Lacey pegou a sacola que tinha deixado cair no chão com o susto. Também pudera, não é todo dia que se vê um garoto branco igual a um defunto deitado no chão do seu quarto.
Emma entregou a Neal peças de roupas limpas — uma blusa preta de algodão com mangas, uma calça jeans igualmente preta e meias limpas e o guio para o banheiro. Onde conseguira era um mistério para a morena mas tinha suas suspeitas.— O que o Killian te pediu em troca das roupas dele? — questionou Lacey
— Você ficaria surpresa — comentou Emma com seu deboche usual
— Me conta! — insistiu
— Ele pediu a marca dos seus delineadores — segurou o riso — Ele me contou que você não queria falar pra ele
— Emma! — repreendeu Lacey rindo — Ele usa delineador melhor que eu, vai ficar mais bonito não posso competir com ele!
A loira riu. O fato do Killian ser gay não passou despercebido por ela, porém o rapaz negava toda vez que questionado e dizia que usava lápis e delineadores porque seus olhos eram muito grandes — uma enorme mentira. Deixa estar, porta de armário velho abre sozinha, dizia para si.
Neal havia saído do banho, e as duas o encararam. Com a cabeça baixa sentindo os olhares, ele arrastou-se em silêncio até a mochila e guardou as roupas ainda cheirando a álcool dentro dela, não queria incomodar a irmã com isso.
Lacey suspirou. Teria que deixá-los sozinhos por um momento para se acostumarem com a presença um do outro. Ela soube o quanto foi difícil para Emma crescer sem sua mãe e pai biológicos por perto, pois ela estava lá durante todo o processo; viu sua amiga chorar várias vezes, ter pesadelos incontáveis e mesmo não tendo ideia da dor que sentia, pôs-se no lugar dela e permitiu-se ficar triste. Agora, com Neal aqui, seria mais difícil para ela encarar o abandono, uma vez que ele estava lá, indicando que sua mãe seguira em frente.— Vou comprar refrigerantes — disse ela quebrando o silêncio desconfortável — Volto rápido!
Ao ver a amiga bater a porta, Emma levou uma das mãos à cabeça e escovou o cabelo; Neal sabia o que significava: desconforto. Ela andou até o pequeno sofá e sentou-se logo depois sinalizando para ele se sentar também.
— Como você soube de mim? — perguntou sem rodeios
— Nossa mãe me disse sobre você — contou — Me mostrou fotos
— Sua mãe Neal — respirou fundo e tocou as têmporas — Ela contou também o que fez comigo?
— Ela é sua mãe também Emma —rebateu — E sim, disse... — falou quase como um sussurro — Ela me disse que foi preciso para que você não sofresse... Ela tem medo!
— Eu sofri por ficar longe dela! — sentiu a garganta arder — Medo do quê?! Heim?! Ela é minha mãe Neal, não deveria ter medo de mim!
Uma lágrima quente e solitária escorreu do canto de seu olho esquerdo. Com a mão cobrindo os lábios, Emma franziu os olhos na tentativa de reprimir o choro. Porém, quando sentiu os braços mornos de seu irmão se enrolarem em seu pescoço, não teve alternativa senão desabar.
O garoto nada disse, apenas prontamente a consolou e a deixou ter mais um de seus momentos — era demais para ela.****
Após ter chorado bastante e conversado melhor com Neal, Emma estava mais calma. Lacey voltara da rua muito tempo depois com duas latas de refrigerante e uma caixa de suco pois sabia que Emma odiava beber refrigerante. Ela dera o maior sanduíche para Neal, que aceitou sem protestar devorando-o em poucos minutos. Sua fome era tão grande que estava quase palpável.
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A Pianista
RomanceCheiro de terra molhada, vidro embaçado, xícara de café sobre a escrivaninha, e folhas rabiscadas com poucas palavras. Ali tinha um sentimento: saudade. Mas não era saudade de uma moça, uma amizade, um conhecido ou um rosto nada familiar... Era saud...