava perto de mim com o Thiago, eu ficava calada e na minha. Ele então presumiu que eu gostava do Thiago e do nada ficou estranho. Eu fiquei com tanta raiva na hora que fiquei vermelha e sem reação e claro, ele pensou que eu estava assumindo a culpa e com vergonha. O motivo dele jogar isso na minha cara foi o que eu não entendi." Limpei as lágrimas um pouco mais calma. A Nath estava pensativa e depois de lavar o rosto respondeu: " Era mais fácil ficar calada na sua do que assumir que na verdade, é dele que você gosta!" Sorriu após falar isso. Eu simplesmente abaixei a cabeça. "Eu estou confusa, Nath. Não posso dizer que gosto dele porque é mentira, mas também não posso dizer que não sinto nada por ele porque também é mentira. Eu fiquei tão traumatizada com o Gustavo que não pensei que fosse me aproximar de alguém tão rápido. Eu não quero que as coisas mudem entre o Lucas e eu porque aprecio demais a amizade dele. Estou ganhando a confiança dos pais dele e até da Doritos. Não quero que nada mude..." Levantei o rosto de novo e vi que ela estava me olhando com um olhar de maravilhada.
"Eu sabia que você era diferente desde o momento em que te vi, Manda. Eu nunca tive amigas meninas porque não suportava os dramas, mas agora, depois desse seu discurso eu sei que você é exatamente igual a mim. Tirando a parte do drama com ex-namorados - até porque eu nunca namorei - eu sinto a mesma coisa em relação ao Thiago. Eu não quero que nada mude entre nós dois então simplesmente finjo que não sinto. Não estou confusa em relação aos meus sentimentos por ele, mas não sei se devo contar. Já você com o Lucas, é recente a amizade de vocês. Realmente não dá para saber se você gosta dele. Desculpa por duvidar de você, amiga. Sinto-me envergonhada!" Eu já estava chorando novamente. Nos abraçamos e rimos sozinhas. "Nenhum menino vai ficar entre nós duas, promete?" Ela perguntou esticando o dedo mindinho para que eu o segurasse com o meu mindinho. "Eu prometo, amiga!"
"Vamos que o sinal já vai bater!" ela falou me carregando pelas mãos através dos corredores gigantes da escola. Assim que o sinal bateu, a professora de física saiu da sala e a gente se escondeu para que ela não percebesse que matamos aula, portanto, assim que ela passou entramos correndo na sala e nos sentamos. Percebi os olhares de nossos amigos presos em nossas nucas e a Nath também percebeu. Ela começou a ficar nervosa e se revirar na cadeira porque odiava que a vissem chorando ou com a cara vermelha e inchada depois de chorar, então simplesmente virei para ela e cochichei "Vamos causar polêmicas na casa do Lucas hoje!" Ela riu e eu também, então me virei para frente para prestar atenção na aula de química.
A aula custou a acabar e eu estava ficando agoniada. Por mais que eu ame química, estava louca para sair logo daquela sala. Então quando finalmente a aula acabou, fingimos estar tudo bem e nos juntamos aos nossos amigos.
Lucas aproveitou o distanciamento das meninas e do Thiago e nos parou dizendo: "Me desculpe, Nath. Eu não tinha o direito de falar nada. Eu te conheço desde pequena e sei perfeitamente como você é. Não era minha intenção te deixar chateada, na verdade, eu nem sei porque falei aquilo. Me perdoa?" Ele falou exibindo um sorriso sincero. Um sorriso que mostrava aquelas covinhas que eu tinha vontade de roubar para mim.
"Tudo bem, Luck. Da próxima, eu arranco seus olhos!" Ela falou abrançando-o e se afastou. Lucas se virou então para mim e disse: "Desculpa por insinuar qualquer coisa hoje no intervalo..." Me pareceu que ele queria falar mais alguma coisa mas então ele só sorriu e abriu os braços continuando: "Então, me perdoa?" Eu sorri e o abracei. E pela primeira vez eu sabia aonde era o meu lugar.
Afastei-me dele porque aquele abraço estava durando mais do que o necessário. Sorri e disse que estava tudo bem e que não era para ele tirar conclusões precipitadas de nada antes de me perguntar. Ele pareceu satisfeito, não sei o porquê, mas não liguei.
Fomos andando para casa como todos os dias, e como todos os dias ele me deixou na portaria do meu prédio. Dei um sorriso e ele me respondeu com um aceno de cabeça, assim como todos os dias...
Subi pelo elevador até o 12° andar que era o meu. Fui em direção a porta de entrada e a abri. Estranho, estava destrancada... Foi então que vi uma coisa não muito agradável: Minha mãe beijando um cara no nosso sofá. Não que ela seja proibida de fazer isso, mas, ela era minha mãe e não uma adolescente que fica com uns meninos e depois finge que nada aconteceu.
Estava paralisada olhando aquela cena, até que o armário que estava beijando a minha mãe percebeu que tinha mais alguém na sala... Eu.
"Ah, oi filha. Você já voltou..." Minha mãe se levantou rápido enquanto o armário continuou lá, sentado no sofá com cara de tacho.
"Sim, estou aqui. Não sabia que iríamos receber visita." Falei apontando para o armário. Ele devia ter pelo menos uns 2m de altura. Ok, tenho que assumir. O cara era um gato. Negro dos olhos cor de mel e um black power muito irado. Estava com camisa social, calça social e sapatênis. Mesmo com aquela camisa vi que ele era usuário de academia. Não era bombado, mas tinha músculos.
"Desculpa filha. Esse é o Rennan, um colega de trabalho." Minha mãe era pior que eu para disfarçar, misericórdia...
"Prazer! Amanda, não é? Ouço muito ao seu respeito. Que você é linda, inteligente, gentil, simpática... Entre outros adjetivos maravilhosos que sua mãe vive somando a sua descrição. Rennan!" Ele esticou a mão para me cumprimentar. Ao falar isso notei duas coisas: 1- Ele realmente trabalhava com a minha mãe porque estava falando como jornalista, muito cheio de palavras para impressionar e 2- Minha mãe tinha muito bom gosto!
"Prazer, Rennan. Pena que não posso dizer o mesmo, pois nunca ouvi falar de você" Encarei a minha mãe. "Portanto, não se acanhe, você já me passou uma ótima impressão. Não precisa daqui por diante tentar ganhar minha simpatia, você já a tem!" Falei exibindo meu mais simpático sorriso. Ele pareceu meio desconfortável com a minha fala, mas essa foi a intenção. Eu também sei falar bonito de vez em quando.
"Filha, já estávamos de saída. Mais tarde conversamos! Tome cuidado!" Ela falou dando um beijo na minha testa e vi que a intenção dela era arrastar o Rennan apartamento a fora. "Mais uma vez prazer, Amanda." Disse ele também se esforçando para parecer simpático. "Tchau para vocês!" Falei quase batendo a porta depois que eles saíram.
Então quer dizer que até a minha mãe tinha um "peguete" e eu não...
Minha mãe me teve muito nova, mais precisamente com 14 anos e meu pai tinha 22 anos. Eu sei, é bizarro mas acho que naquela época não tinha essa coisa de pedofilia, eu acho... Não que ela se arrependa de ter uma filha, mas eu a entendo. Ela não teve adolescência e ainda mais teve que se virar sozinha porque o canalha do Carlos Nunes que se diz meu pai, deixou-a sozinha com 14 anos e com um bebê.
As vezes eu acho que trouxa foi ela que com 14 anos foi namorar um cara de 22. Aonde ela achava que aquilo seria um relacionamento saudável e bobinho? E as vezes eu acho que ela tinha plena certeza do que estava se metendo.
Com 31 anos, bonita, com carreira, casa, carro e com chaveirinho(eu), ela estava mais que certa: Curtir a vida dela de solteira, porém, eu não estava preparada para que isso acontecesse agora.

Amor Por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora