Capítulo 5

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Narração de Sebastian

        Enquanto caminhava pelos imensos corredores daquele casarão gigantesco, rezava para que ele não tivesse notado minha ausência. Sabia que desobedecer ou ocultar algo dele era assinar sentença de morte, mas o que eu podia fazer? Ela era só uma criança. Eu não carregaria comigo um remorso tão grande, já bastava a culpa que eu levava  a tantos e tantos anos. Por outro lado, eu era muito grato a ele, e, naquele momento me senti um traidor .
        NÃO! Fiz a coisa certa! Falei para mim mesmo, quando a hipótese de contar a verdade me passou pela cabeça. As consequências não importavam , eu não  ia permitir que ele a pegasse, ela era tão indefesa e pequena. Eu não seria capaz.
       Olhei o relógio. Uma hora da manhã.  O banquete já estaria servido a muito tempo. Levei as mãos ao pescoço, estava com  sede. Comecei imaginar o líquido doce descendo pela minha garganta e revitalizado meu corpo. Que belo momento pra ficar faminto. A fome me fazia ficar nervoso, e ficar nervoso era muito prejudicial quando eu queria mentir.
       Já perto do salão em que todos estavam. Olhei janela à fora, a lua brilhava entre as nuvens que existiam no céu. A quanto tempo eu me escondia em seus escuros lençóis, privado de qualquer contato solar? Ela era a minha única luminária naquele infinito mar negro que era a eternidade.
       Ao chegar perto da entrada do salão, chequei meu cheiro, não podia ter nenhum vestígio daquela menina, existiam outros com o olfato muito aguçado, era perigoso, eu não podia arriscar que eles a sentissem. Conferi e tudo estava certo, o odor  tinha quase sumido e o pouco que sobrara, era praticamente irrespirável até para mim.
       Devagar empurrei a enorme porta de madeira que ia até o teto de tão grande. Conversas paralelas enchiam o espaço como um zumbido de abelhas, senti dor nos tímpanos, ter uma super audição, não era tão bom as vezes.
        Cerca de sessenta pessoas discutiam de forma amigável em torno de uma enorme mesa, todos com taças de Ouro nas mãos, ostentando o líquido supremo para nós, vampiros. Uma  secura tomou conta da minha boca. Caminhei até um espaço reservado para mim e sentei-me. Olhares curiosos de alguns rodearam-me e cochichos subiram no ar. Era uma falta de respeito chegar atrasado a uma reunião como aquela, e com certeza, esse era o motivo das fofocas.
       Tentei parecer tranquilo, mesmo sem estar. Era idiotice o que eu estava fazendo. Diante de tantos vampiros experientes, de centenas  de anos, tentando parecer normal. Quem eu queria enganar?
       - Está atrasado Jones. O que houve?
       Uma voz no fundo da mesa perguntou-me. Imediatamente todos os olhares se voltaram para mim, como se fosse um jogo de perguntas e respostas. 
       - Descupem-me, fui muito deselegante ao chegar atrasado, peço-lhes perdão.- respondi tentando parecer indiferente  - Você não respondeu minha pergunta. Por que se atrasou? - insistiu nosso líder, com um pouco de autoridade na voz, encarei-o nos olhos e falei:
       - Perdão Mestre, não consegui resistir a sede. Digamos que uma bela jovem apareceu em meu caminho... - tentei fazer minha voz soar o mais convincente possível - Não acontecerá novamente. 
       - Eu entendo,  mas sabe que nossas leis são muito severas, que isso não se repita. - disse ele com orgulho - A sede é algo incontrolável as vezes.
       Ele sorriu e aos poucos o salão acompanhou às  gargalhadas. Respirei de alívio. Ao meu lado, uma vampira dava um meio sorriso pelo canto da boca, me olhando com ironia. Katherine. Tinha me esquecido que poderes como ler mentes existiam bem ao meu lado. Por sorte, Katherine era minha amiga. Tomei a refeição devagar para não levantar suspeitas, mas a vontade que eu tinha era de beber o máximo de sangue que coubesse em meu estômago.
       Duas horas se passaram e as conversas já estavam ficando tediosas. Assim que todos se fartaram de tanto beber, Kian levantou sua taça e bateu  com uma colher em seu cálice. Quase que espontaneamente,  todos os vampiros se calaram, ansiosos para ouvir o que o grande líder queria dizer.
       - Caros Irmãos. Reuni-lhes aqui para comemorarmos uma grande alegria que tive hoje. Consegui realizar um desejo antigo que parecia está quase perdido para mim. - observei-o, já sabia de que desejo ele falava - Uma velha paixão. Minha amável Annie, que tanto fugiu de mim, finalmente saciou minha sede com seu saboroso sangue. E em sua memória, lhes peço um viva! - todos os vampiros levantaram-se e ergueram suas taças no ar. Eu não via o porquê de tanta felicidade, era doentio - Por isso estou de muito bom humor. E nem o atraso do Sr.Jones conseguiria me irritar hoje. - ele olhou para mim e sorriu, retribui de modo igual e as risadas retornaram.
       De repente um barulho. Uma taça caiu sobre a mesa, derramando sangue e  pingando no chão. Todos olharam procurando ver quem a  derrubara. Era Tânia. A misteriosa  vampira de longos cabelos pretos estava parada com os olhos esbugalhados. Presa num lugar distante. Onde só ela podia ver. Estava tendo um visão. Tânia tinha o poder de ver coisas futuras, coisas que aconteceriam em consequência do passado. Kian a olhou. Ela tinha um poder muito forte e era de máxima importância para ele. Ele a encarou esperando alguma satisfação, mas ela estava distante e não falou nada.
       - Todos se retirem! Menos Riice, Moly, Zack, Katherine e Jones.
        Todos sairam agitados. Temendo a visão que Tânia tivera. Assim que ficamos sozinhos, Kian disse para Katherine:
       - Leia o pensamento dela! Quero saber o que está vendo.           
     - Eu vou tentar, mas o Senhor sabe que ela consegue me bloquear as vezes. - disse ela, meio insegura. Em seguida, ela fixou seu olhar diretamente sobre Tânia. Segundos se passaram e nada  - Desculpe, mas não estou conseguindo estabelecer uma conexão. A visão é muito conturbada.
       - Tente novamente. Não quero esperar até ela despertar do transe.
       - Tudo bem.
       Ela repetiu o ato e se concentrou mais ainda. Tânia continuava com a expressão de pavor no rosto. Demostrando dor no olhar. O que estaria acontecendo?
       Katherine arregalou os olhos por um momento. Ficando com cara de dúvida. Kian perguntou:
       - O que está acontecendo?
       - Ela está vendo algo como morte, vingança. É complicado, os pensamentos dela estão confusos e difíceis de desvendar. - eu a olhei, o poder de Katherine era forte, só algo muito mais poderoso a deixaria confusa. - Espera. Ela está vendo destruição.
       - Destruição de quem? - perguntou Zack falando pela primeira vez.
       Katherine engoliu em seco. Kian perguntou ordenando:
       - De quem é essa destruição? Fale logo!
       Ela olhou para todos nós e  pairou seu olhar em kian. 
       - A sua destruição Senhor.
     

      

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora