Capítulo 37

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Narração de Louise

       Assim que saímos, a água gelada caiu sobre nós. Os vampiros demonstravam força de vontade, mas eu podia sentir a aflição que tomava conta de todos, era como se a presença de Kian estivesse impregnada no ar, a presença maligna que sempre trazia aquele tão conhecido frio. Lembrei dos dias de cárcere que passei na mansão de Oliver, das correntes geladas que prenderam meus pulsos e percebi o que alimentava a força de todas aquelas pessoas, era raiva, revolta, a dor podia trazer mais coragem do que qualquer outro sentimento. Caminhei acompanhando os outros, o vento estava cada vez mais violento e soprava forte em meus olhos fazendo meus cílios lutarem para ficar em seus devidos lugares. A vampira loira,  Elétrika, parou e expirou fundo, todos imitaram o movimento e pairaram observando tudo com cautela, fiz a mesma coisa que eles e esperei. Por instantes, parecia que nada iria acontecer, mas após alguns segundos Elétrika começou a soltar pequenos raios pelo corpo, era admirável de se ver e então eles surgiram.
       - Se preparem... - ela sussurrou.
       E no momento que ela falou isso eles nos atacaram, tão velozes e mortais que não tivemos chances de sequer tentar fugir, eram tantos comparados a nós que paralisamos sem saber como agir. Depois de algum tempo parados no ar estupefatos vi finalmente tudo começar a se desencadear, e apesar de ter mais ou menos três deles para cada um de nós, os vampiros que toparam nos ajudar enfrentaram com bravura os de Kian. Um deles veio até mim, o semblante dele trazia um ar de prazer e raiva e reconheci o rosto familar, era o homem que tentara abusar de mim na casa de Oliver, ele sorriu:
       - Surpresa querida? Achou que não ia me ver mais não é?  Que o traidor do Zack ia dar conta de mim. - ele gargalhou - Sabe o que aconteceu com ele? Foi enviado para ser julgado, vai ser decapitado por ter te ajudado a fugir e por ter atacado um oficial de Kian... - meu coração disparou enquanto eu me via sem saída e culpada por Zack, as palavras ecoando na minha cabeça devagar - Está com medo? Não, não fique, você não vai ser morta, não hoje pelo menos, o objetivo não é esse, vocês são nossa passagem para a amiguinha de vocês,  a híbrida. Você foi tão tola menina, podia ter ficado do meu lado, estaria livre, e no entanto decidiu voltar só pra morrer...
       - Vai se fuder seu vampiro de merda! - ele sorriu ainda mais.
       - Que mal educada... Que tal um castigo pra aprender a ter respeito?
       Ele veio até mim, tentei me esquivar quando a mão dele segurou meu pescoço, mas não pude, ele era muito mais habilidoso que eu. Os dedos gelados se fixaram na minha pele e a mesma sensação de nojo me tomou, agoniada e desesperada pra me livrar do contato dele, comecei a me sacudir como uma louca, ele tentava a todo custo me manter quieta, mas não conseguiu e acabou me soltando, me arrastei pelo chão enquanto ele subia pelas minhas costas e me segurava pelos cabelos. O homem que era tão corpulento e de aparência rígida não parecia ser tão experiente, pois deixou meus braços soltos, o que foi suficiente para que eu pudesse pegar um pequeno canivete do bolso e passá lo em seu rosto, ele uivou com a dor, o sangue espalhando sobre a pele tão branca como giz e me soltou para levar as mãos a bochecha rasgada pela lâmina. Me pus de pé tão rapidamente que mal deu tempo ele me acompanhar e sumi de vista. Poucos metros depois ouvi seu grito chamando me de vadia. A neblina tomava conta do lugar, estava difícil enxergar, e a chuva aos poucos havia diminuído, porém a umidade no ar ainda estava presente. Olhei ao redor tentando ver o que se passava mais a frente. Podia se ouvir gritos,  barulho de metal contra metal e se ainda tinha isso significava que ainda tinha pessoas vivas, e elas estavam lutando, lutando por uma causa perdida, nós nunca iríamos sair disso, ser vampiros é uma maldição,  uma solitária e cruel maldição. Como se tivessem vontade própria minhas pernas desabaram e caí de joelhos com as mãos na cabeça, aquilo era um pesadelo, tudo era um maldito pesadelo. Tantas mortes, tanto sangue, e tudo em vão, todos iriam ser massacrados ali naquela noite, Angel, Paul, todos... Todos nós iriamos ser mortos, isso se Kian fosse generoso, ele também podia nos pôr naquelas selas, o que era pior que a morte, a eternidade de sede. Tremores me percorreram. Ouvi passos e logo depois o homem que a poucos instantes me prendera pelos cabelos estava ali, o corte já cicatrizado totalmente. Seus olhos faiscaram ao me ver, ele parecia mais irritado que nunca.
       - É melhor vim comigo... - falou pausadamente-  Está ouvindo isso? - perguntou me.
       - Não estou ouvindo nada! - falei em resposta percebendo pela primeira vez que o barulho das armas e o gritos tinham cessado completamente,  restando apenas o mais absoluto silêncio, franzi o cenho, isso não podia ser um bom sinal.
       - É claro que não está,  acabou mocinha... Acabou. - senti meu corpo ficar ainda mais mórbido, talvez todos já estivessem mortos, talvez Angel já estivesse... Não consegui pensar.
       - Não!  Você está mentindo!!! - gritei.
       - Estou? Esse som é a resposta, quer dizer, esse silêncio é a resposta, mas tenho uma boa noticia, seus amiguinhos estão vivos... Ainda. E tenho um acordo a lhe propor, se você vier comigo por bem, fica viva nessa confusão toda, Kian precisa de você, mas se recusar a me acompanhar, Kian vai matar cada um dos seus amigos na sua frente até que você faça o que ele deseja.
       - O que ele quer comigo?
       - Você vai saber... Mas antes quero que veja logo isso e que tome a decisão. - ele parou e gritou olhando ao longe, um outro vampiro chegou arrastando consigo o rapaz que estava conversando com Angel dentro da casa de Hector, o mesmo que lhe falara sobre armas e sobre ela ser uma guerreira. Ele parecia assustado, mas tentava se libertar do vampiro com bravura. - Esse deu trabalho para ser pego, é astuto, habilidoso, com certeza foi um bom soldado em tempos passados, e pra você ver que não nos importamos com as qualidades o trouxemos aqui. Vou perguntar apenas uma vez, você vai conosco?
       - Vai ter que me matar! - exclamei entre os dentes, sentindo tanta raiva que tremi.
       -Você não, mas ele sim! - Como num piscar de olhos ele foi até o rapaz e cortou lhe o pescoço, a cabeça voou até perto de mim, os olhos azuis do garoto ainda abertos em verdadeiro terror. Desviei o rosto ao ver aquela visão horrível, sentindo um pavor que não podia explicar com palavras, era isso que ia acontecer com todos nós. - Ainda vai insistir em não ir comigo ou vou ter que trazer outro aqui e decapitá lo?
       - Tudo bem!!! Eu vou! Mas por favor, não machuque mais ninguém. - sussurrei me rendendo.
        - Isso quem diz é você. - ele sorriu satisfeito. - Vamos!!!
       Ele gritou para o outro e veio até mim segurando me pelo braço e me puxando. Começamos a andar pela nebrina, ele sabia muito bem o caminho a fazer e não vacilamos nenhuma vez, indo sempre em frente. Depois de alguns minutos chegamos onde todos os vampiros estavam, os que tinham ficado do nosso lado estavam presos numa espécie de jaula e os de Kian soltos à expectativa, alguns corpos estavam pelo chão,  tanto dos dele quanto dos nossos. Ao andar entre eles, alguns gargalhavam sinistramente. Entramos num circulo deles, e lá estava Kian, com seu jeito autoritário e hostil, ele sorriu ao me ver.
       - Olá de novo minha cara, que bom revê la.
       - Não posso falar o mesmo. - retruquei e ele arfou reprimindo o riso.
       - Que temperamento você tem, lembra o que aconteceu da última vez que foi mal educada? Os dias na cela não ensinaram nada?
      - Acha que estou me importando? Todos vamos morrer, pra quê temer você agora? Faça me o favor e termine logo esse Show!
      - Eu só vou precisar de uma coisa senhorita Ward, sua permissão para uma coisa, basta isso, ou não seram só esses vampiros imundos que serão mortos, mas sua família também,  que estão no Canadá agora te procurando sem ao menos imaginar o monstro que a filha virou, e eu ainda faço questão de te deixar viva pra ver o noticiário anunciando a morte deles. - ele disse e meu coração disparou ainda mais.
         - Eu faço o que quiser! Mas não os machuque!  
       - Tudo que precisa fazer é dizer um sim a uma resposta. Apenas isso.
       - Como assim? Um sim?
       Uma moça de cabelos castanhos e pele clara entrou no círculo, diferente de todos, ela vestia se de branco, uma vestido que caia até os tornozelos de maneira leva. Ela não era vampira, nem lobisomem, era humana, mas tinha algo diferente consigo. A garota que aparentava ser pouco mais velha que eu me encarou, seus olhos eram cor de chocolate e tinham uma intensidade que me fez temê la, ela sorriu calmamente e se aproximou.
       - Você só precisa me dizer um sim, e tudo vai ficar bem certo? - concordei com a cabeça involuntáriamente e ela tocou minha cabeça com o indicador. - Você me deixa entrar?
      - Sim...
       Respondi e então uma energia me tomou, tão forte e tão profunda que fiquei tonta, já não mandava mais em mim.

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora