Capítulo 20

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Saudade

A voz alta de sua mãe vindo da cozinha a despertou e um misto de saudade e alegria a invadiu imediatamente. Sophie sentou na cama, esfregando os olhos e permanecendo parada, como alguém que olha para o nada e pensa em nada. Esse não era o caso dela, pois pensava que se permanecesse assim, seus pais não iriam embora.

Pensamento estúpido. Se ela não saísse do quarto, Bárbara viria buscá-la e não teriam um tempo antes da despedida. Sufocando a vontade de chorar, ela se arrumou e desceu.

Letícia ajudava Bárbara na cozinha e Rogério jogava vídeo game com os meninos no sofá. Estava perto da hora do almoço e o cheiro da comida de Letícia invadia o ambiente e a casa vizinha também.

Tiveram um almoço maravilhoso, igual aos outros em que se reuniam no fim de semana, mas Sophie não conseguia tocar em sua comida, pelo menos não com vontade. Por mais animados que todos parecessem, estava claro que tentavam, a todo custo, não tocar no assunto da partida.

O momento chegou e, infelizmente não podia mais ser adiado. Com tudo pronto, seus pais se despediram de Letícia e dos meninos. O primeiro abraço que Sophie recebeu foi de Rogério. O guincho já esperava na porta, pronto para levar a moto e seu pai intensificou o abraço, pedindo para que a filha se cuidasse e garantindo que não iriam se não fosse preciso.

— Eu sei, pai. Pode deixar, eu vou ficar bem. – Procurou respirar fundo e falar devagar para não começar a chorar, não queria fazer cena e nem atrasá-los.

— Fico mais tranquilo agora que sei que Lucas pode te ajudar se necessário. – Ele se afastou da filha, contrariado e sorriu. — Te amo!

— Eu também amo você... – Sua voz falhou na resposta, mas sua mãe logo a abraçou também, não dando tempo para o choro vir.

O abraço durou bons minutos. Sophie sabia que estava sendo infantil, mas não conseguia evitar os sentimentos de abandono e solidão que a invadiam naquele momento.

Bárbara se afastou e mexeu em sua bolsa, tirando dali um envelope pequeno e estendeu para a filha. Ela o pegou e encarou a mãe.

— Lívia disse para te entregar no dia em que decidisse sair de casa, então...

O momento era tão delicado e ela sentia-se tão frágil, que nem vontade de repreender Bárbara por esconder o envelope teve, apenas o guardou no bolso da calça e se entregou ao abraço coletivo, com Rogério acariciando suas costas e sua mãe, a cabeça.

Quando perdeu o carro dos pais de vista, Sophie acenou para Letícia, que sabia que ela não estava bem, mas sabia também que não poderia ajudar, e entrou na casa, agora, praticamente vazia.

Indo direto para o quarto dos pais, ela se jogou na cama e desabou de tanto chorar, no começo, controlou os soluços, mas depois, simplesmente se permitiu chorar feito uma criança que sentia saudade dos pais. Agora compreendia o que as crianças sentiam em seu primeiro dia na escolinha.

Lucas apareceu mais tarde e a encontrou deitada na cama dos pais, dormindo. Havia ligado várias vezes durante à tarde para saber como ela estava. Ninguém atendeu e só quando começou a anoitecer que ele teve um tempo para ir até lá. Encontrou a porta da casa destrancada e já subiu pensando em repreendê-la pelo descuido. Passou pelo quarto dela e encontrou o celular em cima da cama, com uma pontada de desespero, abriu a porta do quarto dos pais dela e só percebeu que estava segurando a respiração quando a viu na cama, encolhida e agarrada aos travesseiros.

Sem saber direito o que fazer, ele começou a fechar a porta, mas a garota acordou. Ela ficou desorientada por um tempo, enquanto Lucas a observava, esperando para ver se ela voltaria a dormir. Isso não aconteceu. Sophie se levantou da cama, se aproximou dele, pegou sua mão e caminhou para seu quarto, carregando-o junto.

Manipuladores do Futuro (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora