O Que Temos, Emma?

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Austin, Texas — Estados Unidos

Fazia quase uma semana que Neal havia desaparecido. Mary, David e Leopold — o seu pai — procuravam avidamente pela vila onde moravam. A mulher tentava diversas vezes refazer na cabeça a noite em que seu filho sumiu — quer dizer, ela sabia que ele não havia sumido e sim fugido pois a mochila do garoto e algumas de suas camisas haviam desaparecido com ele. Até a identidade e seu pote de economias.
Ela notara que Neal andava pensativo desde que soube do acidente de Emma, mas não demonstrara quaisquer  sinais de quem estava prestes a abandonar a casa onde crescera, e considerava tal estado contemplativo normal. Naquela noite à mesa do jantar todos estavam sorrindo, inclusive o garoto. Conversavam animadamente sobre qualquer coisa e vez ou outra Neal era questionado sobre a escola e o mesmo respondia com o mesmo humor de sempre. Por isso, não entendia o por quê.

A mulher não podia acreditar no que estava acontecendo; como se ficar longe de sua filha, não ter o seu amor e carinho não fosse castigo o suficiente. A vida mais uma vez lhe puxara o tapete sob os pés e ela encontrava-se desequilibrada à beira de um precipício que não parecia ser fim. Cogitara no suicídio por tamanha dor e vazio que sentia e não era só por Neal e seu sumiço, era também por Emma — Mary Margaret não suportava mais conviver com a culpa ao imaginar o desfalque que o abandono causou em sua filha e o que a separava de tal atitude era David, que não ousara sair do seu lado uma sequer vez. Sua covardia superava a vontade de correr atrás dela e implorar seu perdão de joelhos, se não fosse por August e toda sua bondade, ela mal conseguiria imaginar o rosto da própria filha.

Agora sentada no sofá em todo seu torpor, Mary encarava o nada presa em seus pensamentos até o momento que David entra esbaforido pela porta da frente. Ela se levanta; isso só poderia significar que tinha notícias de Neal.

— Eu fui correndo ao correio quando aquele meu amigo me ligou — David respirava pesadamente — É do Neal, eu já vi o que é

— E o que é?!

Perguntou ansiosa gesticulando e quando não obteve uma resposta clara, tomou o envelope de suas mãos e o abriu.
Dele, tirou uma foto. Choque. Era uma foto do menino abraçado à sua irmã com os rostos colados, ambos exibindo um lindo sorriso. Neal usava um cachecol e uma jaqueta robusta e Emma estava igualmente agasalhada, mudando apenas a cor da jaqueta. A luz fraca do sol incidia sobre o rosto deles no momento exato da foto e ao  fundo da fotografia, a Estátua da Liberdade.
As pernas de Mary lhe traíram e falharam, fazendo-a pender sobre os joelhos. E chorou. Chorou aliviada por saber que Neal estava seguro sobre a tutela da irmã...

Emma, sussurrou em pensamento. A essa altura ela já deveria saber de tudo. Sorriu em meio às lágrimas, secando-as logo em seguida quando sentiu os brações de David ao seu redor.

— Isso não é maravilhoso? — comentou ele compartilhando lágrimas sinceras de felicidade — Eles estão juntos e parecem se dar bem

Mary estava entorpecida demais para falar e apenas assentiu tocando a foto como se estivesse tocando-lhes os rostos. O sorriso brilhante que não dividia com os outros em meses — na verdade anos — jazia em seus lábios e não ousava desmanchar. Seus filhos estavam unidos.

Boston, Nova York — Estados Unidos

Os dias que se sucederam à apresentação da faculdade foram os melhores de sua vida. Emma sentia-se tão leve que achava que poderia alçar voo a qualquer momento. Tal leveza e sensação de paz, possuía nome e sobrenome : Regina Mills.

Desde que compartilharam aquele momento único, a loira se pegou várias vezes levando os dedos ao lábios e se perguntando se aquele beijo fora real ou se era apenas coisa de sua cabeça. Mas não, não foi fantasia; a confirmação veio na manhã seguinte. Enquanto saía de mais uma aula, Emma caminhava aos tropeços tentando pôr todo o material que utilizara na aula dentro de sua mochila, dirigindo-se ao outro prédio afim de colocar em prática a teoria aprendida e foi quando deu-se conta dos cochichos compartilhados entre os outros estudantes, ouviu algo do tipo "quem é ela?" e "uau" durante todo o trajeto que fez sem olhar para frente.
Quando o fez, foi aí que a viu e teve sua surpresa. Regina estava escorada em sua Mercedes preta lustrosa, usando um vestido de tubo preto justo um palmo acima dos joelhos que delineava suas curvas perfeitas e o seus famosos e inseparáveis scarpins negros. Quando a morena avistou Emma na multidão de alunos, lançou-lhe um sorriso largo e brincalhão e jogou as mãos pelos cabelos milimetricamente penteados, fazendo o coração da loira errar as batidas.

A PianistaOnde histórias criam vida. Descubra agora