Capítulo XV

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Ian

Saber que minha mãe estava de volta trouxe todas as lembranças ruins da minha infância. Ela nunca me amou. Engraçado que existem tantas mães boas, que amam seus filhos incondicionalmente, e eu nem para ter uma dessas.

Nunca recebi um "Parabéns" ou um "eu te amo" da minha mãe. Ela me colocava para sair pedindo esmola na rua e mentir dizendo que não tinha mãe. As pessoas têm tanta bondade no coração, por que só minha mãe não? Eu ganhava muito dinheiro pedindo esmola, mas pena que não via nada disso, tudo ia para minha mãe. Ela gastava comprando roupas novas e cigarros. Ela vivia na prostituição. Eu odiava quando meus colegas de escola zombavam de mim por causa do que minha mãe fazia. E doía quando as pessoas se afastavam de mim e não queriam ser minhas amigas. Sofria uma grande discriminação.

Já vi de tudo nessa vida, e não me alegro. Tenho raiva de lembrar. Tudo culpa da minha mãe. Tinha dias que ela sumia e me deixava sozinho, e, mesmo sendo criança, eu tinha que cuidar de mim.

Aos dez anos, mudei de casa e, desde então, não tinha mais destino certo. Sempre em algum lugar diferente.

E quando me lembro de Marina, sinto tanta alegria. Ela me faz muito bem, e agora tem o Miguel, meu filho. Não quero que ele passe pelo que passei. Quero que ele saiba o que é brincar, correr, conhecer novos lugares sem se preocupar com nada.

Como conhecia minha mãe, sabia que ela queria algo. Ela pegou Miguel, mas por que o devolveu? Isso não era comum dela, provavelmente ela iria nos fazer chantagem para conseguir dinheiro.

Precisava viajar. Acho que Mari vai gostar. Fui até o quarto, e ela estava só de toalha, enquanto Miguel dormia. Marina estava penteando o cabelo, e eu até esqueci o que queria. Ela se virou e me viu.

— O que foi, Ian? — ela indagou, me analisando.

— Vamos viajar? — perguntei.

— Para onde?

— Pensei em Porto Alegre.

— Ótima ideia, Ian. Precisamos relaxar. — Foi simples o que Mari disse, mas percebi que ela sabia meus motivos para querer viajar.

Saí para comprar as passagens. Quanto antes fôssemos, melhor seria. Depois de comprá-las, parei em uma loja simples e comprei um trator de brinquedo para o Miguel. Sabia que ele iria gostar. Fui a outra loja e comprei trajes de banho.

Voltei para casa, e Marina estava assistindo à televisão, chorando.

— Que filme está assistindo? — perguntei, segurando para não rir.

Ela me lançou um olhar que dizia "cale a boca". Como sou esperto, me afastei. Fui para o quarto e comecei a arrumar minha bagagem.

— Já vamos? — perguntou Marina.

Me virei, e seus olhos ainda estavam vermelhos das lágrimas. Tentei não reparar.

— Comprei passagens para irmos amanhã cedo.

— Tá bom.

Ela pegou uma mala grande do guarda-roupa e começou a separar o que precisava.

Após uma hora, tudo estava pronto. Miguel acordou e ficou muito feliz por poder viajar. E quando viu o trator, nem preciso dizer que ele quase fez uma festa.

Amava quando fazia meu filho sorrir. Era uma sensação muito boa.

Anoiteceu, e fomos todos jantar no restaurante "Doce Cheiro". A garçonete se aproximou, e sua roupa tinha um decote escandaloso. Fiquei sem graça.

— Pois não, senhor? — a garçonete perguntou. Ela estava muito próxima.

— Dá para se afastar do meu noivo? — Marina indagou, e parecia furiosa.

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