Capítulo 2

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        Mamãe estava esbanjando contentamento. Fazia três meses que estávamos morando naquela casa, o maior tempo que já passamos em qualquer lugar. Meu pai  havia saído cedo para entregar umas encomendas e só voltaria à noite.
       A linda tarde de domingo era um convite para uma volta  no parque. Minha mãe e eu estávamos quase acabando a faxina, exaustas. A casa era pequena, mas já fazia tempo que alguém a frequentara e mesmo depois de três meses de arrumação, pinturas e  consertos de portas e janelas, ela ainda precisava de alguns reparos  para ficar completa, fora isso, estava quase boa. Por um momento,  parei em frente a janela ainda segurando a vassoura, o sol estava do jeito que eu gostava, iluminando tudo. Fiquei ali como uma estátua, apreciando aquela perfeição  de Deus, e nem dei conta que Mamãe me chamava.
       - Angel?! - ela praticamente gritou.
       - Sim, Mamãe?
       - Está bem distraída hoje não é?
       - Desculpe. Chamou-me muito? - perguntei com receio que ela tivesse percebido que eu estava pensativa demais nos últimos dias.
       - Só umas quatro vezes. - ela sorriu. - Você quer dar um passeio no parque?
       - Ahh... não... Eu sei que você não gosta de sair. - mesmo  tentando, não consegui esconder a vontade, eu amava levar sol e já fazia tanto tempo que eu passeara que nem me lembrava mais da sensação.
       - Hoje nós podemos sair um pouco - ela disse cessando meus pensamentos - Se você quiser, é claro.
       - Sério?!
       - Sim.
       - Que legal mamãe! Quando vamos? Agora? 
       - Calma amor. Vá tomar banho e se arrume. Daqui a pouco saímos, mas é bem rápido, combinado?
       - Tá! Já volto!
       Subi eletricamente as escadas e tomei um banho rápido.  Quando desci, Mamãe já estava pronta. Ela vestia meu vestido favorito, um verde florido, que se estendia até seus joelhos,  ficava lindo nela.
       Resolvemos ir de bicicleta até a reserva. Saímos felizes da vida. Mamãe sorria tanto que sua alegria me contagiava. Chegamos a um lugar plano, com grama baixa, era perfeito e pelo jeito muito visitado, pois a trilha ia diretamente para ele. Naquele momento só estava nós  duas lá, o que era ótimo, já que Mamãe não se sentia bem com pessoas estranhas.
       Decidimos jogar bola. Ela chutava e eu agarrava. Foi maravilhoso vê-la daquele jeito, tão liberta, tão feliz.  Tudo estava perfeito,  até um certo momento. 
        Eu corri uns metros para longe dela, porque a bola tinha passado por mim. Rodiei o olhar para tentar achá-la, mas não consegui. Observei o campo a sua procura, entretanto não achei. Mas aquela era a primeira vez que eu ficava tanto tempo com minha mãe em um lugar a céu aberto e estava adorando, isso não ia estragar.
       De repente um vento gélido preencheu o ar e esfriou todo o meu corpo. O céu de ensolarado tornou-se escuro  e nublado. Arrepios levantaram os pelos dos meus braços e tudo passou  a parecer estranhamente ameaçador. De súbito, desejei correr dali, me esconder em qualquer lugar, sentia que estava em perigo. O lugar onde estávamos era deserto e a nossa casa ficava a mais ou menos um quilômetro da campina.
       Ouvi gritos distantes e lembrei que não estava sozinha, corri até Mamãe, agradecida por está ali, me esperando. Ela, assim com eu, parecia nervosa.
        - Vamos Angel! Temos que ir agora.
       - Mas mãe, eu não achei a bola ainda, vamos procurar mais um pouco, parece que vai chover, e se a água levar  ela embora?
       - Não Angel. Eu disse AGORA!
       Subimos nas bicicletas apressadas. Mamãe estava assustada, com os olhos em constante movimento, procurando achar  algo pelo caminho.
       - Tudo bem, calma, é só um vento forte. - disse tentando acalmá-la.
       - Sem conversa filha. Pedale o mais forte que conseguir. Ainda estamos muito longe de casa.
       Ela olhou para o céu com a expressão preocupada e depois para mim. Iniciamos a pedalar  super rápido. A chuva começara a cair forte no chão e lama encheu todo o terreno.  Era impressionante como o clima tinha mudado de uma hora para a outra.
        Perto de casa, minhas pernas estavam dormentes de tanto mover os pedais. Já tinha  escurecido e a chuva se agravado. Parecia que tudo estava sem vida, escondido do meu olhar. Enquanto me perguntava onde estava a beleza de anteriormente, perdi o controle do guidão e caí numa poça  de lodo enorme, por pouco  não me machuquei. Mamãe parou logo atrás de mim. 
       - Você consegui pedalar ainda? - perguntou ela, como se minha queda pouco importasse, contando que eu continuasse pedalando.  Emburrei  a cara. -  Não importa, vem, eu te levo na minha bicicleta.
       De novo subi nas carreiras. Tinha estranhado a atitude  dela, pois geralmente se eu me machucasse  por mínimo que fosse, ela a fazia o maior escândalo. Olhei para trás, vendo minha bike deixada no meio da trilha.
       - Mamãe? E minha bicicleta?
        - Depois pegamos, não importa.
       - Ainda bem que já estamos chegando, estou toda molhada e encharcada de lama, eca!
       Ela não falou nada. Estava séria. Em um profundo devaneio, que prendia sua atenção em apenas pedalar sem parar.
       Chegamos em casa em menos de um minuto. Assim que entramos, ela fechou todos as fechaduras de casa. Corri para acender as lâmpadas, tentei forçar o interruptor, mas  a energia elétrica havia sido prejudicada.
       - Mamãe? Estamos sem luz! Vou subi e tomar um banho tá?!
       Antes que eu obtivesse uma resposta, ouvi passos rápidos lá fora, olhei para as janelas e vultos impressionantemente  ligeiros passaram por elas, suas sombras eram quase impercetíveis. Corri para perto de minha mãe, querendo ouvir ela dizer que era só um vento ou algo do tipo, entretanto, ela não disse nada, só me puxou para baixo com os olhos cheios de lágrimas, sua face estava pálida, como se todo o seu sangue tivesse sumido.
       - Angel, eu quero que  se esconda no armário, não faça barulho, se der não se mexa e prenda a respiração o máximo que puder,  não saía de lá por nada, entendeu?
      - Mãe... o que houve?
       - Prometa para mim que não vai sair. Não importa o que aconteça aqui, não coloque o pé fora daquele armário, por favor. - uma lágrima escorreu no seu  rosto. Eu não estava entendendo nada- Prometa Angel, por mim, por seu pai, por Deus! Me prometa!
       - Estou com medo - eu disse aos soluços.
       - Shiiii... - ela sussurrou desesperada - Também estou meu amor. Mas vai dar tudo certo se você não sair de lá. Agora, por favor, jure.
        Eu a olhei indecisa, e se ela precisasse de mim e eu não  fosse ajudá-la? E  se corresse perigo? Mas seus olhos pareciam  querer tanto  aquilo, que eu era incapaz de negar. Neles pareciam ter mais medo de que eu saísse do esconderijo do que o que fosse que estivesse lá fora. Então criei coragem e respondi:
       - Eu prometo.
       - Obrigada, eu te amo. Vamos, ele já deve está chegando.
       Ela olhou para as cortinas nervosa e me empurrou até o armário perto da cozinha. Entrei espremida, com tanto medo que até a minha sombra me assustava. Estava em choque, mal conseguia me manter em pé.
       Mamãe tirou seu anel do dedo, a pedra brilhante reluzia até mesmo no escuro. Estranhei, por que ela nunca o tirava, sempre  usava não  importava a ocasião, era o anel de noivado que meu pai deu a ela, entendi aquilo como  um gesto de despedida e fiquei louca dentro daquele armário. Ela estava chorando, as  lágrimas reavivando o azul de seus olhos.  Me beijou na testa e em seguida trancou a porta.

           

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora