Capítulo 7 - Verdade

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Dez minutos contados se passaram, Tsunade me fitava com seus olhos caramelados cautelosos. Ela não tinha como escapar, ela não tinha como negar, não desta vez, pois eu havia descoberto o seu segredinho obscuro.

Eu me sentia petrificada, atônita, meus pés pareciam que estavam colados no chão. Aquelas coisas bizarras que tinha naquele porão havia me pegado extremamente desprevenida. O que diabos ela fazia com aquelas coisas? Aquilo parecia um antro de bruxaria, ou algo parecido.

— E então - depois de alguns segundos eu forcei a minha voz, ela saiu rouca, quebrando o silêncio enlouquecedor que havia se apossado entre a gente -, não vai me explicar o que é tudo isso, vovó? - A última palavra havia saído meio sarcástica.

Ela novamente franziu o cenho, mas eu via o brilho cauteloso em seu olhar. Ela sabia que não tinha como negar mais nada, e que desta vez eu não iria aceitar desculpas esfarrapadas ou meias verdades. Eu tinha deixado muitas coisas de lado, eu havia fingido que nada estava acontecendo, pois era o contrário, pois acontecia algo, e bem debaixo do meu nariz.

Como eu pude ser tão estúpida e tola por não ter percebido antes? Geralmente eu adorava me escorar em minha zona de conforto. Não gostava de me preocupar atoa, evitava o máximo de conflitos e desavenças, aquilo tudo não passava de estresse para os nervos. E agora eu estava aqui, quebrando todos os meus protocolos de como viver uma vida despreocupadamente. Eu havia fuçado e xeretado coisas que não eram da minha conta e descoberto coisas que também não eram da minha conta, e que agora passaram a ser.

Minha avó que eu conhecia desde que eu me entendia por gente, tinha uma vida obscura. Eu nunca em toda a minha vida imaginaria aquelas coisas que eu estou vendo agora.

— Não pensei que a situação chegaria a esse ponto. - Tsunade falou baixinho, fechando os olhos e soltando um breve suspiro cansado.

— A senhora quer dizer o ponto que eu descobri que tem um porão bizarro debaixo do seu escritório? - Alfinetei. Ela abriu os olhos, me fitando. Continuei: - Eu realmente estou surpresa com isso tudo. Isso só consta que eu realmente não conhecia a minha própria avó.

— Olha o tom que você está falando comigo, garota! - Sua voz saiu ríspida e repreendedora.

— A senhora não está no direito de exigir nada! - Rebati, minha voz aumentada dois décimos enquanto dava a volta na mesa, ficando a sua frente.

Suas pupilas dilataram.

— Mas eu sou a sua avó e você me deve respeito.

Calei-me, engolindo a resposta malcriada que estava na ponta da minha língua. Tsunade soltou a respiração pesada, se recompondo, se acalmando.

— Sakura, escute - me fitou -, eu explicarei tudo, apenas fique calma e vamos lá para cima.

Hesitei por um momento, e até pensei em dizer não, ser um pouco mais rebelde, mas eu não era assim. Sempre fui o tipo de garota certinha que seguia as regras, e rebeldia nunca foi a minha praia.

Eu ainda a olhava, tentando captar qualquer movimento de diferente da parte dela, e resolvi ceder a seu pedido e assenti com a cabeça. Estava pronta para ouvir o que ela tinha para falar e acabar de vez com todo esse mistério horroroso que ela havia provocado.

Segui Tsunade, que andava a minha frente, subindo as escadas. Assim quando coloquei os dois pés no escritório, deixando o porão, Tsunade fechou a porta rasteira, fazendo o som do baque de madeira batendo na outra, aquele mesmo barulho que escutei no dia quando a chamei em seu escritório. Agora eu sabia aonde ela estava naquele dia.

Fiquei olhando-a ajeitar o tapete por cima da porta, como se nada tivesse ali. Ela voltou seu corpo para mim, seus olhos sérios, sua boca numa linha reta, fez um movimento com a mão para fora do escritório enquanto caminhava novamente a minha frente. Apenas a segui, minha cabeça trabalhando em mil perguntas e dúvidas que eu tiraria dela.

Lua de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora