Garoto Prodígio

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Enfiei a batata frita na boca, alheio a conversa que estava acontecendo na mesa da cozinha. Olhei em direção a sala de jantar com quase cinco anos sem uso. As coisas estavam diferentes ao ponto de nunca entrarmos naquele cômodo da casa. Suguei a coca pelo canudo acoplado ao copo plástico, provocando barulho quando não havia mais líquido algum. Tyson gesticulava enquanto falava com seu gêmeo. O rap de Eminem rolava ao fundo, as palavras sendo pronunciadas de forma tão rápida que eu não conseguia acompanhar o que era dito.

Encolhi-me quando uma batata acertou meu rosto, colocando fim aos meus minutos de distração. Pisquei duas vezes antes de perceber o que estava acontecendo.

— Porra, Tyson! – esbravejei, arremessando de volta a batata em sua direção.

— Quem é a garota? – perguntou, sorrindo para Tyler.

— Que garota? – empurrei o que sobrou da minha porção com o hambúrguer que mal toquei.

— Ouvi a Liz dizer que você sumiu na festa de sábado a noite. –tomou um longo gole de sua coca. — Queremos saber, quem é ela?

— Não sumi de lugar nenhum! – disse emburrado.

Os pares de olhos idênticos dos gêmeos me fitavam, esperando que eu dissesse algo. Após ter beijado Roger, pensei em diversos momentos contar a Tyler. Mas não tinha coragem suficiente para isso. Eu devia dividir isso com o meu irmão, dividia muitas coisas com ele.

Chutei a cadeira e levantei, saindo da cozinha mórbida.

Wow! Para quê o estresse, caçula? – Tyson levantou em seguida. Tyler disse algo, mas ele ignorou. — Não seja um viadinho.

Subi as escadas de dois em dois degraus e fechei a porta do quarto antes de pular de costas em minha cama. Coloquei os fones de ouvido para escutar algumas bandas indie. Meus minutos sozinho não duraram muito. Instantes depois, Tyler entrou no meu quarto, sem se preocupar em bater na porta. Ele deitou ao meu lado na cama e puxou um dos lados do fone para que ele pudesse ouvir também.

— Tenho algo para te contar. – disse, olhando para o teto branco, com as paredes descascadas.

— Também preciso te contar algo. – cruzou os braços atrás da cabeça e a apoiou.

Houve alguns minutos de silêncio enquanto escutávamos os acordes de guitarra de "Dirty Diana".

— Conheci uma garota. – Tyler virou o rosto em minha direção. — Mindy Oliver.

— A irmã do Bob? – perguntei surpreso. Meu irmão concordou com o aceno de cabeça. — Está tentando descolar algum baseado de graça?

Nós dois rimos.

— Eu gosto dela. – ele voltou a encarar o teto. — Mindy é diferente das outras garotas. Ela nem me dá bola. Não precisa ser vulgar para chamar atenção, basta ela sorrir e todos estão de quatro aos seus pés.

— Uau! Você está apaixonado mesmo. – cutuquei sua costela. — Quando é que você vai apresentar ela pra gente?

— Não quero que ela veja isso. – ele suspirou. Tyler não suspirava para garota nenhuma. — Essa vida que levamos.

— Tarde demais para querer esconder isso.

— E você? – ele sentou na cama. — O que tem para me contar?

Comecei a procurar pelas palavras certas, mas não sabia exatamente como expressar. Então resolvi que a melhor maneira era falar antes que a coragem fosse embora.

— Roger Grover me beijou. – disse, desviando os olhos para um ponto qualquer no quarto.

O quê?! – Tyler gritou. — Aquele desgraçado se aproveitou de você?

No Limite do DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora