Capítulo 18

377 22 2
                                    

Narração de Sebastian

       Se tem uma coisa que nos faz lutar mais do que podemos, é quando a vida de uma pessoa que amamos está em perigo, é um ímpeto, uma forma de garantir nossa própria felicidade.
       O crepúsculo se aproximava e nossa possível morte também. Já fazia tempo que eu não via o amanhecer e  não fazia tanta questão  agora. Katherine e eu corríamos o mais veloz possível, esperando por socorro. Nossa casa estava distante e mesmo que conseguíssemos chegar lá, disputar contra os raios solares era difícil mesmo para alguém de nossa espécie. O sol era nossa maldição e os lobisomens nossos inimigos naturais. As únicas coisas que conseguem realmente ferir um vampiro. Katherine  se retorcia de dor, atingida pelos dois maus, os dentes da fera que tinham dilacerado sua carne e o Sol. Ela estava a beira da morte, eu a segurava com dificuldade, pois quando encostava na carne ferida, também sentia dor. Olhei para trás, já sentindo minha pele arder com a claridade, coloquei Katherine na minha frente para protegê-la, sem saber mais o que fazer. O que pareceram poucos metros antes, viraram quilômetros naquele momento. A janela lá em cima se tornou de repente alta demais, mas eu precisava salvá-la, respirei fundo e pulei. Parei no chão do quarto a tempo  de cobrir Katherine com meu corpo, levei uma rajada de luz que criou bolhas em meu braço, mas consegui fechar a cortina a tempo. Caí no chão me consumindo de dor, a pele que foi atingida parecia estar fervendo. Após um tempo tudo parou e voltou ao normal.
       - Essa foi por pouco. - cochichei para mim mesmo.
       Olhei para Katherine e me desesperei ao notar que ela estava ainda pior. A mordida rodeava todo o seu tórax, num vermelho vivo. 
       - Ei! Katherine! Você está bem? Fale comigo!
       Ela não respondeu. Corri até lá em baixo, esperando ver alguém que pudesse me ajudar, mas os quartos estavam vazios e eu não podia ir para a sala, a porta estava aberta e dessa vez a luz solar ia me matar. Fiquei louco de preocupação, onde estariam os outros? Era noite de caçada, mas todos já deviam ter voltado. Subi para cima de novo. Katherine estava muito mal, as feridas não queriam cicatrizar. Coloquei ela em cima da cama e esperei que alguma ajuda viesse.
        O dia passou naquela aflição, aguardei ajuda, mas não veio. Era cerca de umas sete da noite quando um barulho me chamou atenção. Desci o mais rápido que pude, tinha esperado demais. Talvez ainda desse tempo de salvar minha amiga. Cheguei lá embaixo e vi todos os vampiros do nosso clã entrando para a sala de estar, que tivera a porta quase arrancada por Hana quando chegou ferida para me avisar dos lobisomens, ela porém, não estava com eles. Todos pararam e olharam para mim, como se estivessem surpresos em me ver. Senti ódio. Kian se pôs a frente deles. 
       - Onde vocês estavam? - perguntei.
       -  Caçando.
       - E por que não voltaram? Katherine, Hana e eu quase fomos mortos por lobisomens e vocês não vieram nem nos ajudar.
       - Fique calmo meu jovem. Nós estávamos muito longe, Tânia viu vocês lutando contra aquelas criaturas imundas, mas não podíamos fazer muita coisa. - ele disse sério. 
       - E nos deixaram por conta própria?
       - Estamos aqui não estamos? E está mais do que claro que esse lugar não é mais seguro para nós, temos que ir embora. 
       Concordei. Kian sorriu novamente e se virou para a sala principal, onde aconteciam as reuniões.
       - Espere. Katherine está ferida.
       A expressão dele falhou. Perder um vampiro com poder era uma coisa fora de cogitação para Kian.
       - Onde ela está?
       - No quarto, temos que salvá-la.
       Subimos para cima e Kian examinou a gravidade dos ferimentos. Ele olhava com cuidado para a carne exposta, como um médico com muita experiência.
      - Não há muito o que fazer. O lobisomem que a atacou é  de raça pura, herdeiro do alfa, foi mandado diretamente para nosso clã, tem alguma coisa por trás disso tudo, vou começar a investigar o mais breve possível.
       - E ela? Não posso deixá-la morrer.
       - Jones, a possibilidade dela escapar é uma em um milhão, conforme-se.
       - Eu não posso. Katherine é como uma irmã para mim.
       - O que conversamos sobre sacrifícios?  Vamos até lá embaixo, depois resolvemos o que fazer, tenho que chamar um amigo para o jantar de hoje.
       - Não ligo pra esse jantar. Tenho que ajudá-la,  e só tem um jeito. Só assim ela pode sobreviver.
      - Nem pense nisso! Acha que vou arriscar  perder mais um vampiro? Não! Está proibido!
       - Eu preciso tentar.
       - Quem dá as ordens aqui sou eu! Ponto final.
       Ele desceu furioso, minha única chance  era aquela,  encontrar o líder dos lobisomens. E eu ia atrás, não importava mais nada, estava decidido.
       Todos nós nos reunimos na sala e esperamos para ver o que Kian falaria , ele tentava disfarçar, mas pude notar sua preocupação. Tânia devia ter visto algo a mais, só sendo isso pra ele ficar tão  tenso.
      Sentei-me, desconfortável, sentido que aquela noite seria interminável. Estava sedento de sangue, a luz do Sol tinha me deixado fraco, eu esperava que o banquete viesse logo. Precisava recuperar minhas forças.  O Conselho se reuniu, todos ansiosos. Kian entrou na sala vestindo um terno azul-marinho, dessa vez ele estava mais elegante do que de costume, até seus cabelo espetados ganharam um estilo mais refinado. Percebi que os outros líderes iriam estar presentes naquela noite, por isso a importância do evento. Ele sentou-se e não falou como de costume, ficou em silêncio, como se esperasse alguém. Escutei passos distantes, todos se ajeitaram nas cadeiras e ficaram olhando para a porta. Um vampiro que eu nunca tinha visto entrou com autoridade e se sentou sem dar uma palavra. Ele aparentava ter de quarenta à cinquenta anos, sua energia era desagradável, meio que cruel, ele exalava cheiro de morte, como se tivesse presenciado muitas.
       - Kian? - ele fez o nome parecer ridículo. 
      - Fletcher. Que bom que veio.
       - Só para você lembrar, sou muito ocupado. Sabe que não tenho tempo a perder, então espero que valha a pena está aqui. - ele segurou sua taça e bebeu o líquido, notei que seus dedos ficaram marcados no metal, como se congelasse apenas em tocá-lo.
       - É  importante. - ele ergueu a sobrancelha para Kian continuar - Todos sabemos do ataque daqueles lobisomens nojentos. Eles invadiram nosso esconderijo ontem e feriram uma de nossas irmãs.
      - E o que tem isso? Os lobisomens são nossos inimigos desde a antiguidade, não é novidade ataques surpresas. Por favor.
       - Sim, eu sei. Mas tiverem ataques em muitos clãs da Virgínia, vampiros aliados morreram em combate. Isso é estranho. O alfa sumiu há muitos anos, mas nosso jovem Jones matou um dos seus filhos ontem, ele era um herdeiro legítimo. Isso prova que ele está de volta, e ordenando ataques.
        Pela primeira vez, notei uma inquietação em Fletcher, ele parecia ter ficado nervoso com a notícia. Eu sabia dos lobisomens desde que tinha sido transformado, mas nunca tinha presenciado uma guerra entre as raças.
       - Eles não são tão fortes assim. - Eu disse por impulso e todos se viraram para mim. - Eu lutei contra um ontem e venci.
       - Acontece que ontem não era Lua Cheia, aí está o motivo de você ter vencido tão facilmente. - disse Tânia apreensiva - Eu vi. Você em cima dele, quando quebrou seu pescoço. Foi pura sorte, ele estava distraído demais, era muito jovem. Você nunca viu uma fera quando ela se transforma em noite de lua cheia.
       Ela estremeceu. E os outros permaneceram em silêncio, pasmos demais para falar.
       - Quando foi a última guerra? 
       Eu estava direto demais, e tive receio da reação de Kian
       - Há oitenta e cinco anos, nosso clã não era tão poderoso como agora. Os lobisomens se reproduziram demais... - continuou Tânia.
       - E nosso reverendíssimo Kian, achou que devíamos combatê-los antes que aumentasse o número de cachorros. - Fletcher interrompeu - Foi uma carnificina, até a irmã de Kian mor... 
       - Cale-se! - Kian ordenou.  Notei sua temporã inflar.
       - Tudo bem.
       Ele sorriu satisfeito, enquanto Kian continuava furioso e amassando uma taça com as mãos. O clima estava cada vez mais grave.
       - Temos que conversar a sós Kian, acho que tem assuntos que não devem ser abertos ao público.
       Os vampiros começaram a se levantar e irem para seus cômodos. Aos poucos todos saíram, inclusive eu. Fui para o quarto de Katherine, ela estava acordada, mas muito machucada.
       - Oi Sebastian. Valeu por ter me salvado.
       - Não foi nada.  Você vai ficar bem, eu prometo.
       - Não faça promessas que não pode cumprir, eu estou mal pra caramba. - ela sorriu de um jeito doce, e me enchi de emoção.
      - Eu vou te salvar Katherine, você é minha amiga, a melhor que eu tive em 80 anos. Agora descanse, eu vou achar uma cura pra isso.
       Saí do quarto, esperando não encontrar nenhum vampiro da Guarda. Desviei pelas paredes tão rápido quanto o vento, minha audição me ajudava a escapar de qualquer vigia, eu conseguia fugir antes mesmo deles me verem. Finalmente, cheguei a margem do rio, iria pular e ir nadando o mais longe possível.  Era certo que se eu fugisse, quebrando a ordem de Kian, ele me mataria, então tinha que sair dali rápido , não podia pensar na possibilidade de desistir. Preparei-me para saltar quando Hana apareceu.
       - Se eu fosse você, procurava logo o anel de Melca, sem ele vai ser impossível achar o Alfa antes que alguém te rastrei. Com o anel vai facilitar muito sua busca, sem outros vampiros para te chatear. E além do mais, os lobisomens andam de dia e se escondem na maioria das noites, você tem pouco tempo.
       Olhei para ela, seu rosto estava desfigurado por arranhões em carne viva.
       - Eu sei, estou horrível, mas vou curar logo, os cortes não foram tão profundos.
       - Onde você estava? - perguntei, me dando conta de que Hana não dera notícias desde o ataque.
       - Numa caverna solitária, você acha que eu ia aparecer em público assim? Jamais.
       - Foi você que atraiu a atenção do Lobisomem não foi? Por quê? Você devia me odiar depois do que houve.
       - Por que eu não queria te ver morto, eu realmente gosto de você.
       Fiquei calado. Não tinha nenhuma resposta, ela arriscou sua vida por mim e eu não tinha nenhuma intenção de feri-la de novo.
       - Obrigado.
       - É melhor você ir, eles vão dar por sua falta logo. Volte cedo amorzinho. - ela piscou e eu pulei na água em busca do poderoso e perdido anel de Melca.

  

      
       
      

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora