Capítulo 10

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Visita ao passado.

Sophie seguiu para o único lugar em que poderia conseguir respostas. A casa de Lígia. Não tinha devolvido a chave para sua mãe e pela primeira vez foi bom ter esquecido algo. Ela guardou a moto na garagem da casa e entrou, por sorte, ninguém tinha entrado ali ainda, o porão estava do mesmo jeito da noite anterior.

Ajoelhada em frente as caixas, Sophie vasculhou todos os pertences e papéis de Lívia. Durante todos esses anos ouviu o quanto sua mãe biológica era irresponsável e como provavelmente não teria conseguido cuidar da própria filha de tão egoísta que era. Bárbara e Rogério sempre a instruíram a não dar créditos às fofocas da família, mas nenhum deles foi capaz de explicar o motivo do abandono.

Tentou ignorar tudo o que diziam. O problem,era que no fundo, acreditou no que ouviu, preferia acreditar que era filha de uma irresponsável, do que acreditar que foi rejeitada, como ouviu também, cochichado pelos cantos por seus tios.

Mas pela primeira vez na vida, não importava nada disso, apenas que sua mãe a deixou por um bom motivo, porque foi preciso e agora, Sophie precisava saber quais eram esses motivos.

Inúmeras perguntas atrapalhavam seu raciocínio. Além das questões óbvias, saber onde sua mãe havia conseguido tantos bens e dinheiro era uma delas. Todos os acontecimentos dos últimos dias pareciam estar anunciando uma grande mudança, até mesmo aquele sonho bobo que teve em que ficava rica e não deu atenção a nada daquilo, mas devia.

Não sabia o que estava procurando, entretanto, naquela altura, qualquer informação seria bem-vinda. Desde uma pista do motivo de seu abandono, até a origem daquele dinheiro. Por vezes, quando pequena, imaginou que um dia sua mãe voltaria, não terem encontrado o corpo de Lívia contribuiu bastante para essa imaginação.

Sabia o quanto estava sendo idiota ao alimentar aquilo novamente, ninguém conseguiria desaparecer por tanto tempo sem ser descoberto, ainda mais depois de um acidente daqueles, mas seus anseios infantis estavam de volta e não poderiam ser controlados, pelo menos não naquele momento.

Leu cada documento e caderno que encontrou e retirou tudo o que encontrou de dentro das caixas. Ursos, quadros, brinquedos, livros e até mesmo roupas, mas não encontrou qualquer coisa que pudesse ser útil.

Cansada, abriu o último caderno de uma das caixas e passou a ler, não havia nada além de matérias de escola, porém, de alguma forma, sentiu-se mais perto de sua mãe, algo que deveria acalmar seu coração. Isso não aconteceu.

Nunca sentiu tamanho tormento na vida. Deixou-se desmoronar, estava tão atordoada e triste que mais nada importava. Sabia que precisava ir para casa, dar notícias, ou qualquer coisa parecida, mesmo assim, permaneceu onde estava.

Não queria que vissem seu estado, podia sentir seus olhos inchados e o nariz entupido por causa do choro que não conseguiu evitar, precisava colocar para fora, na verdade, tinha muitos anos para colocar para fora. Anos em que se fez de forte, que se fechou, que permitiu dissertarem sobre como ela seria quando crescesse, o quanto seria tão irresponsável quanto a mãe biológica, sem retrucar ou discutir para não ser mal educada e comprovar o que diziam.

Sempre sentiu que tinha uma imagem a zelar e que de alguma forma tinha que contrariar tudo o que pensavam sobre ela. Foi responsável, apesar de fazer o que queria sem que outros soubessem, trabalhou, estudou, foi a melhor aluna que conseguiu, obedeceu aos pais e tratou todos, até mesmo as pessoas que não gostava da maneira mais cordial possível.

Arrumou problemas sim, mas só durante a adolescência, quando se encheu de ouvir baboseiras sem responder à altura e foi o período em que mais ouviu críticas. Então finalmente passou a dizer o que pensava e afastar pessoas que estavam ansiosas para verem suas profecias se concretizarem.

Manipuladores do Futuro (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora