Sou Sua Família

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Emma estava completamente absorta em seus pensamentos dentro do taxi. Estava com a cabeça encostada na janela e um sorriso no rosto enquanto olhava rua a fora para lugar nenhum, conferindo-lhe uma expressão sonhadora. Uma música agradável em volume baixo, mas claro o suficiente para a compreensão, embalava a viagem da moça de volta ao campus.
O motorista — um senhor de mais ou menos cinquenta e dois anos — a observava com um sorriso.

— Pensando no seu namorado? — mas logo depois acrescentou — Ou na sua namorada?

A pergunta do homem fez Emma despertar e direcionar-lhe um sorriso cheio de dentes.

— Ah não... — suspirou e riu — Eu só tive um encontro, ela não é a minha namorada — sorriu mais um pouco — É confuso... — admitiu

— E como foi? Digo, o encontro  — perguntou o senhor entusiasmado — Se a senhorita quiser me contar é claro!

Emma assentiu de leve surpresa com a empatia daquele senhor que ela nem sabia o nome e começou a contar tudo a ele, desde como conheceu Regina até a noite do encontro. Ela precisava desesperadamente contar a alguém para liberar toda a euforia que tinha tomado conta de seu coração naquele momento, mesmo que fosse para um estranho,  —  e surpreendente amável — taxista.

— Uau, vocês têm uma história e tanto — comentou com um assovio alegre — E ela salvou sua vida uma vez... Parece até história de filme!

Emma riu e assentiu concordando. No mesmo momento o senhor parou o taxi na rua da faculdade e ela pôde ver a faxada do local. Pagando a corrida, Emma desceu descalça do veículo e disse ao senhor para ficar com o troco e agradeceu também por ser um ouvinte agradável.
A loira subiu na calçada apoiando sua bolsa no ombro direito, acenou de leve e virou-se a tempo de presenciar uma das cenas mais cruéis que já vira; dois rapazes, — provavelmente estudantes — cada um com duas garrafas de vidro na mão, derramaram seu conteúdo em cima de alguém que estava deitado no banco. Emma correu em direção aos agressores agindo no calor do momento, que correram largando as garrafas no chão quando a viram; a loira tacou-lhe os saltos — a única arma que ela tinha nas mãos — acertando a canela de um deles

— Vão se foder seus desgraçados! — gritou em plenos pulmões enquanto os via correr para longe

Do seu lado, a vítima levantava sacudindo os braços e usando as mãos para livrar-se do líquido que escorria em seu rosto e cabelo. Emma virou-se e viu que se tratava de um menino de aproximadamente quinze anos e tal fato, resgatou-lhe memórias dolorosas do passado.

Quando fez treze anos, ela fugiu da casa de Ingrid a noite correndo para qualquer lugar que fosse com o intuito de encontrar os pais. Não obtendo sucesso, Emma viu-se perdida em um lugar que não conhecia e onde ninguém a conhecia; as pessoas não foram nem um pouco gentis e a trataram como se fosse uma trombadinha — chegaram a cuspir dentro de uma garrafa d'água e oferecerem a ela — sua única opção foi dormir em um ponto de ônibus e torcer para que alguém fosse bom o bastante para lhe ajudar.

Dissolvendo os pensamentos, a loira abaixou-se no nível do garoto e o olhou um pouco antes de falar. Seus cabelos lisos que eram de um castanho tão escuro que confundia-se com o preto corriam soltos e unidos pelo rosto, a pele clara queimada pelo sol, indicava que ele não era de Boston. Além das feições familiares, o que mais a intrigou foi a cor dos olhos do menino — tão verdes iguais aos seus.

— Você tá bem? — perguntou

O garoto a encarou com as suas esmeraldas brilhantes  e ergueu uma sobrancelha como se dissesse "eu pareço bem?"

A PianistaOnde histórias criam vida. Descubra agora