Capítulo 16

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        - Katherine espere!  - disse tentando me explicar com ela, que estava enfurecida. Hana sorria, se divertindo com a situação.
        - Esperar para quê? Para assistir o show? Todo aquele  papo de não gostar de brincar com os sentimentos dos outros, de está apaixonado pela Ang... - ela parou quando viu-se perto de me entregar e segurou o que ia dizer - É horrível saber que até ela você acha mais atraente que eu.
        - Fazer o quê, né? Eu tenho malícia, você não. - Hana gargalhou e eu tive vontade de matá-la. Não bastava aquele  cenário todo, ainda vinha ela colocar mais lenha na fogueira, lhe fuzilei com os olhos.
       - É, parabéns, vocês se merecem.
       Ela foi embora novamente, com a decepção estampada no rosto. Saltei fora da água para ir atrás dela,  Hana me segurou pelo braço.
       - Deixa ela ir. Estou aqui para te consolar.
       Peguei sua camisola no chão e atirei nos braços dela com raiva.
       - Vista-se! O que aconteceu foi um erro. Eu não te amo, não deveria ter ficado com você. Espero que perdoe-me.
       - Não peça  desculpas. Foi ótimo. Eu esperava por isso a muito tempo.
       - Você é doente.  Mesmo sabendo que eu não senti nada de verdadeiro, ainda fica satisfeita.
       - Um dia você vai ser meu Sebastian, nem que eu passe por cima de qualquer  um.
       Ela mergulhou na água e eu disparei para tentar achar Katherine e me desculpar por ter sido tão cafajeste. Me vesti enquanto corria, olhando para todos os lados, mas nem sinal dela. Voltei para casa, pedindo que estivesse lá. Encontrei ela sentada com um livro nas mãos, parecia extremamente infeliz. Me aproximei, com receio de sua reação.
       - Katherine? Posso falar com você? - ela apontou para a cadeira estofada com a cabeça, permanecendo em silêncio - Sei que fui covarde, não devia ter ficado com a Hana, me desculpe, por favor.
       - Não foi com a Hana que você ficou, e sim com a Angel.
       - Mesmo assim, me perdoe. Você é a única pessoa que me entende nesse clã, sem você minha vida seria mais miserável ainda. Não quero perder sua amizade. - ela levantou-se e foi para a janela, segurou a cortina com a mão alisando o tecido com delicadeza.
       - Sabe Sebastian? Quando  fui transformada, eu era muito jovem, não adquiri tanto corpo e meu rosto ficou um tanto infantil. Eu só tinha dezesseis anos, vivia com meus pais numa casa simples. Sonhava em me casar, ter filhos, encontrar quem me amasse de um jeito alucinante e feliz. Fazia planos para um futuro tranquilo, onde eu amaria e seria amada. Até que uma virose arrastou a vila em que morávamos, vi meus pais morrendo aos poucos, sem condições para se tratarem. E quando a doença me pegou, eu desejava morrer mais do que tudo. Daí  Kian apareceu, disse que me salvaria, que me daria a eternidade e me mordeu. Desde essa época eu pensei está seca, fechada para o amor, para qualquer tipo de afeto. Fiquei pensando assim por muitos anos, até você aparecer. Tão  diferente dos outros, tão lindo, tão...  bom... Eu recomecei a fazer planos, pensei que podia ser feliz de novo.
       - Você sempre foi a melhor amiga que eu poderia ter. Mas como mentir para você? Como  esconder o que eu sinto de verdade?
       - Eu sei. Não se preocupe. Isso foi uma estupidez minha, não sei onde estava com a cabeça.
       - Eu não senti nada por ela, não se tratando de carinho.
       - Você não precisa dar explicações a mim. Nós não temos nada com o outro. - ela sorriu de forma forçada - O sol vai nascer, vou me recolher. Bom exílio.
       Ela saiu e eu fiquei sozinho na sala. Sentei desconfortável, triste com minha atitude. A sede queimando cada vez mais minha garganta. Ouvi um chiado. Em seguida alguém abriu a porta com um estrondo. Hana caiu no chão se arrastando. Estava ferida. Um rasgo enorme no braço e marcas de garras no rosto. Sua camisola se encontrava em pedaços.
       - O que houve?!  Quem fez isso? Fala!
        Gritei  desesperado, enquanto pegava um pano e limpava as feridas dela, que  parecia fora de si. Os olhos abertos mostrando aflição,  tentando  dizer algo. Os cortes em seu rosto ardiam e ela não conseguia falar. Estranhei. Vampiros se curavam assim que fossem feridos. No entanto, os machucados continuavam do mesmo modo.
       - Temos que sair daqui!!! - ela vociferou exaltada - Vamos! Temos que fugir!
       - O que houve?!
       - Rápido! Precisamos escapar deles!
       - Deles quem?!
      Não precisei de respostas. Um grunhido veio em seu lugar, parecido com o de um cachorro grande, feroz e violento. Entendi o por quê que os cortes de Hana não saravam.
       - Não me diga que é o que estou pensando. - ela afirmou exaurida - Essa não, como eles nos acharam?
       Corri em direção ao quarto de Katherine, precisava busca-la para fugirmos dali. Hana se pôs a minha frente.
       - Pra onde você vai? Não dar tempo salvar ninguém. Vamos embora!
       - Não! Não vou deixar ela aqui! Se quiser vai você, eu não, obrigada por ter voltado, mas eu preciso buscar a Katherine. 
       Hana me olhou com reprovação e sumiu. Disparei para o quarto de Katherine e arrombei a porta, enlouqueci quando notei que não estava lá. Vi um pelo grosso enganchado na madeira da janela, toquei nele e a pele da minha mão queimou como brasa. Aquilo só  podia significar uma coisa.
Gritos lá fora cortaram o ar. Alguém chamava meu nome desesperadamente. Fiquei desatinado ao reconhecer a voz. Pulei pela janela, a altura não teve importância de nada para mim, o que me impactou de verdade foi o que se passava à poucos metros. Katherine estava na boca do lobisomem, que esperava um passo em falso para estraçalha-la com os dentes. Ela ficara como uma criança perto do homem lobo de dois metros que abrangia sua ferocidade, a boca tão enorme quanto a de um crocodilo.
         Agora qualquer movimento brusco meu,  podia acarrentar com a morta dela. Fiquei parado, sem mexer nada, esperando pela oportunidade perfeita. O animal gigante farejou o ar. O impulso natural avisando que o inimigo estava por perto. A sorte é que os lobisomens são criaturas fortes, porém quando transformados, ficam sem muita inteligência. Ele arqueou o focinho, tentando achar o intruso. Me agachei, tinha que salvar Katherine. Ele veio em minha direção, sempre cheirando ao seu redor. Arrastei-me devagar até um arbusto, com cuidado para que ele não visse. O lobisomem sabia que eu estava lá, só não conseguia me achar. Katherine esbravejava na boca dele, ela também sabia da minha presença, escutara meus pensamentos.
       - Vá embora! Não adianta. Ele vai matar nós dois. Por favor, vá!
       Ele apertou mais a boca e se aproximou do arbusto. Me abaixei mais ainda, mas era tarde demais. Ele percebera meu esconderijo, jogou Katherine ao lado com ódio, pude ouvir seus dentes saindo da carne dela e depois abocanhou para meu lado.
       - Não! Ele não. - ela arfou para o bicho com dificuldade.
       Ele uivou e ia meter a bocarra quando algo chamou sua atenção. Ele movimentou as orelhas curioso, procurando achar o que estava rondando seus novos domínios. Outro estrépeto, como algo sendo rachado ao meio. Ele virou-se para trás, e andou uns dois passos. Sem pensar, saltei sobre sua cabeça, apoiei os pés no ombro dele e agaixado, torci seu pescoço. Ele caiu morto no chão, a fera se transformando num rapaz jovem e forte, completamente nu e inofensivo na forma humana. Katherine gritava agoniada ao meu lado. Fui até ela.
       - Calma! Calma, já acabou. Nenhum lobisomem vai te machucar mais.
       - Não é isso!
       - Então o que é?
       Ela olhou para o céu angustiada e eu fiz o mesmo. Lá, na linha do horizonte o sol nascia com sua força maligna sobre nós.

    

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora