Meus pais saíram com Miguel, foram para o shopping, então eu estava sozinha em casa. Achei bom ter um tempo só para mim e meus pensamentos.Eu estava deitada na cama do meu antigo quarto, olhando o teto branco. Uma coisa que não saía da minha cabeça era o almoço de sábado. Eu não conseguia acreditar que minha mãe tinha convidado Ian. Parecia que ele tinha se tornado mesmo um filho para ela.
No começo do meu namoro, minha mãe não gostava dele. Mas depois que ela passou a gostar, era até engraçado. Minha mãe era super protetora. E com isso, além de Ian namorar comigo, ele também acabou ganhando uma nova família. Isso me deixava feliz, pois ele merecia. A mãe dele nunca se importou com ele, e o pai morreu quando ele era criança. Ele teve que morar com parentes. Isso me chateava, não gostava dessa falta de amor. Os parentes nem se importavam com ele. Esse era um dos motivos pelos quais eu queria casar com Ian, para que ele soubesse o quão bom era ter um lar de verdade, onde você sabe que existem pessoas que te amam e dariam tudo para te ver feliz.
Demorei para perceber que meu celular estava tocando.
-- Alô.
-- Sua vaca, nem me avisou que chegou. -- Amanda e suas delicadezas.
-- E como você sabe que cheguei?
-- Sua mãe me contou. -- minha mãe estava conversando com Amanda. Isso não era nada bom.
-- E desde quando vocês são amigas?
-- Não importa. Quero que vá a um lugar para mim.
-- Amanda, você se lembra de que não estou em São Paulo?
-- Lembro sim, vaca ingrata. Dá para você escutar? Então, vou te passar o endereço por mensagem.
Esperei meus pais chegarem, peguei o carro e fui até o local. Miguel não queria desgrudar dos avós, mesmo quando eu disse que compraria sorvete para ele se ele viesse comigo. Não deu certo.
Quando cheguei ao local, não gostei. Era muito chique. Desci do carro e olhei para a casa. Era enorme, e havia quatro carros na garagem. Eu não estava gostando daquilo.
Liguei para o número que Amanda me passou. Uma voz de mulher atendeu no terceiro toque.
-- Alô?
-- Oi, eu sou a Marina e...
-- Ah, já estou indo aí.
Quem quer que fosse aquela mulher nem esperou eu terminar de falar. Apareceu uma mulher muito bonita, com olhos azuis e cabelos loiros curtos, e era mais alta do que eu. Que novidade, eu sempre quis ser mais alta.
Ela abriu o portão e me abraçou. Ops! Eu não conheço essa mulher. Não tem motivo para ela estar me abraçando.
-- Me chamo Karoline, sou prima da Amanda. Ela fala tanto de você que é como se eu já te conhecesse. Entre. -- ela abriu o portão e entrei.
Entramos na casa e eu fiquei impressionada. Que casa linda. A sala era do tamanho da minha casa em São Paulo. A TV era enorme e havia três sofás. Além disso, havia outras coisas na sala que eu não sabia o que eram. Um retrato de duas garotas abraçadas e sorrindo chamou minha atenção.
-- Quem são essas? -- perguntei, apontando para a foto.
-- Sou eu e a Amanda. -- ela respondeu tão baixinho que quase não escutei. -- Éramos muito felizes juntas.
-- Parecem se divertir muito.
-- Mari, vamos até o meu quarto. Tenho um presente para você. -- ela disse, mudando de assunto e gesticulando para que eu a seguisse.
Tudo bem, desde quando estranhos davam presentes? Eu estava começando a ficar desconfiada. Passamos por umas cinco portas. O corredor era de um azul claro e tinha alguns quadros na parede.
Paramos na sexta porta e Karoline a abriu. O quarto parecia de uma princesa. Ao lado da janela, havia uma cama enorme. O guarda-roupa era muito bonito, feito de madeira, e o quarto era decorado em um tom de lilás claro.
Karoline foi até o guarda-roupa e pegou uma mala. Meus olhos se arregalaram. Será que tinha um corpo morto dentro dela? Ou armas? Meu Deus, eu estava prestes a morrer. Quem era aquela mulher?
Percebendo meu pânico, Karoline começou a gargalhar. Que droga, o que tinha de tão engraçado?
-- Calma, Mari. Não precisa entrar em pânico. Dentro dessa mala tem roupas. -- ela disse, abrindo a mala.
Realmente, havia várias roupas ali. A mala era preta e bem grande. Roupas. Ok, o que eu queria com roupas? Nada.
-- São para você. -- explicou Karoline.
Fiquei confusa.
-- Amanda disse que você precisa de algumas roupas. E eu tenho essas guardadas. Nunca as usei. Comprei, mas depois não senti vontade de usá-las. -- ela disse como se fosse a coisa mais normal do mundo. Caramba, como havia gente doida nesse mundo.
-- E quando você comprou essas roupas? -- me sentei na cama e peguei uma blusa rosa escrito "Viva a Vida".
-- Comprei essa em Goiânia na semana passada. E essa aqui comprei em Rio Verde. -- ela pegou uma blusa verde que ia só até a metade da barriga. Como se eu fosse usar isso.
-- Você viaja muito. -- peguei uma calça preta, isso sim eu gostei.
-- Tenho que viajar mesmo. É trabalho. E não resisto em comprar algumas coisas. Olha essas roupas, são para você usar no dia a dia.
Olhei para aquelas roupas novamente. Eu não usaria aquilo dentro de casa, só para sair. Que absurdo. Todas ainda tinham etiquetas.
Bom, se aquelas roupas caras eram para ela ficar em casa, nem quero saber o que ela usava para sair.
-- Vou pegar outra mala. Você também precisa de roupas para sair e arrasar o coração daquele idiota do seu ex. Quero que ele olhe para você e veja tudo o que perdeu. Você é linda e forte.
Oh não, aquilo não estava indo bem. Eu não precisava de tudo aquilo. Não queria impressionar ninguém, apenas ser eu mesma.
Mas, bem lá no fundo, eu queria que ele visse tudo o que perdeu. Eu sei que é injusto, mas ele merecia sofrer um pouco.
Karoline trouxe outra mala, ainda maior. Ela a abriu e lá estavam vários vestidos. Sabe aqueles vestidos que você vê em lojas chiques? Aqueles que, se você comprasse, passaria fome por uns dois meses? Sim, eram todos vestidos desse estilo, que custavam uma fortuna.
-- Tem certeza disso? -- perguntei, olhando para Karoline.
-- Claro. Você está me ajudando. Menos roupas para mim, e posso comprar mais. -- ela sorriu e começou a bater palmas.
-- Olha, eu não sou daquelas que dizem "Oh, isso é muito caro, não posso aceitar". Se você está me dando, eu vou aceitar mesmo. Você está dando porque quer.
Ela começou a rir, ou melhor, gargalhar. Aquela mulher era realmente doida. Demorou uns cinco minutos para ela parar, e em seus olhos escorriam lágrimas.
-- Mari, você realmente é uma garota incrível. Gostei de você. Venha me ver mais vezes. -- ela se aproximou e me abraçou.
Qual era o problema dessas pessoas em manter distância? Calma. Era apenas um abraço. Na verdade, eu até gostei.
Peguei uma mala e Karoline pegou outra. Estavam pesadas. Fiquei feliz. Odiava comprar roupas, mas amava ganhá-las.
Colocamos a mala no carro, agradeci e fui embora.
Quando mostrei as roupas para minha mãe, ela adorou todas e insistiu para que à noite eu fosse a uma boate chamada "Uup", a mais famosa da cidade. Achei estranha aquela insistência, pois minha mãe nunca gostou que eu saísse.
Lembro que, quando eu saía, ela ficava me esperando no sofá até eu chegar, e se eu demorasse, ela ligava para saber se estava tudo bem.
Mas achei melhor ir, mesmo achando estranho. Talvez ela finalmente tivesse aceitado que eu cresci.
E como eu tinha crescido.
Obrigada a todos pela atenção. Espero que estejam gostando. Aceito críticas construtivas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além do amor
RomanceO que você faria pelos homens da sua vida? Marina foi para São Paulo em busca de uma vida melhor. Só que levou junto um grande segredo. E após alguns anos resolve voltar para sua cidade natal e enfrentar seu passado. Só não imagina que o amor que ta...