Capítulo 35

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        " Talvez uma das maiores decepções que alguém pode sofrer seja envolvendo o amor. Ele vem tão abrasador, tão rápido, basta um simples olhar e seu corpo vibra. Até mesmo um susto, um calafrio, os sentimentos menos desconfortáveis se tornam emoções boas quando se ama,  e ainda mais quando esse amor já começa tão intenso e apaixonante que parece que você não consegui viver sem a outra pessoa. "

       Me acocheguei nos braços de Louise e fiquei ali até perder a noção do tempo. Meu pai e Janice corriam apressados pela casa, dando telefonemas, pedindo a ajuda de amigos e pensando sobre o massacre que ia ser se Kian pusesse as mãos em nós. Eu só queria desaparecer de tudo aquilo, da lembrança de Sebastian, que nos traíra tão friamente, dos seus beijos e das palavras falsas.  Meu pai se aproximou de mim e pôs a mão em meu ombro, levantei os olhos para ele, minhas pálpebras estavam pesadas, mas enxuguei meu rosto molhado de lágrimas e ergui a cabeça.
       - Filha, você tem que fugir daqui. Nós vamos distrair eles  tempo suficiente até o dia raiar, depois que o sol nascer eles não poderão te seguir,  dará tempo o suficiente para você ir o mais longe possível.
       - O quê?! - exclamei incrédula pelo o que ele queria fazer. - Ninguém vai morrer por mim pai, se ele quiser me pegar, que venha! Mas não vou deixar que  se arrisquem para que eu fuja como uma covarde!
       - Angel, escute! Ele não vai te deixar em paz, eu já passei por isso uma vez, com sua mãe lembra? Ela foi caçada até ser morta, eu vou tentar matar aquele desgraçado por você, para que você tenha uma vida. Me deixe fazer isso Angel.
       - Não! Se vamos fugir, vamos todos nós! Eu não vou sozinha!
       - Eu estou mandando Angel! - ele gritou e eu pulei espantada. - Você vai embora! Eu não posso passar pela dor de perder você, não posso aguentar mais um luto! Não tem como todos fugir, eles iriam rastrear nosso cheiro. É questão de tempo até eles chegarem, você tem que ir!
       - Eu não vou! - exclamei decidida. - Vou ficar aqui! Vou lutar com vocês!
       - Você vai ser morta!
       - Então vou morrer com dignidade! Eu não tenho medo pai, tenho ódio! Ódio pelo o que Kian fez conosco, e pelo que Sebastian fez!
       Meu pai bateu os punhos contra a mesinha de madeira, a mesma tilintou e dobrou uma das pernas com a força do impacto, tudo que estava sobre ela desmoronou no chão. Ele me olhou com os olhos num amarelo vivido e disse:
       - Você é igual a sua mãe, teimosa! - falou cansado - Tudo bem! Quer enfrentar o monstro? Saiba que vai ver seu pai como um também.
       Ele saiu rápido e Janice entrou. Ela tinha uma expressão de verdadeira preocupação no rosto.
       - Ele vai se transformar. - afirmou para mim que ainda olhava para a porta esperando meu pai voltar. - Bom, alguns  vampiros amigos nossos irão vir, mas é bom que saiba Angel, o alvo aqui é você, e nem temos certeza se os que vem vão querer enfrentar o exército de Kian, não dá nem para comparar os poderes do lado inimigo, Paul tem razão, você devia ir embora.
      - Não insista Janice, eu não vou a lugar algum. - falei dando um basta naquela história de fugir. 
       - Angel? - chamou Louise falando pela primeira vez. - Ela tem razão, você vai ser morta.
       - O que está acontecendo com vocês? Eu vou lutar! É minha decisão! Eu quero olhar nos olhos de Sebastiam, quero ouvir ele falar que as promessas que ele me fez eram falsas, e depois, dá a ele o que merece.
       Louise e Janice baixaram a cabeça e se calaram. Hector estava certo, Sebastian não era de confiança e eu o escolhi. Escolhi um vampiro pelo qual eu devia ter desprezo, alguém que aparecera do nada e me enrolou com uma conversa tosca de amiga doente. E agora eu perdera quem realmente estava do meu lado, quem queria meu bem de verdade, alguém que com certeza estaria aquela hora me abraçando e me dando forças.  Mas, ao menos ele estaria bem,  longe dali, não correria risco de vida. Peguei um papel e escrevi uma mensagem para Hector caso ele voltasse e eu não estivesse mais viva. Comecei escrever, as letras deitadas e arredondadas tomando conta do papel aos poucos. Agradeci por tudo, pelo carinho, preocupação. Pedi perdão por ter sido tão imbecil, por não ter lutado para que ele ficasse ao meu lado. E por fim disse lhe que independentemente da minha escolha, eu o amava. Amava de todo coração, só não do jeito que ele desejava. Assinei meu nome no final e levei o bilhete para seu quarto. Coloquei o sobre a cama e saí.
        Umas meia hora depois, a sala da casa de Hector se encheu com alguns vampiros. A maioria homens, altos e pálidos. Alguns me olharam quase que com admiração, um deles até beijou minha mão quando eu passei por ele para o centro da sala. Sussurros falavam sobre eu ser a garota da profecia, a que derrotaria Kian. Uma vampira com cabelos tão claros como o neve parou frente a mim, seus olhos vermelhos eram ainda mais intensos, marcados de delineador preto, ela tinha um piercing no septo. A garota me olhava,  parecendo duvidosa, ou até mesmo curiosa.
       - Então você é a híbrida? Metade lobo, metade vampira. O que você tem diferente de nós? Por que devemos ficar e lutar por você? - ela perguntou incerta.
        Eu não sabia o que responder, o que dizer para fazer com que aquelas pessoas ficassem ali e se arriscassem por mim. Apenas baixei a cabeça e esperei que todos me dessem as costas e fossem embora, mas antes disso Louise falou:
       - Ela pode sair no Sol, e chorar, sente os mesmos sentimentos de um humano, os mesmo que todos nós já sentimos. Quantos de vocês não queriam isso? Ser humanos novamente, sentir o sol na pele.
       - Você não pode falar por ela. - falou a garota que continuava frente a mim me encarando.
       - Posso, porque eu a conheço melhor do que ninguém. Ela está com medo, e mesmo assim preferiu ficar e lutar, e vocês? Preferem entregá la para Kian? Todos vocês tem richa com ele, e se lutarmos agora? Se enfrentarmos ele? Pode ser nossa chance!
       - Chance?! - gargalhou um vampiro alto de expressão severa - Acha que temos chance contra Kian e seu clã? No mínimo vamos ficar loucos com aquele vampiro em nossa mentes, como é mesmo o nome dele? Zack! - ele sorriu ainda mais largamente - E temos também Tânia, que pode prevê nossos movimentos antes que façamos os mesmos. Não temos chance alguma minha querida e inexperiente jovem.
       - Jovem, sim,  mas tenho coragem! - Louise falou fuzilando o homem pelo olhar. - E Zack não vai nos machucar!
       - Como sabe disso? - perguntou o homem - Por acaso ele veio te dizer que vai desobedecer o Mestre dele? E sua bravura não vale de nada.  É melhor ter inteligência do que destemor. - ele respondeu no tom de zombaria.
       - Então querem que fiquemos aqui para esperar a morte chegar? - exclamou Louise boquiaberta.
       - Vocês podem tentar chegar num acordo. - outra vampira falou como se a solução fosse óbvia.
       - Ninguém vai fazer acordo com aquele monstro! - falei perdendo a paciência - Vocês estão aqui, e se vieram, é por que têm no mínimo um pouco de esperança. Não há como fugir e não há probabilidade de acordo, então não me resta outra opção a não ser enfrentar o que vem. - os vampiros se calaram e prestaram atenção em mim. - Eu perdi minha mãe com dez anos, vi ela ser enterrada sem saber o que tinha acontecido. E o que vocês acham que eu fiz?  Eu passei oito anos  tentando esquecer, me convencendo de que tudo era ilusão da minha cabeça,  mais uma coisa tenho a dizer,  quanto mais você foge de um problema,  mas esse problema te persegue. Foram anos sendo a estranha que acreditava que um homem tinha assassinado sua mãe, e quando finalmente achei que tudo estava dando certo, Kian veio atrás de mim e quase me matou. Eu não sei por que estou aqui, por que escapei,  mas eu sei que não vou me entregar sem nem ao menos tentar. - parei e apontei para a saída - A porta está aberta, quem quiser ir, fique a vontade, mas quem quiser ficar, vamos lutar juntos, como um só.
       Os vampiros começaram a conversar frenéticos. Alguns concordavam com a cabeça, outros pareciam indecisos. Depois de alguns segundos assim, cerca de uns seis deles saíram sem nem ao menos nos cumprimentar, outros vieram até nós e nos desejaram boa sorte e seguiram o mesmo caminho que  os outros. Ficaram conosco mais ou menos uns vinte vampiros, incluindo, para minha surpresa a vampira loira que me testara pouco tempo antes.
       - Se vamos enfrentar o mais poderoso clã de vampiros, acho que meus poderes seram úteis. - ela disse quase que se explicando por ainda está ali. - Prazer, sou Elétrika, a vampira que pode ter dar choques.
       - Obrigada por ficar. - falei realmente agradecida.
       Eles se agitaram e pegaram de suas malas os mais estranhos utensílios que eu poderia ter visto. Facas, cordas com ganchos nas pontas, armas enormes. Arregalei os olhos espantada. Um rapaz que parecia ter a minha idade se aproximou sorrindo.
       - Você realmente não é uma  guerreira. Isso é brinquedo perto das armas de guerra de antigamente, eu experimentei elas duzentos anos atrás, entendo do assunto.
       Achei graça num garoto tão jovem fisicamente falando como era o passado. Mas antes que eu respondesse algo, um uivo alto cortou o ar, grosso e penetrante. Em seguida, Janice entrou na sala. Ela me fitou e disse:
       - Eles chegaram.
       Todo mundo parou. O céu lá fora se encheu de nuvens carregadas, como nas duas vezes que Kian esteve perto de mim, então uma chuva grossa começou. Eu estava ali, indo enfrentar o que mais me causou dor e medo na vida.
       - Deus nos ajude. - disse por fim. 
      
      

SEGREDOS DE  UMA VAMPIRA      (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora