Capítulo 19

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Narração de Angel

       - Você está péssimo. - falei brava por meu pai não ter se cuidado.
       - Angel, onde você estava? Eu e suas amigas quase enlouquecemos. Nós te procuramos por toda parte.
       - O senhor não faz ideia do que aconteceu comigo, é melhor sentar, precisamos conversar, o assunto é importante.
       Nós sentamos e ficamos em silêncio por um bom tempo. Era certo que eu não devia ficar tão magoada, aquela história toda tinha que ter uma explicação.
       - Então? Qual segredo da nossa família?
       - Segredo? Não tem segredo nenhum, filha. - ele falou, mas pude perceber medo em sua voz.
       - Pai, pela primeira vez na minha vida, eu sei o que matou a minha mãe, sei quem foi responsável por todo o nosso sofrimento, e é por isso que preciso da verdade.
       Ele pareceu pasmo demais para falar, ficou me encarando, se perguntando como eu descobrira a verdade, ele nem desconfiava que eu me tornara um monstro.
       - Como... como você sabe? - as palavras saíram com dificuldade.
       - Eu me tornei um deles. Sou uma vampira agora, Kian tentou me matar, mas alguma coisa, eu não sei o que, me salvou, eu consegui sobreviver, e eu tenho que ter respostas, por favor pai.  Isso é a única coisa que me mantém humana, o amor, o seu, o de minha mãe, das minhas amigas. 
       Ele pareceu que ia desmaiar, ficou pálido e depois quase caindo em um sono estranho. Eu o segurei com cuidado para não machucá-lo.
       - Pai?! Fique acordado, por favor. - ele se reajustou e colocou as mãos na cabeça. Seus dedos puxavam os cabelos engrelhados pela falta de cuidados.
       - De novo não! Não! Quando eu vou ter paz? Primeiro minha esposa, agora minha filha! Ah meu Deus!
       - Pai, calma. Me conte como tudo começou, eu não  tenho muito tempo, o Sol vai nascer.
       - Como assim minha filha? O que aquele desgraçado fez com você. - ele chorou, desesperado demais, senti dor em vê-lo daquele jeito.
       - Por favor. - eu disse.
       - Quando sua mãe estudava na faculdade de Boston, ela conheceu um homem misterioso e muito atraente. Ele se aproximou dela, no começo dizendo que era aluno novo, que precisava de informações sobre a Universidade, a Annie sempre foi muito gentil e resolveu ajudá-lo. Foi sua perdição. - ele parou, parecia sem forças para continuar - Eles começaram uma relação mais íntima, viraram namorados, até que certo dia eles estavam em um bar conversando, um homem se cortou perto de Kian, ele não resistiu. Annie ficou louca ao ver aquilo, ela nunca esqueceu. Sangue pra todo lado, o rosto dele sujo também, as pessoas gritando apavoradas. Ela tentou fugir, mas ele a alcançou, disse que transformaria ela também, que seriam iguais e inseparáveis para sempre. A Annie rejeitou, ela queria uma vida normal, não queria ser um monstro. Kian tentou hipnotiza-la, porém algo deu errado e ele não conseguiu.  Furioso com o desprezo que recebeu, ele jurou que se ela não  ficasse ao seu lado, mataria toda a sua família, todos, até a última pessoa que ela amasse. - ele olhava para fora,  longe demais, revivendo tudo na sua memória - Ela ficou assustada - ele continuou - mas, apesar de tudo, não acreditou de verdade que ele faria aquilo, mesmo com ele tendo massacrado as pessoas no bar. Ele insistiu por dias, ameaçou e ameaçou, até que fez. A Annie chegou em casa e encontrou todos de sua família mortos, seus pais, seus irmãos e até uma criança de três anos estava lá, com o pescoço ensanguentado. Na mão do menino, tinha um recado.
" Eu avisei ", dizia o bilhete. Sua mãe enlouqueceu, saiu louca pelas ruas, pedindo ajuda, dizendo que um vampiro tinha assassinado sua família. Eles não acreditaram, é claro, pensaram que ela estava louca, associaram a morte de seus familiares, à um animal, e ela ficou órfã, foi quando parou de ir para faculdade, se prendeu em casa, ficando sempre à luz do dia, sabia que Kian não lhe faria mal durante o tempo de Sol.
       - Como você a conheceu?
       - Ela perdeu todo o juízo, sua razão de viver se foi com aqueles que ela amava, e teve mais mortes, de amigos, vizinhos, qualquer um que ela se aproximava morria. Até que a Annie resolveu se entregar para ele, queria ser morta para que toda aquela matança parasse de vez. Então eu a conheci, numa floresta, era tarde, quase anoitecendo,  ela estava chorando num banco antigo, parecia tão infeliz, eu cheguei perto dela, perguntei o que tinha acontecido, ela me abraçou sem nem me conhecer, estava tão carente que não se importou com isso, depois chorou, até ensopar minha camisa, eu me apaixonei por ela, vi que não podia viver sem aquela garota mais nenhum segundo da minha vida. Escureceu e estava tudo bem, eu podia ficar ali pro resto da minha vida, abraçando aquela completa desconhecida - ele sorriu e seus olhos brilharam, ele ainda a amava - Ela olhou para o céu de repente, vi seus olhos azuis, que me conquistaram na hora, então ela pareceu ficar louca, fora de si, implorou para que eu fosse embora, disse que eu morreria se ficasse ali, mas eu não saí de perto dela, fiquei firme e esperei. Quando era umas sete horas... um homem apareceu, perguntou o que eu estava fazendo ali e disse que me mataria por interromper a noite com sua amada. Eu não me importei, continuei lá e o enfrentei.
       - O que houve? - perguntei sem saber como ele é minha mãe tinham saído vivos daquela história.
       - Algo aconteceu... - ele respirou fundo - comecei sentir dor, uma febre que me quebrava por dentro, tão feroz que achei que ia morrer, Annie gritava do meu lado, e o homem ficou sem acreditar no que via. Eu estava me transformando, virando o que eu era de verdade pela primeira vez.
       - E o que você era pai? O que houve com você?
       - Sabe por que você escapou de Kian a oito anos atrás? Por que ele não sentiu seu cheiro dentro do armário? Não foi à toa que conseguimos fugir por tanto tempo, meu sangue nos protegeu - Eu estava perplexa, do que ele falava? Como o sangue dele nos salvara? - eu sou um lobisomem filha. Comecei me transformar quando confrontei Kian,  eu salvei sua mãe daquele monstro e tentei por todos esses anos te manter segura.
       - Não... como? Não tem como. Você é meu pai, é normal, humano.
       - Sou metade humano, metade lobo. Quando fugi com sua mãe, procurei meu pai, e ele me contou tudo, minha família sempre foi grande demais, não era só uma família, era uma alcateia. - ele disse distante - Foi isso que nos ajudou durante anos, eu aposto que Kian colocou um rastreador atrás de você, mas lobisomens conseguem se esconder dos vampiros, nosso cheiro é como uma camuflagem e funcionou por um tempo, eu pensei que você ia ter uma vida normal, que a obsessão dele tinha finalmente acabado com a morte da sua mãe, mas não, ele nunca desiste, nunca nos deixará em paz, temos que fugir de novo, para longe, o mais distante possível.
       - Não pai. Ele não sabe que eu estou viva, acha que morri. Continue. Quando você se transforma?
        - Nas noites de lua cheia, a transformação é involuntária,  eu fico perigoso demais, por isso eu sempre saía, uma semana todo mês, lembra? Na semana de lua Cheia, no resto do mês eu consigo controlar, a mudança só vem se eu quiser. Ele trouxe a maldição para mim, quando o enfrentei, ela se ativou, eu não sabia o que fazer, só fui pra cima dele e lutei, foi horrível, porém eu venci e levei Annie para minha casa, o resto você sabe, tivemos uma filha, e vivíamos fugindo de algo que você nem desconfiava.
       - Isso é impossível. Não pode existir. - meu queixo caiu quando uma ideia maluca me passou pela cabeça - Então, eu sou, sou uma lobisomem?
       - Não, não há relatos de mulheres lobisomens, nunca ouvi falar, mas você tem meu sangue, por isso sobreviveu ao ataque de Kian, ele não sabia da sua origem e você acabou virando isso...
       Ele chorou e eu tive pena dele, eu era igual ao que matou a mulher dele, minha mãe. Como ele viveria com isso? Como aceitaria o fato de eu desejar sangue a cada instante?
       - Eu não posso mudar o que ele fez comigo, mas eu posso vingar a morte da minha mãe, da família dela, de todos que Kian machucou, eu juro, por tudo que é mais sagrado, eu vou matar aquele vampiro maldito, eu prometo. 
       Lá em cima um raio cortou o céu, era um aviso, a profecia começara e eu nem esperava por isso, só podia sentir o ódio, uma fúria devastadora que enchia meu coração com sensações que eu não sabia explicar. O tempo estava presenciando minha promessa, justiça seria feita, não importava as consequências.

   

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora