Capítulo 8

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Uma viagem de merda, coincidência e reunião de família.

Os dois tiveram que esperar Sophie tomar um banho e depois ouvi-la reclamar por terem se hospedado em um motel. A tensão entre Lucas e ela havia diminuído um pouco pelo menos, mas a tensão entre a garota e Fernando só aumentava.

Mesmo depois de ter tomado remédio, a dor de cabeção não passou, então decidiu dormir um pouco, talvez ajudasse. Pegou outro comprimido e engoliu com o restante de isotônico que ainda tinha na bolsa. Seu sono estava um tanto difícil no começo, acordando e dormindo, vezes escutando partes da conversa no carro e o rádio baixo e vezes tendo sonhos aleatórios.

Lucas a observava pelo retrovisor, desejando não ter conhecido aquela garota e se repreendendo por estar gostando dela, precisava aprender a não se envolver nas encrencas do irmão, mas sentia que já era tarde.

O sono dela estava agitado e ele desconfiava do motivo. Infelizmente, seu irmão conseguia encontrar as pessoas que a agência precisava com muita facilidade, entretanto, tinha os piores métodos para recrutar essas pessoas. Não que Lucas fosse o melhor, mas com uma garota havia outros meios a serem tentados antes.

— Não se preocupa, ela está dormindo. Pode fazer o teste, você vai ficar surpreso. – Fernando não desviou os olhos da estrada.

— Não é certo o que você está fazendo. Aquele garoto já contou o que ela faz, daqui a pouco a Natália vai saber também e o velho já está desconfiando.

— Deixa de ser frouxo, nunca te vi hesitar assim. Qual é o problema? – Ele sabia qual era problema e já planejava como usar isso ao seu favor.

— Só estou preocupado. Você está dando lúcido para ela, isso tem efeitos colaterais e nem sabemos se a precognição dela é mesmo espontânea como a do Hiago.

— Ela ainda está viva, então não precisa se preocupar, modifiquei um pouco a fórmula. Os sonhos são espontâneos e são melhores que os do garoto. – Observando a reprovação do irmão, logo se adiantou para dar o que ele queria. — O único efeito que observei nela foi dor de cabeça, mais nada. Os outros efeitos só acontecem com o uso prolongado, mas não vejo quem tem reclamando depois.

— Lúcido com remédio pode ser perigoso. – Lucas soltou um suspiro pesado, custava a acreditar que Fernando pudesse gostar de alguém sem causar mal, era egoísta demais para isso.

— Eu garanto que é seguro. Agora, faz logo o teste, ou não vai dar tempo. Eu uso uma quantidade pequena para não correr nenhum risco. – Ele fez questão de enfatizar a última palavra e voltou sua atenção para a estrada. — Anda, Lucas! – Fernando não entendia como uma garota podia fazer um dos melhores da agência e mais temidos, amolecer daquele jeito. — Ainda precisamos conversar sobre algumas coisas que levantei sobre o passado dela. Para de perder tempo.

Lucas inclinou seu banco para trás, nunca se sentiu tão culpado ao testar alguém. Repassando o que aconteceu mais cedo no motel, pensou no quanto admirou a coragem dela, apesar do medo. Nos olhos dela pôde ver a escuridão que todos que carregavam esse dom possuíam, raramente conseguiam se livrar dela.

Não conseguia ver crueldade naquela garota, somente instinto de sobrevivência, mas aquele olhar sombrio e sofrido era a marca de quem poderia mudar de acordo com as circunstâncias impostas, não queria que isso acontecesse.

Lamentou por não poder impedir o que seu irmão já tinha começado e por saber que se não houvesse um acordo entre Sophie e a agência, teria que entrar em ação. Então decidiu que faria parte daquilo e a ajudaria como pudesse.

Fernando a acordou. O sol machucou seus olhos assim que os abriu e resmungando, se endireitou no banco e tentou novamente olhar para fora. Ainda estavam na estrada, parados no acostamento. O dia começava a amanhecer, mas o sol já estava forte.

Manipuladores do Futuro (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora