Meu pai abriu a porta do quarto e eu sai dali sem saber o que pensar, e eu só tinha a certeza de duas coisas naquele momento: eu amava o Duda mas que nunca e eu tinha que me afastar dele, ou eu não responderia por mim. Passei os últimos dois dias trancado no quarto, sem comer, sem ir no banheiro, sem beber água, entrei em um estado desprezível.. um estado tão desprezível que terminei o namoro com o Alexandre pelo telefone.- Oi amor, escuta, eu tô pensando em a gente passar o final de semana na fazenda do meu pai, o que você acha? - Diz o Ale, com aquela voz de felicidade que ele esbanjava diariamente.
- Não vai dar, Alexandre.
- Uai, por que não?
- Alexandre, eu quero terminar.. eu sinto que não estou dando 100% de mim nessa relação, e eu não tô afim de fazer você sofrer, você merece muito mais do que eu
Ele chorava.
- Tudo bem, eu entendo! Será que a gente pode, pelo menos, continuar sendo melhores amigos?
- Acho que sim, Ale!
- Então tá, saiba que eu tô aqui pra tudo, viu?
- Obrigado, te amo irmão!
- Te amo também.. mais do que queria.. - Ele desligou o telefone.
Eu sabia que ele tinha ficado mal, eu também fiquei, mas seria pior se eu tivesse continuado a namorar com ele com a consciência pesada por te-lo traído-.
Juro pra vocês que depois que terminei com ele, foi como se um peso fosse tirado das minhas costas a partir do momento que desliguei o telefone. Como tava morrendo de fome e de sede, desci as escadas, mas como eu tava fraco, quando cheguei no ultimo degrau da escada, acabei desmaiando e caindo no chão.
Eu acordei deitado em uma maca. Todo o meu corpo doía e tinha uma agulha enviando soro para as minhas veias. No meu lado, o duda estava sentado em uma cadeira do mesmo modelo da que eu sentava no quarto dele; do outro lado, meu pai dormia em um sofá-cama daqueles típicos de hospital. Meu celular estava carregando na cabeceira da cama e, sem fazer barulho, olhei as horas: eram 03:17 da manhã. Tentava dormir mas não conseguia, ficava me perguntando o que diabos eu fazia ali, em um hospital. Fiquei olhando pro teto e, novamente, voltei a pensar em tudo que havia acontecido na minha vida nesses três meses que se passaram: minha mãe morreu, descobri que sou gay, me apaixonei por dois caras (sendo que um deles é meu meio irmão, tentou me matar e quase morreu) e agora estava ali, deitado em uma cama de hospital.. duvido que alguém naquela cidade tivesse uma vida mais agitada que a minha. Em meio as minhas turbulências, dormi..
Quando acordei, havia um aglomerado de pessoas em volta de minha maca; meu pai, a Marta, meu irmão e sua namorada, o duda (com a ajuda de uma moleta), o Alexandre, a Mariana, o Dr Henrique e uma pessoa que me chamou MUITA, mas muita atenção e que e talvez a ultima que eu esperaria ver ali: O Joaquim.
Todos vieram me cumprimentar, me dar beijos e abraços, menos duas pessoas: O Duda e o estranho do Joaquim. Todos se sentaram, olhei pro Joaquim como se não lembrasse dele e fiquei encarando-o enquanto ele fazia o mesmo.
- Oi pra você também - disse com uma voz irônica.
- Ah, oi. - Respondeu.
- Filho, nós vamos tomar café, mas já voltamos. - Disse meu pai, dando um beijo em minha cabeça.
Todos saíram, então só ficaram no quarto eu, a Mari e o Joaquim.
- Mariana - sussurrei
- Oi migo - disse ela
- O QUE DIABOS EU FAÇO AQUI????? - sussurrei como se quisesse gritar.
Antes de ela me responder, o pai dela aparece na porta.
- Filha, venha tomar café conosco.
- Já vou pai. - Respondeu.
- Depois nos falamos, beijo - disse ela, soltando um sorrisinho e fazendo sinal de depois.
Ah, bolas.. eu estou em um hospital, sozinho e com o menino mas estranho da sala.. viva!!! - pensei.
Todos me abandonaram: Meu pai, meu irmão e até meu melhor amigo.. que bosta de vida. - pensei alto.
- Não se lastime, pelo menos você tem um melhor amigo.. - Disse o Joaquim.
Aquela era a primeira vez que aquela criatura falava mais de 6 palavras comigo. Eu realmente estava surtando.
- Então, vem cá, vamo levar um papo - Apontei pra cadeira, fazendo sinal pra ele se sentar.
Ele sentou
- O que diabos eu faço aqui?????? - perguntei
- Bom, não sei bem e não ligo, mas pelo que eu sei você tava fraco e caiu da escada, por isso está aqui nesse estado no mínimo humilhante. - respondeu.
- Cara, qualé a suaaaa, você me odeia por que? Alias, se não liga, por que tá aqui?
- Porque você me lembra muito... o meu melhor amigo... - respondeu.
- Ah, sei, ele... morreu... né?
- Sim, mas não quero falar sobre isso.
- Tudo bem. Mas isso não justifica nada. Ainda te acho um babaca por estar aqui. - resmunguei
- E eu te acho um estúpido por ter ficado sem comer por nada
- Mereço, tenho um 5° pai agora
- HAHAH, sai fora!! Gosto de você - disse, me fazendo cócegas.
- Sai fora, eu não gosto de ti não - respondi rindo.
- É mesmo? Parece que o analgésico que vai pra sua veia, evitando que você sinta dor, é enviado por essa agulha aqui.. - disse ele, apontando pro tubo.
- Seria uma pena se eu tirasse o tubo de você - continuou.
Eu estava impressionado, o cara estranho e calado da sala estava ali, tirando onda com a minha cara. Enquanto ele fazia cócegas pelo meu corpo, percebo uma coisa que poderia foder com tudo de novo: O duda olhava tudo pela janela da porta..
Continua..
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O certinho com o desleixado
Short StoryQuando o cupido resolve brincar com o coração de um Durão? Ou melhor quando se apaixona pelo seu irmão emprestado por ele ser tão desleixado, ou tão esnobe. Acompanhe essa jornada!!