Capítulo 11

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Testando a paciência

Se não fosse por Letícia, Sophie não teria acordado. Dormiu poucas horas e havia esquecido de colocar o celular para despertar. Levantou-se um pouco grogue e foi direto para o chuveiro. Tudo parecia ter acontecido há muito tempo atrás, deixando apenas uma vaga lembrança.

Cansada e indecisa sobre ir à faculdade, ela vestiu suas roupas básicas e foi para a cozinha, Letícia já tinha ido embora. Tinha passado só para deixar um bolo que tinha feito e aproveitou para acordá-la.

Sophie comeu como se o mundo fosse acabar e as palavras de Lucas martelavam sua cabeça. Precisava agir normalmente. Não era fácil. Saber que sua mãe tinha sido assassinada e que não a abandonara simplesmente, faria qualquer pessoa ter interesse em buscar a verdade, mas a verdade estava em posse de pessoas perigosas.

Agora tinha mais dinheiro do que poderia gastar em uma vida, ou em duas gerações, ainda ia ter que descobrir como lidar com isso também. Em todo o caso, achou melhor seguir o conselho e nada mais normal do que ir à faculdade, ainda mais quando era fim de semestre e tinha provas.

Pegou sua mochila e correu para o ponto de ônibus, ainda estava cedo, queria chegar a tempo de tentar dar uma revisada na matéria da prova antes da aula, considerando que não fez isso durante o fim de semana. Sua van chegou poucos minutos depois e ela agradeceu em silêncio. Podia estar ficando paranoica, mas jurava que estava sendo observada.

Sentou no último banco depois de pagar a passagem e encostou a cabeça no vidro. Se não fossem pelos solavancos, teria dormido ali mesmo. Estava torcendo para ter um dia bom quando seu celular tocou, era Bárbara.

Sua vida já tinha mudado bastante, mas por essa Sophie não esperava. Arnaldo não estava bem de saúde e Marcia não estava dando conta de cuidar dele sozinha, ainda mais com seus próprios problemas de saúde.

Ela tentou argumentar com seus pais por telefone, agora tinham dinheiro, se fosse necessário, contratariam uma equipe médica para cuidar dos dois. A verdade, é que mesmo sabendo que ficaria longe dos pais, sabia também que equipe nenhuma superava os cuidados da família e seus tios pouco se importavam com os pais.

Foi obrigada a concordar, provavelmente na próxima semana, moraria oficialmente sozinha, Bárbara e Rogério iriam buscar seus pertences e morar na antiga casa de Lígia, assim ficariam mais perto de Arnaldo e Macia.

A garota se despediu dos pais e desligou o telefone com uma imensa vontade de chorar, por mais adulta que fosse, gostava de tê-los por perto e não pensava em sair de casa tão cedo, jamais imaginou que seus pais sairiam de casa.

Escolheu a mesa mais afastada da cantina quando chegou e se jogou em uma das cadeiras, seu dia já não estava sendo bom. Sentia-se culpada por ser tão egoísta e infantil a ponto de tentar contrariar os pais, eles precisavam estar lá, a filha não dependia deles há muito tempo, agora precisavam voltar ao ninho, assim como um dia a própria Sophie faria.

Abriu seu caderno e tentou se concentrar em suas anotações, estava preparada para as provas, mas do jeito que sua cabeça estava não custava nada reforçar, além de ser uma ótima distração.

Carlos chegou primeiro e foi logo enchendo a amiga de perguntas, a procurou durante o fim de semana e Letícia o avisou sobre a viagem.

— O que aconteceu? Você parece um zumbi! – Ele se apoiou na mesa e se inclinou para frente. Estava apenas brincando, mas quando a encarou e viu os olhos marejados da amiga, como sempre, tentando segurar as lágrimas, se arrependeu de ter falado daquele jeito. — Sério, amiga, o que foi?

— Aconteceu tanta coisa... – Nem sabia por onde começar e muito menos como contar sem revelar sobre seus sonhos, mas precisava conversar com alguém de confiança. — Preciso contar umas coisas, não sei se você vai acreditar, mas...

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