Capítulo 15

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Finalmente chegamos em Detroit. A viagem foi bem cansativa, passamos quase 3 horas no panamá. O frio era intenso, mesmo com 2 camisas de frio e duas calças térmicas eu ainda sentia frio. Quando chegamos no aeroporto, fomos recebidos pelo meu tio Ricardo. Ele tinha 38 anos, era careca e um pouco gordo, ele parece muito com esse ator de Boa Sorte, Charlie (http://3.bp.blogspot.com/-MIXUxO8ztds/T8T0wYMb7aI/AAAAAAAAEh0/LRE3AdINf6s/s1600/IMG_6324.jpg). Ele era muito gente boa e, como já disse antes, ele era dono de um hotel bem conhecido em belleville, em Michigan. Apresentações a parte, fomos para o hotel. Ele apresentou o nosso apartamento, tinha dois quartos e era lindo, igual casa de série americana. Tinha dois quartos, um pra Mari e outro que eu teria que dividir com o Joaquim. Depois fomos conhecer a escola. Como chegamos lá em meados de março, o ano letivo tinha acabado de começar, então na segunda teríamos que ir a escola. Ele também logo tratou de dizer que seria liberal com a gente, mas a gente tinha que colaborar: qualquer passo em falso e era escola-casa. Claro que concordamos. Ele nos deixou a sós e então comemoramos abrindo uma champagne que tinha na geladeira. A primeira semana foi bem difícil e quase pensamos em desistir. A saudade de casa era imensa, a temperatura era completamente diferente (chegamos no começo da primavera, mas mesmo assim ainda fazia -14°C), a programação na tv era completamente diferente, tudo era diferente. Ali nós só tínhamos a nós e a nós mesmos. A semana passou voando e logo chegou o dia do primeiro dia de aula, fomos andando pra escola que era apenas uns 3 quarteirões de distância, tudo era confuso. Nós três nos viamos pouco na escola, já que só faziamos as disciplinas obrigatórias juntos (matemática, inglês, ciências, história..), então pude conhecer várias pessoas legais. Um deles era o Mark. Loiro, 1,76 de altura, tinha um físico legal e era bem legal, a gente teve um rolo rapido mas não durou muito porque eu só tinha olhos pra uma pessoa: o Duda. Não, mesmo estando a milhas de distância dele, eu não conseguia esquece-lo.

Logo começaram as provas então me dedicava bastante. Eu ficava boa parte do tempo sozinho em casa, ja a Mari começou um namoro com um menino da classe de teatro e o Joaquim estava empenhado no time de lacrosse da escola. Um dia fui abrir o skype pra conversar com alguns amigos do Brasil, quando um convite me surpreendeu. Era de uma pessoa que eu nunca havia ouvido falar na vida, então pensei que era alguem do colégio, mas me surpreendi quando vi a foto: era o Duda.

- E ai En, como tá ai? - perguntou.

- Tá tudo muito bem, e por aí?

- Não tá a mesma coisa sem você aqui do meu lado.

- Hum. Tenho que ir. - e sai do skype.

Confesso que fiquei feliz em saber que ele não tinha encontrado ninguém e que ainda pensava em mim, então me lembrei que nunca havia abrido a caixa que meu pai havia me entregado no aeroporto. Dentro dela havia um álbum de fotos e um moletom, o mesmo que ele usou no nosso primeiro dia de aula. Dormi ali, agarrado naquele moletom.

O dia seguinte passou arrastado, tive várias provas e cheguei em casa exausto. Entrei de novo só pra ver se ele estaria ali, e ele estava.

- Eu tô com saudade. Atende a minha chamada. - disse ele.

Era uma chamada de vídeo. Aceitei.

- Eu PRECISO te falar uma coisa. - disse ele. Seu estado estava péssimo, ele parecia um mendigo, ele estava com olheira e seu cabelo estava grande, ele estava magro, e então me senti culpado.

- Eu sinto a tua falta En. Hoje foi um dos dias que eu chorei por não te ter aqui comigo. Eu sinto saudades do teu cheiro, do teu corpo, do teu sorriso, do teu amor.. e não sinto só saudades da tua presença, sinto saudades dos teus conselhos, das tuas birras e de todos os seus mínimos detalhes, detalhes que me fizeram ficar perdidamente apaixonado por você. Acredita que eu senti saudades até do teu dedo quebrado que ficava torto quando tu fazia "ok"? Eu parei pra pensar que eu não fui o cara perfeito, até porque você não me deixou provar isso, mas eu quero ser e eu sei que posso ser, En. Eu não aguento mais ficar sem te ter. Hoje mesmo eu procurei a tua camisa preferida, a camisa vans que tu usava no dia que eu sofri aquele acidente e que você fez a sua promessa estupida pra me salvar, e eu achei ela. Vesti e nunca me senti tão bonito. Eu lembro de uma vez que você voltou pra casa da sua mãe e deixou o seu urso preferido aqui, então coloquei uma camisa tua nele e chamava ele de En, por sua causa, claro. Olha (nisso ele já tava chorando, e eu também), eu não sou bom com as palavras, mas te falei tudo isso pra poder expressar o sentimento mais dolorido em mim: a saudade. E também pra deixar claro pra você que eu não vou fazer cagada dessa vez e que eu te amo muito.

- Eu não sei o que responder, mas não é tão fácil, Eduardo. Vamos dar tempo a tempo, já que dizem que ele é o menor remédio, certo?

- Certo.

Depois disso, conversávamos todos os dias, assunto era uma coisa que não faltava. O ano passou rápido demais, e então finalmente chegou o tempo das provas finais (pra nós eram as finais, já que o ano letivo lá só termina em fevereiro). A Mari havia terminado com o namorado dela, o Joaquim já havia ganhado os jogos finais com seu time de Lacross e eu havia sido um excelente aluno. Nesse tempo eu sumi um pouco do skype, já que tinha que estudar dobrado e tinha que correr atrás das documentações pra levar de volta pro Brasil e tudo mais. O grande dia finalmente havia chegado: era o dia de voltar pro Brasil. Dia 22 de dezembro de 2012. Pedi pro meu pai e pra todos lá de casa fazerem surpresa e não contarem nada pro Duda. Ainda nos EUA, conversei com um padre e ele me disse que eu poderia "converter" a minha promessa, então decidi que todo o dia de cosme e damião eu iria dar doces as crianças necessitadas, assim como minha mãe fazia. Embarcamos as 13 da tarde e chegamos ao brasil as 3 da manhã. Nossos pais estavam no aeroporto, mas nem foi uma choradeira igual na ida, porque eles haviam ido nos visitar algumas vezes no decorrer de nossa estadia nos EUA. Chegamos em casa e fui pro meu quarto descansar. 11 horas da manhã do dia 23, meu quarto estava uma bagunça. Tomei um banho, fiz minha higiene e fui no quarto do duda.

- Cheguei. - Disse dando um grito na porta do quarto dele.

Continua..

O certinho com o desleixado Onde histórias criam vida. Descubra agora