Capítulo XX

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Estamos nos recuperando do luto aos poucos. Ian parece estar melhor do que eu, o que me deixa um pouco feliz. Não queria vê-lo triste.

O tempo passou tão rápido. Miguel já está quase voltando, e estou morrendo de saudades. Ele nem parece sentir falta, tudo para ele vai muito bem, com uma diversão diferente todos os dias.

Ainda não sei o que farei da minha vida. Bem lá no fundo, quero continuar aqui, com minha família e com Ian.

As ligações anônimas pararam, mas, mesmo assim, continuo aflita. Está tudo muito tranquilo, o que não é normal.

— No que você está pensando? — pergunta Ian, curioso.

— Na vida — respondo, sorrindo.

— Amanhã o Miguel chega, o tempo passou tão rápido — diz Ian, melancólico.

— Gostei do tempo que passamos juntos — digo com sinceridade.

— Também gostei. Foi muito importante para mim estar ao lado da mulher que amo tanto — ele se aproxima, e antes que eu perceba, já estamos nos beijando.

É um beijo carinhoso e intenso. Ele se afasta um pouco e depois me abraça apertado.

Mesmo ganhando mil beijos de Ian, sempre quero mais. Nunca me canso de ver seu sorriso, de sentir seu amor por mim; é algo tão puro e real que enche meu coração de alegria.

— Quer fazer amor comigo? — pergunta Ian, esperançoso.

— Não sei se podemos — digo.

— Estamos solteiros.

Ian volta a me beijar, mas eu me afasto.

— Podemos pelo menos ir para o seu quarto? — pergunto.

— Claro, amor — diz Ian, se levantando e me puxando para o quarto.

Chegando lá, vejo o quanto Ian está ansioso. Ele me puxa para um beijo doce, suas mãos estão na minha cintura. Ele beija meu pescoço e depois volta para minha boca. Meu corpo está necessitado pelo toque do meu Ian; quero aproveitar cada detalhe.

Ele tira minha blusa, olhando nos meus olhos, e vejo o desejo refletido em seu olhar.

Ele volta a me beijar, e o contato de suas mãos na minha cintura me incendeia completamente. Meu corpo está em chamas.

— Mari, meu amor, se soubesse a saudade que eu estava de você... Eu não quero que me deixe nunca mais. Você é especial para mim.

Ele diz isso, me olhando nos olhos com tanta sinceridade que não consigo segurar as lágrimas. Ele as limpa gentilmente e depois beija meus lábios com ternura.

De repente, escutamos um barulho.

— Que barulho é esse? — pergunta Ian, curioso.

— Parece uma mulher gritando — respondo, preocupada.

Visto minha blusa rapidamente, e vamos até a origem do barulho. Na frente da casa, Karoline está gritando e parece desesperada. Meu coração congela em agonia. Corro em sua direção e a abraço. Ela parece não perceber que está sendo abraçada. Seu choro é tão desesperado que me seguro para não chorar junto.

— Foi ele! — ela grita.

Olho para Ian e o vejo empalidecer. Penso que Karoline está ficando louca e peço para que ela se acalme. Após uns cinco minutos de choro, ela parece recuperar os sentidos e encara Ian com ódio.

— Pode nos contar o que aconteceu? — Tento parecer calma, mas, na verdade, estou tão aflita quanto ela.

— Foi esse homem que matou o meu pai — disse Karoline, apontando para Ian.

Viro-me para Ian e tento passar-lhe segurança, mas ele está olhando em outra direção, perdido em seus próprios pensamentos.

— Não foi bem assim. Ian só defendeu uma criança do seu pai — digo, suspirando.

— Meu pai nunca prejudicaria ninguém, muito menos uma criança — ela grita.

— Me desculpe, Karoline. Sei que fui culpado e assumo minha culpa — diz Ian pela primeira vez.

— Seu desgraçado! Acha que pedir desculpa vai resolver tudo?

— Acha que eu não sei que foi você quem pegou Miguel aquela vez em que ele sumiu? — Ian pergunta, com raiva.

Dessa vez, sinto meu sangue ferver. Como assim ela foi responsável pelo sumiço do meu filho? Tenho vontade de lhe dar umas boas bofetadas, mas me controlo.

— Então foi você a responsável pelas ligações anônimas? E por todo o resto? Tem noção do quanto sofremos? — Pergunto, exasperada.

— E quem era o homem que estava te ajudando? — inquiriu Ian.

— Isso não é da conta de vocês — diz Karoline.

— Caramba, Karoline! Confiei em você por ser prima da minha melhor amiga e você faz isso comigo? Tem noção do quanto amo meu filho? Ele não tem nada a ver com as minhas ou as atitudes de Ian, ele é uma criança — digo, com raiva.

— Eu me arrependi do que fiz. Ele é muito doce... E achou que eu fosse sua vovó — diz Karoline com doçura, me deixando confusa.

— Ele é um doce mesmo — digo, sorrindo.

— Melhor irmos embora — diz Ian, me puxando.

— Me desculpem — diz Karoline.

Aceno com a cabeça e entro em casa. Ainda estou desnorteada com tudo que acabou de acontecer, e sinto pena de Karoline. Mesmo o pai sendo um crápula, ela não merecia sofrer.

Ian se aproxima e me abraça. Sinto o seu sofrimento, e ficamos em silêncio por uns dez minutos. Pego sua mão e o levo até o sofá. Ele ainda parece perdido em pensamentos.

Deve ser muito doloroso tirar uma vida. Não consigo nem matar um pássaro, imagine uma pessoa. Acho que, assim como Ian, eu teria muitos pesadelos.

— Quer conversar? — Pergunto a Ian.

Ele continua em silêncio. Levanto-me, vou até a cozinha, pego um copo de água e entrego para Ian. Ele bebe devagar.

Ainda bem que Miguel está chegando. Assim, Ian não terá tempo para a tristeza, já que nosso filho é a nossa maior alegria na vida.

— Não precisava ter admitido culpa, sabe que não foi bem assim — falo baixinho.

— Já causei muito sofrimento, e prefiro que ela pense que eu não presto — ele diz, melancólico.

— Como assim? — Pergunto, confusa.

— Mesmo ele sendo uma má pessoa, ele amava sua família. E quero que sua filha continue tendo boas lembranças e não descubra quem o pai realmente era. É muito ruim quando você acha que conhece uma pessoa e, de repente, descobre que viveu uma mentira.

— Caraca, é por esses motivos que te amo.

Aproximo-me de Ian, levanto seu rosto e o beijo apaixonadamente. Sou louca por esse homem, pena que vivemos tantos anos afastados.

Ele me puxa para seu colo e me beija devagar e com carinho, passa as mãos nos meus cabelos e depois as coloca na minha cintura. Depois, beija meu pescoço e encosta sua cabeça no meu ombro.

— Acho melhor irmos descansar um pouco — digo, e ele apenas concorda com a cabeça.

Às vezes, precisamos superar o passado para que possamos aproveitar ao máximo o presente e ter um bom futuro. E é isso que quero ensinar para Ian. Talvez assim ele consiga ter uma consciência mais tranquila.

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