Capítulo 15

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Paciência tem limite

Com toda a agitação dos últimos dias, coisas normais escapavam da mente dela, sim, só tinha espaço para pensar sobre sua mãe biológica, a agência e as consequências da entrada de Fernando em sua vida. Não lembrou de ligar para seus pais, quase não via Letícia e com exceção de suas provas, até mesmo a manhã na faculdade passava como um borrão em suas lembranças.

Vestiu-se sentindo um pouco de culpa, não podia deixar de se preocupar com sua vida, mas não podia esquecer-se das pessoas que faziam parte dela. Enrolou um pouco para sair de casa, aquele seria seu último dia de aula antes das férias e a maioria das pessoas iriam para saber de suas notas e ter certeza de que não ficaram de dependência em alguma matéria.

Letícia entrava na casa quando ela desceu para a cozinha, a mulher estava ofegante e parecia cansada.

— Bom dia! Não achei que fosse te encontrar aqui. – Cumprimentou, surpresa, àquela hora a garota já deveria estar na faculdade. — Tudo bem?

— Tudo. Eu é que pergunto. Por que parece que você correu uma maratona?

— Giovanni queimou de febre a madrugada inteira. Tive que levá-lo ao pronto-socorro. Até esperar o ônibus para ir, voltar, passar na farmácia e depois vir para cá... Garanto, foi uma maratona. – Riu, estava acostumada a estar sempre correndo, mas naquele momento desejava muito deitar e dormir.

— Fala sério, Lê! Porque não me avisou? – Jogou a bolsa no ombro, não podia demorar muito mais em casa. — Eu poderia ter ido com o Giovanni, ou ter chamado um táxi. Qualquer coisa, caramba! – Estava irritada, conhecia aqueles garotos desde que nasceram, eram como irmãos mais novos para ela, apesar de estarem em outra fase da vida na qual os amigos da escola importavam mais. — Não é só porque minha mãe não está aqui, que você não pode mais contar comigo, entendeu?

— Eu não queria te aborrecer com isso.

— Não é aborrecimento. Você também é minha mãe. Sei que sou uma filha desnaturada, não precisa verbalizar o que está pensando. – Sorriu, mas logo ficou séria e continuou. — Como ele está agora?

— Melhor. É só garganta inflamada, mas pela manhã parecia uma faca cravada na garganta. Não dormi a noite toda.

— Posso imaginar. – Achou graça na forma como a mulher narrava e se aproximou. — Vou para a faculdade, mas se precisar pode me ligar, entendeu? – Letícia assentiu. — Vou pensar em alguma coisa para facilitar sua vida. – Deu um beijo no rosto dela e saiu para pegar sua moto.

Apesar de ser o último dia de aula, era possível encontrar alunos apinhados na biblioteca, provavelmente, aqueles que já sabiam se estavam de dependência, ou estavam ajudando os colegas para provas substitutivas. Por ter chegado um pouco mais tarde, Sophie não passou na cantina, seguiu direto para a sala, ou não conseguiria encontrar o professor da única matéria em que não tinha ido tão bem.

Conseguiu encontrar o professor no corredor e teve de acompanhá-lo até a sala dele. Sua nota não era boa, mas deu para passar, algo que não a agradava, porém, só podia se esforçar mais na próxima. Agradeceu o tempo dele e ouviu seus conselhos de bom grado antes de ir para a cantina.

Carlos a esperava impaciente, estava sozinho e nem esperou ela se sentar para começar a reclamar da nota que tirou em uma de suas provas.

— Sinto falta do ensino médio. – Confessou, cansado de reclamar. Não iria adiantar mesmo. — Sei que você não via a hora daquilo terminar, mas não me sentia tão burro na escola e tinha você para me ajudar a estudar. – Riu ao lembrar do quanto sua amiga reclamava na época da escola. — Você devia fazer Letras comigo, sempre foi boa nessas matérias.

Manipuladores do Futuro (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora