Capítulo VIII

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"Voe livre, sem olhar para trás."

Ian arregalou os olhos de uma maneira que quase me fez sair correndo. Vi que ele estava tentando se controlar e que milhares de perguntas estavam se formando em sua cabeça.

-- Co... Como assim, Mari? -- ele indagou perturbado.

-- Isso mesmo que você ouviu, Ian. Tenho um filho. Ou melhor, temos um filho.

-- Mari, já tem quatro anos que não te vejo e... Não tem como. Simplesmente não há nenhuma possibilidade.

Argh. Isso o deixou mais perturbado do que imaginei.

-- Então deixa eu te explicar, Ian. -- pausei, olhando aqueles olhos que um dia amei. Ou ainda amava. Bom, isso não me importa. Respirei fundo e continuei. -- Depois que você me trocou por aquela vagabunda que dizia ser sua prima, eu parei de tomar anticoncepcional. Achava que minha vida não tinha mais sentido. Você sabe que, quando amo, amo de verdade. Não conseguia comer, por mais que tentasse. Virei uma morta-viva. E depois de dois meses, você apareceu dizendo que me amava e eu acreditei. Fizemos amor e depois você sumiu de novo. E tcharam, adivinha o que aconteceu? -- parei para tomar fôlego. -- Eu engravidei, Ian.

-- Caramba, Mari, tinha que ter me avisado. -- ele passou a mão no cabelo.

-- Estou te falando agora. -- falei, um pouco ríspida demais.

-- Mari, meu amor, se soubesse o quanto me arrependo. De como me sinto horrível por ter feito você sofrer. O que posso fazer para reparar esse dano?

-- Sabe o que aconteceu quando te dei mais uma chance? Eu engravidei. E não, não estou afim disso novamente. Já sofri o suficiente para uma única vida. -- não percebi que estava chorando até ele passar o dedo e limpar minhas lágrimas.

-- Um filho. Nosso filho. E onde ele está? -- ele estava sorrindo. Que vontade de quebrar aquele nariz.

-- Está lá em casa. -- olhei para meus dedos. Eu tinha essa mania estúpida de encarar meus dedos quando me sentia desconfortável.

-- E eu não vi nosso filho. -- ele não parava de sorrir. Que irritante.

-- Ele é lindo. -- agora eu que estava sorrindo.

-- Mari, por que não me disse antes? Teve que enfrentar tudo isso sozinha? -- ele parecia tão preocupado.

-- Meus amigos me ajudaram.

-- Amigos? -- ele me fitou, não parecendo gostar do que eu disse. Bom, eu até gostava quando ele demonstrava que se importava um pouco comigo.

-- Sim, Ian. Eles me ajudaram. -- falei, lembrando da minha casa em São Paulo. Já estava começando a sentir falta, e olha que cheguei há poucos dias!

-- Tá tudo bem. Mas agora eu vou te ajudar. Eu sou o pai. O pai. Quero ser um pai melhor do que o meu foi. Quero que ele saiba que o amo e estarei com ele, sempre. Quero que ele tenha o melhor. Nossa, como estou feliz! Tem alguma foto para me mostrar?

Abri minha bolsa e procurei meu celular. Mostrei a primeira foto que achei. Miguel estava segurando um carrinho vermelho maior que ele e tinha um sorriso lindo no rosto.

Ian olhou e parecia impressionado.

-- Mari, ele se parece tanto comigo! -- esse sorriso no rosto dele não parava de me irritar.

-- É. -- e como eu sabia, completei para mim mesma.

-- Bom, Mari, eu sei que você não me quer. Você está certa. Sinto muito pelo que fiz. Eu achava que não te amava mais, então resolvi terminar. Eu estava confuso. E logo percebi que tinha cometido a pior burrice do mundo em te deixar. Fui atrás de você. E bom, você engravidou. -- ele sorriu. Já disse que quero quebrar o nariz dele? -- E depois me afastei, pois me senti imundo. Você não merecia alguém como eu. Você merecia mais. Alguém que não te trocasse por uma qualquer. E depois que vi que tinha errado de novo, fui atrás de você. Mas não te encontrei. Você já tinha ido embora. -- ele estava se contendo para não chorar e parecia tão sincero. Ver ele sofrendo não foi bom. Isso doeu no meu coração.

-- Eu estou confusa, Ian. Tudo bem que você errou, mas não podemos prosseguir de onde paramos. -- falei, sem graça.

-- Você não me quer, Mari? É por causa daquele homem na boate ou daquele que estava em sua casa?

Fiquei em choque. Como ele sabia da boate? E Alisson era apenas um amigo antigo. O homem da boate foi só uma noite e não rolou nada demais. E outra, até onde sabia, eu era solteira. De todo modo, era melhor tomar mais cuidado. Fiquei nervosa com o que ele disse. Quem ele achava que era?

-- Não é nada disso, Ian -- comecei a gritar. -- Eu sofri muito, você entende? Você acha que porque se arrependeu eu vou esquecer tudo o que você me fez e te perdoar? Acha que tem como apagar tudo o que passei com você? Então, eu te digo que você está redondamente enganado.

Comecei a chorar de novo. Que droga. Estava parecendo uma criança. Ian se levantou, veio até mim e me puxou para seus braços.

-- Mari, eu estou te magoando de novo. Me desculpe. Fui longe demais. -- ele disse, passando as mãos em meus cabelos. -- Você é importante para mim, e não quero outro homem com você. Sei que estou sendo egoísta, mas não me importo.

Ele pegou meu queixo delicadamente e ficou olhando em meus olhos.

-- Mari, só me deixa tentar de novo e te provar que sou um homem melhor. -- ele parecia tão sincero e vulnerável.

Balancei a cabeça concordando. Estava cansada daquela conversa. Ele me abraçou forte e ficamos assim por um bom tempo. Ele não parava de passar a mão em meu cabelo, e a outra mão estava em minha cintura.

Ele me soltou, pegou um copo de água e me entregou.

-- Tome. Talvez melhore um pouco.

Peguei e tomei um pouco. Ele não parava de me olhar com expressão preocupada. Depois saiu e voltou com um pedaço de chocolate.

-- Sei que isso te acalma.

Peguei o chocolate. Ele me puxou para a sala e nos sentamos no sofá. No chão, havia um carpete lindo que amei na hora. Era vermelho. Terminei de comer o chocolate. Ian estava concentrado, olhando o carpete. De repente, começou a sorrir.

-- Do que está rindo? -- indaguei, curiosa.

-- Estou lembrando da primeira vez que você vestiu uma roupa minha. Era uma blusa de frio preta que ia até os seus joelhos e também usava uma calça preta larga. Estava muito linda aos meus olhos. -- ele se virou, me olhando com um olhar profundo que me fez arrepiar.

Ele ficou me olhando por alguns minutos. Que minutos longos. E eu, querendo ser forte, não desviei o olhar.

-- Mari, fico feliz em ter você aqui, mas quero ver meu filho. -- ele disse, sorrindo.

-- Tudo bem. -- falei, me levantando e indo para a porta.

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