Décimo capitulo

79 5 7
                                    

Sempre que eu saia de casa era comum ver as pessoas me olhando parecendo sentir pena de mim , e de certa forma eu já nem me importava , quando a senhorita Liza passou a tomar conta de mim , saímos quase todos o finais de semana, então já tinha me acostumado com os olhares e os sorrisinhos de pena. Na verdade eu não conseguia entender.
Na maior parte do tempo eu não me sentia diferente das outras pessoas, mas quando começava a me sentir menor do que elas, a senhorita Liza me fazia enxergar tudo de uma diferente.
Para que eu não me sentisse tão preso, a senhorita Liza mandou fazer uma rampa no portão de casa , e de vez em quando eu saia sozinho no portão, e ficava na calçada observando o movimento de carros e de pessoas que iam e vinham sabe-se lá pra aonde, e muitas vezes por mais que tivesse desistido de esperar por minha mãe , encontrava certa semelhança em algumas pessoas que passavam na rua , as vezes no jeito de andar , ou na cor do cabelo , as vezes ate o som da voz de algumas mulheres, fazia meu coração palpitar ao confundir com o som da voz dela. No começo ate achei que estava enlouquecendo, mas isso foi acontecendo cada vez menos ,receio estar esquecendo de como ela era.

Depois da carta que a senhorita Liza recebeu, nunca mais falamos sobre meus pais, falávamos sobre tudo que se possa imaginar mas nunca sobre eles. Eu era só uma crianças mas já entendia o que tinha acontecido, e eu não os culpava por isso, eu nunca quis ser um fardo pra ninguém ,mas as vezes isso parecia inevitável.

Quando chegou meu aniversario de nove anos a senhorita Liza preparou uma grande festa com todos os doces e salgados que eu gostava , e todos os meus amigos estavam lá, enfeitamos a casa com bexigas de varias cores e algumas faixas tambem. De todos os presentes que ganhei naquele dia, a principio o que eu mais gostei foi um macacão de piloto que o Leandro me deu , era igual o que usei no kartódromo , mas quando a festa acabou o pai do Leandro insistiu que fossemos no kartódromo mesmo já sendo tarde. Já passava das oito da noite quando chegamos no lá.
Mesmo sem ter ninguém as luzes estavam acesas , e quando descemos até pista de corrida, estava a minha espera um kart preto e vermelho diferente dos que eu já tinha visto, nesse kart os comandos do acelerador e de frenagem ficavam no volante , o pai do Leandro o adaptou especialmente pra mim. O senhor João disse que construiu o kart com peças velhas e que não era o melhor kart do mundo mas dava pra pilotar. Eu não me importei com isso , visualmente não dava pra notar a diferença. As luzes dos refletores da pista realçavam os cores do kart, rapidamente peguei o jeito e finalmente podia pilotar sozinho.
Com o tempo o pai do Leandro conseguiu arrumar mais um kart velho que estava enferrujando num canto, e agora o baby também tinha um carro. O Mateus e a Julia não gostavam muito de corrida mas as vezes iam ate o kartódromo só pra assistir.





Na Rua De BaixoOnde histórias criam vida. Descubra agora