sétimo capítulo

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Já passava das cinco da tarde e o melhor do horário de verão era que ainda estava claro, minha mãe ainda não havia chegado e a senhorita Liza não quis me dizer o motivo ,me disse apenas que nem minha mãe e nem o meu pai voltaria pra casa naquela noite.
Ouvia novamente as crianças brincarem na rua enquanto olhava o céu e as pipas que dançavam livremente no ar.
Ouvi uma voz que veio de algum lugar encima do muro e disse um simples oi, me virei tentando localizar da onde vinha aquela voz e logo avistei um menino franzino que se apoiava no muro. Virei minha cadeira e a coloquei de frente para o muro , o menino se apoiou nos galhos das árvores e pulou a poucos centímetros da onde eu estava. Ele se aproximou devagar e deslizou as mãos pelo braço da minha cadeira de rodas e eu apenas o acompanhava com o olhar. Ele era negro e as roupas estavam sujas de terra , estava descalço e aparentava ter a mesma idade que eu.

Você não pode andar? Ele me perguntou olhando para minhas pernas inertes na cadeira.

- Não , eu não posso.

-Você não sente dor nas pernas?

Ele estava muito curioso e não disfarçava a curiosidade como a maioria das pessoas , e independente de tê-lo conhecido a poucos minutos me sentia confortável com ele.

Não. Respondi balançando a cabeça.

Ele me fez várias perguntas e eu mal acabava de responder uma e ele já fazia outra mas pra mim estava tudo bem.
Kevin ,esse era seu nome mas todos os chamavam Baby , ele morava em uma casa bem hulmilde na rua de baixo junto com seus pais e seus dois irmão.
Ficamos conversando ali por algum tempo e a senhorita Liza ficou de longe sem querer incomodar ou talvez apenas não quisesse intimidar meu novo amigo.
Já estava anoitecendo e Baby disse que precisava ir mas que amanhã voltaria se eu quisesse.
Na verdade eu queria muito que ele voltasse e ao contrário do meu primo Lucas ele parecia ser bem legal, mas minha maior preocupação era minha mãe, provavelmente amanhã ela já voltaria pra casa e com certeza não deixaria que Baby viesse brincar comigo , ela viria de novo com aquele discurso dizendo que eu iria acabar me machucando se brincasse com outras crianças que não fosse como eu.
Me despedi do meu novo amigo enquanto a senhorita Liza abria o portão para que ele saísse , depois que ele saio a senhorita Liza se ajoelhou na minha frente e já entendendo minha tristeza disse olhando no meus olhos:

Stive ...hoje você fez um novo amigo e isso ninguém poderá tirar de você...mesmo que sua mãe impeça dele vir aqui ,eu te prometo que você voltará a vê-lo nem que pra isso eu tenha que levar você lá.

Depois dessas palavras voltei a sorrir e por mais que fosse difícil acreditar no que acabei de ouvir preferi não estragar aquela noite com preocupações futuras, afinal de contas aquele dia foi o melhor dia da minha vida e não merecia que terminasse com tristeza.











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