Ian
Quero Marina mais do que tudo nesta vida, mas não quero forçá-la a nada. Quero que ela me queira, assim como eu a quero.
Ontem, quando a vi com minhas roupas, ela estava tão sedutora e linda. Minha vontade era tê-la em meus braços, beijar aquela boca que um dia foi minha. Infelizmente, um dia. Mas iria com calma. Não queria sufocar Marina.
Miguel e Marina ainda estavam dormindo. Como acordei primeiro, fiquei velando o sono deles. Miguel estava abraçando um travesseiro e com a boca aberta. Comecei a sorrir. Marina sempre dormia com a boca aberta, mas se eu falasse isso, ela ficava brava. Ela não admitia que dormia com a boca aberta.
Era bom ter Miguel e Marina em minha casa. Era uma sensação maravilhosa. Ter eles sob meu teto e poder proteger aqueles que eu amava profundamente.
Marina estava com os cabelos soltos. Estavam uma bagunça. Eu amava quando os cabelos dela estavam daquele jeito. Levantei a coberta dela devagar e notei um pouco de nudez da cintura para baixo.
Lembrei do que uma amiga me disse certa vez. Ela não acreditava no amor entre homem e mulher. Ela achava que existia apenas "investir no relacionamento". Era só arranjar um par e investir que daria certo e haveria amor. Se algum dia largassem, era só arranjar outro par e investir novamente e ainda assim haveria amor. Eu não gostava desse amor por investimento. Gostava de amor puro. Aquele que não tinha a ver com escolher o par certo. Gostava do par que o coração escolhia. Na época, quando ela me disse isso, fiquei com medo, pois essa minha amiga era muito religiosa e frequentava a igreja toda semana. Ela, mais do que ninguém, deveria acreditar no amor puro, certo?
Lembro de Marina mais nova. Nós éramos tão inocentes. Mas nosso amor era puro. Ambos tínhamos uma vida feliz, até eu estragar tudo.
Arrumei a coberta novamente e me levantei. Fui ao banheiro tomar um banho e depois fui para a cozinha. Preparei um lanche. Fiz cinco sanduíches e um suco de laranja que Marina amava.
Depois de tudo pronto, comecei a comer e Marina apareceu ainda com a minha blusa e parecia meio grogue, sorrindo ao me ver.
-- Bom dia, Ian. -- ela disse, se sentando.
-- Bom dia, Marina. -- respondi, tomando um gole de suco.
-- Está tudo tão cheiroso. -- ela disse, fechando os olhos e suspirando.
Depois, pegou um sanduíche que estava em um prato e colocou suco no copo. Comemos em silêncio, e eu não conseguia tirar os olhos de Marina. Ela era tão linda, ainda mais assim, despreocupada e com fome.
Marina sabe o quanto minha vida teve complicações morando de casa em casa com alguns parentes. Mas, depois que ela foi embora, fiz amizade com uma senhora tão boa chamada Flaviane. Passei a considerar ela como minha mãe. Sei que já estou grande para isso, mas sou humano e preciso de amor.
Pensei em contar para Marina sobre isso, mas não sabia se era o momento certo.
-- Marina, você acha que já estou velho para ter uma mãe? -- indaguei curioso.
-- Claro que não, Ian. Minha mãe o considera como um filho. -- ela respondeu, pensativa.
-- Eu sei. Ela também é muito importante para mim. -- disse, sorrindo.
-- Mas qual é o motivo da pergunta? -- agora ela estava curiosa.
-- Conheci uma senhora e me apeguei muito a ela. -- falei, olhando para o copo que estava segurando.
-- Isso é muito bom. Mas por que você parece triste com isso? -- ela perguntou, preocupada.
-- Ela demonstra tanto carinho comigo. Ela me mudou tanto depois que você se foi. Não sei o que teria sido de mim sem ela. Você foi meu alicerce e depois ela passou a ser.
-- Ian, eu sinceramente me sinto feliz com tudo isso. Mas por que você está triste? O que aconteceu com essa mulher? -- Marina sempre se preocupava com tudo.
-- Ela está doente. O médico disse que ela tem somente um mês. Mas eu sinto que é menos. Acho que ela tem só uma semana de vida. -- falei, evitando olhar para Marina.
-- Ian, por que não me disse isso antes? -- levantei o olhar e percebi que ela estava segurando para não chorar.
Minha Marina também tinha mudado tanto. Às vezes ela parecia tão forte. Em outros momentos, ela era frágil, e nesses momentos eu só queria abraçar aquela mulher que me fazia tão bem.
-- Não queria te preocupar. Mas enfim, queria que você e Miguel conhecessem a Flaviane.
-- Claro, Ian. Quando Miguel acordar, nós iremos.
-- Falando nele. -- falei, olhando para Miguel que tinha acabado de aparecer segurando um travesseiro.
-- Oi, papai e mamãe. -- falou Miguel, sorrindo.
Marina o pegou e o colocou na mesa. Colocou suco em outro copo e Miguel tomou rapidamente. Pelo visto, ele também gostava de suco de laranja.
Depois do lanche, fui arrumar a bagunça e Marina foi dar banho em Miguel. Quando terminei, fui para a sala, me sentei e liguei a televisão. Estava passando um desenho. Ia mudar quando vi Miguel parecendo interessado. Mudei de opinião. Ele sentou ao meu lado e ficamos assistindo.
Marina apareceu depois de alguns minutos. Ela vestia uma calça jeans preta e uma blusa de manga longa vermelha. E ela estava cheirando o meu perfume.
Miguel e eu nos levantamos. Entramos no meu carro e fomos para o nosso destino. A casa da Flaviane era um pouco longe e, após uns quinze minutos, chegamos. Miguel achou algumas vacas e ficou muito feliz.
Descemos do carro e nos aproximamos da casa. Bati na porta. Escutei pés sendo arrastados do lado de dentro e logo a porta foi aberta.
-- Sabia que estaria aqui. -- falei, dando um abraço forte na Flaviane.
-- Não ficaria naquele hospital nos últimos dias de vida. Aquele lugar tem muita tristeza. -- ela disse, sorrindo.
-- Essa é Marina, a mulher que amo, e esse é o nosso filho. -- me virei e Marina estava com um sorriso tão lindo que quase a beijei.
Marina se aproximou e abraçou Flaviane. E Miguel também a abraçou. Flaviane pediu para todos entrarem e nos sentamos no sofá da sala.
-- Fico muito feliz em te conhecer, Flaviane. -- Marina disse com carinho.
-- Eu também, Marina. Ian fala muito em você. -- Flaviane disse, sorrindo, e depois emendou -- Não sabia que você tinha filho, Ian.
-- Fiquei sabendo há pouco tempo. -- falei, olhando para Miguel.
-- Ian é meu papai e me deu um carro fera. -- falou Miguel, e começamos a rir.
-- O que está achando de ter um papai, Miguel? -- perguntou Flaviane.
-- Era meu sonho ver meu papai. -- Miguel veio até mim e me abraçou. Não sabia que o coração de um homem se comovia tanto quando tinha filhos.
Flaviane e Miguel ficaram conversando e percebi que Marina estava distraída olhando pela casa. A casa de Flaviane era simples. Tinha três quartos, dois banheiros, sala e cozinha. Mesmo ela sendo sozinha, a casa era muito bem cuidada.
Ficamos duas horas com Flaviane. Ela parecia tão feliz. E eu só imaginava ela indo embora e me deixando. Mas pelo menos ela teve uma vida boa. Ela já tinha cinquenta e oito anos e tinha perdido o marido e dois filhos. Ela era para mim um exemplo de superação. Não parecia que carregava tanta dor na bagagem.
Fomos embora e, quando chegamos em casa, a primeira coisa que Marina fez foi me beijar. Fiquei assustado pela sua audácia, mas não perdi tempo em corresponder.
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Além do amor
RomanceO que você faria pelos homens da sua vida? Marina foi para São Paulo em busca de uma vida melhor. Só que levou junto um grande segredo. E após alguns anos resolve voltar para sua cidade natal e enfrentar seu passado. Só não imagina que o amor que ta...