Capítulo 22

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Narração de Louise

       Acordei exausta em um quarto escuro. Todos os músculos do meu corpo ardiam freneticamente. Abri os olhos devagar, esperando não sentir tanta dor, mas aconteceu o que eu temia, uma pontada paralisou meu cérebro, eu só queria que aquilo passasse logo. A dor era grande demais. Era como se cada veia, cada nervo do meu corpo estivesse fervilhando, cozinhando no ácido. O que diabos estava acontecendo comigo? Levantei a cabeça, e uma série de náuseas se alastrou dentro de mim, querendo colocar tudo que restava de comida para fora. Decidi ficar onde estava, se me  mexer fazia aquela dor me sucumbir, eu ficaria imóvel pelo resto da vida. Tentei relembrar os últimos flashes de memória que me restavam, mas tudo estava confuso e embaralharado. Eu não conseguia criar uma imagem nítida, que desse para saber o que tinha me acontecido. Suspirei. Será que tudo não passava de um sonho? Comecei adormecer lentamente, sentindo uma brisa e um cheiro estranho que vinha daquele quarto. Era confortável, disso eu não podia reclamar, porém, onde eu estava? Não reconheci o cômodo em que me encontrava e nem me importava naquele momento. Só desejava descansar, e me livrar da dor absurda que estava sentindo.
       Comecei caminhar  por entre árvores verdes e cheias de musgos. Estava numa floresta bonita de certo modo, podia não ser tão esplêndida aos olhos de outra pessoa, mas para mim, era magnífica, de uma beleza surpreendente. Senti-me em casa, como se conhecesse cada caminho, cada entrada daquele matagal. Sorri. Mas por que sorria? Não tinha nada de feliz, eu me encontrava sozinha, num lugar onde nunca tinha ido antes. As coisas  mudaram. Vi rostos medonhos na minha frente, expressões horríveis  que fizeram meu coração saltar para fora do peito. Que terríveis eram aqueles rostos. Depois veio as vozes. Alguém murmurava de longe que a transformação estava começando e que eu não ia demorar a despertar com sede de sangue. Mas de que falavam? Sede de quê?!  As lamúrias vieram outra vez, eu queimava por dentro e por fora, cheia de uma adrenalina que invés de me ajudar, só me deixava mais demasiadamente afetada.
       - O que está acontecendo comigo? - eu falei entre os dentes - Dói demais!!!
       " Calma, vai passar " alguém sussurrou ao longe, mas quem? "Tenha paciência " disse novamente. De algum jeito, aquela voz me acalmou. Não sabia por que? Mas me tranquilizei e tive esperança que iria passar logo.
        A noite, ou dia, por que eu não tinha noção  do tempo que estava ali, demorou muito pra ir embora. Eu estava fraca e me sentia como se tivesse acabado de sair de um coma. Levantei minhas pálpebras com bastante força, estavam pesadas e meus olhos ásperos. O quarto continuava escuro e fiquei feliz por isso.
      Vasculhei minhas memórias e  tudo veio a tona de repente. Eu indo ajudar na casa de Paul, mas alguém apareceu, Angel e... e, me atacou. Lembrei do rosto dela, os olhos vermelhos vindo em minha direção, tão diferente, como uma fera, cheia de descontrole, de perigo. Recordei o grito que dei quando vi minha melhor amiga cravar os dentes afiados no meu pescoço e sugar meu sangue, mas aquilo não era... ela não podia ser o que eu estava pensando, porém eu vi perfeitamente.  Ela era uma vampira, eu sabia, só não queria  acreditar. Alguém entrou no quarto. Não pude deixar de ter medo. Era Angel. O demônio que me atacou. Não consegui conter o grito e o pavor que tomou conta de mim.
       - Sai!!! Saí daqui! Você não é minha amiga! Você... você... me atacou! Me mordeu!!! Ah meu Deus!!! Como eu tô viva? Você tentou me matar! - ela me olhava assustada, por um segundo, vi ali de novo minha amiga.
       - Por favor Louise. Eu não vou te machucar. Sou eu... Angel. Me desculpe.
       - Não! Sai de perto de mim! Você é um monstro! - Eu estava tomada pelo pânico, tentando me salvar do que seja que ela tinha virado. Pulei da cama, quase cai no chão, mas ela  segurou com precisão pelos meus  braços, os pelos se ergueram ao sentir sua pele gélida. Uma sensação estranha me tomou. Ela estava muito fria e diferente, a pele branca com papel.
       - Louise, por favor fique quieta. Eu vou te explicar tudo, mas você tem que repousar ou vai ficar ainda mais fraca.
        - Não!!! Você é um demônio! - eu gritei.
        - Por favor! - ela me olhava com expressão desesperada.
       - Eu já disse!!! Saí de perto de mim!
       Ela parecia não  saber o que fazer. Olhava-me com os olhos esbugalhados, tentando me fazer escuta-la. Eu não queria. Angel tinha colocado as mãos na nuca, como sempre fazia quando estava nervosa. Será que ela era a mesma? Quando menos esperávamos, um homem entrou no quarto. Era o rapaz mais bonito que eu tinha visto em toda a minha vida. A pele num bronzeado uniforme, a boca desenhada perfeitamente, seus músculos ficavam expostos de um jeito suave por cima da camisa branca, deixando o de uma maneira que qualquer mulher se apaixonaria à primeira vista. Meu coração disparou, fiquei de imediato envergonhada, como se ele fosse sentir meu constrangimento de longe. Tirei os olhos dele.
       - Angel? Pode deixar, eu falo com ela. - ele falou despojado e calmo, Angel assentiu triste e saiu. Ele sentou ao meu lado e sorriu, não pude deixar de olhar cada detalhe do seu rosto perfeito. - Olá, é Louise não é?
       - Sim... e quem é você?
       - Meu nome é Hector, você é amiga da Angel?
       - Era, você não sabe o que ela virou, e o que fez comigo, ela.. Me atacou, ia me matar.
       - Bom, temos muito o que conversar, - ele disse sério - o que você viu naquela noite?
       - Eu fui ajudar o pai dela, então ela abriu a porta e me... Me atacou. Ela é uma... vampira. - indaguei nervosa, ele com certeza me acharia uma louca, falando de vampiros, coisas que só existiam em filmes, mas ele apenas me olhava impiedoso, me avaliando. Me perguntei como alguém podia ser tão belo, ter um olhar tão profundo.
       - Sim, ela é mesmo uma vampira, mas não por que  quis,  ela foi transformada por um assassino cruel, que tentou matá-la e que matou a mãe dela. Já ouviu  sobre isso não é? - eu estava sem acreditar, era tudo verdade então? As histórias do homem misterioso que a salvara? Eu sempre tinha duvidado se era real e agora eu tinha certeza. Assenti tristemente, sentido um desconforto de repente - Vampiros sempre andaram no mundo.
       - Então você também é um? - ele afirmou calmo, mas que descarado - Vocês matam pessoas! Vocês destroem famílias e falam como se fosse algo normal?! Vocês não tem coração? Como ninguém nunca deu falta das pessoas que vocês assassinaram?
       - Ouça. Eu não mato humanos para me alimentar, não mais...  bebo bolsas de sangue, a Angel vai aprender a ser assim também, mas ela precisa de ajuda. Existem outros vampiros que andam por aí, esses são cruéis, amam a caçada, pra onde você acha que vão as pessoas que somem? Só aqui nos Estados Unidos desaparecem mais de duas mil pessoas por dia, vítimas deles, eu quero ajudar essas pessoas, e quero ajudar  a Angel pra que ela não se torne um monstro como eles.  A sede de um novato é insuportável. No começo não temos controle sobre nós mesmos, por isso ela te atacou, não era ela, era a parte vampira que falava mais alto, se você não ajudá-la, a culpa vai se alastrar cada vez mais nela e ela não vai aguentar. - ele parecia angustiado e estava causando um desconforto em mim 
       - Isso não é desculpa, eu nunca machucaria alguém, muito menos minha melhor amiga! - ele abaixou a cabeça, queria me dizer algo, mas o que seria? Mais um segredo obscuro e perigoso? - O que há? O que estão me escondendo? Hector... 
       - Louise, você também é uma vampira agora.
       - O quê? Você tá maluco? Eu não sou... não... diga que é uma brincadeira! Por favor diga!
       - Não é. Angel te mordeu, passou o veneno dela para você, ela ia te matar, eu cheguei a tempo de salvar sua vida, mas o veneno já estava em seu coração, não tinha como sugá-lo.
       - Eu não quero! Não quero ser uma assassina, vocês decidiram por mim, me tiraram a escolha! Ela não tinham o direito! Nem você! Suma da minha frente!!!
       - Você ainda tem uma escolha. Se não se alimentar dentro de uma semana morre, se se alimentar, vira uma de nós. Sinto muito, isso tudo é minha culpa, eu sabia que Angel não estava pronta e mesmo assim deixei ela ir sozinha pra casa do pai. Se quer culpar alguém, culpe a mim, não a ela.
         Ele virou as costas e saiu. Senti pena dele e ao mesmo tempo ódio, eu não queria ser aquilo, só desejava uma vida normal, mas eles não me deram essa oportunidade, apenas entraram em minha vida e a destruíram. Eu os odiava. Angel, Hector, todos. A raiva estava em meu corpo e eu soube que daquele momento em diante, que minha amizade com Angel estava acabada.

  
  

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora