Match!

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Eram dez horas da manhã de sexta-feira. O tempo estava um misto confuso de calor e nublado, com ventos frequentes para regular a temperatura — o equilíbrio perfeito.
Emma acordara mais cedo para tomar banho e fazer sua higiene matinal com mais calma, além de ter certa vantagem com a água quente que, se deixasse Lacey ir primeiro, acabaria com tudo. Lentamente lavou os cabelos loiros e longos que precisavam de um corte urgente esfregando os dedos preguiçosamente no couro cabeludo.

Após terminar enxugou-se e vestiu as roupas íntimas admirando-se no espelho acima da cômoda — as cicatrizes do acidente eram visíveis mesmo depois de um espaço médio de tempo e do cuidado que se teve ao sutura-la. Cruzando os dedos sobre a pele marcada, se Emma fechasse os olhos poderia ouvir o som do crash na batida e recordar a da dor que sentira. Era terrível, loops e mais loops de memória a invadiam, desde o ímpeto de salvar os amigos ao verdadeiro significado suicida do impulso que a levara a tal ato, até que forçou-se a deixá-lo de lado — e logo depois tratou de vestir sua blusa branca de manga três quartos com gola social e pôs o suéteres vermelho por cima, enfiando-se em uma calça jeans escura e um tênis.

Indo para mais perto, frente do espelho, penteou os cabelos e os secou com o secador enquanto olhava-se no grande pedaço de vidro polido; meneou a mão à bochecha esquerda onde jazia uma cicatriz — outra, mesmo sendo ínfima, jamais esquecida — que por mais que a feriada parecesse estar fechada, ainda doía como estivesse aberta.
A loira fechou os olhos enquanto tocava o rosto e viu em flashes tudo o que se passaram naquela noite e da manhã em que viu sua mãe pela última vez.

Lacey, que já havia acordado, tirou o secador da mão da amiga, que estava parado sobre um único local. Desligando o utensílio, ela deu um sorriso tranquilo para Emma e a elogiou pelas roupas que estava usando hoje.

— E vou até colocar batom — disse a loira

— Por isso que tá uma ventania do cacete lá fora! — riu

Era hora de convencê-la; o plano de Henry era o seguinte: ele havia achado em algum lugar da internet, um restaurante às cegas chamado Camaje Bistrô, onde as pessoas criavam um perfil no site deles e conversavam para marcar um encontro. O lugar era um breu, até os garçons usavam óculos de visão noturna para guiarem-se. O ato de conversar, poder mostrar fotos, não seria mencionado para Emma e Regina pois seria um desastre além de estragar todo o clima, como Henry prefere dizer.
Kristin iria dizer que já havia conversado previamente quando o cadastro estivesse feito e Lacey a mesma coisa depois que topassem fazer o perfil e só aí, marcariam a data. Não tinha como dar errado.

Após se arrumarem, saíram do alojamento com tempo de sobra para tomar um café da manhã bem demorado do outro lado da rua. Juntaram os matérias e seguiram para a loja.
Ficaram na fila e pediram seus cafés,  e logo depois, sentaram em uma mesa perto da janela.

— Emma — chamou — Sabe o que eu tava pensando?

— Não — disse dando uma mordida na rosquinha — Perdi meus poderes telepáticos

— Chata — reclamou jogando o cabelo para trás do ombro — Eu acho que você precisa sair, sabe, com alguém...

— Eu não preciso de nada Bela — dispensou-a com um gesto — Chega de garotas!

— Até parece que esse seu "chega de garotas" é de verdade — riu — É sério, vai ser legal! Eu achei até um site...

— Site de relacionamento Lacey?! Você só pode tá brincando! — sua expressão era de total descrédito

Droga, que garota difícil! Pensou a morena

— Você nem deixou eu me explicar — bufou — É um restaurante que disponibiliza encontros às cegas... Eles só servem a comida quando estão todos vendados e...

A PianistaOnde histórias criam vida. Descubra agora