Neal percebera o que fez e chutou-se mentalmente. Olhou para August, que o olhou de volta com um olhar de estamos ferrados.
Emma cruzara os braços embaixo dos seios, e cada vez mais semicerrava seus olhos. Erguendo uma sobrancelha para o amigo, exigiu em silêncio uma resposta. August suspirou; pediu que Neal pegasse o violão e levasse para trás do balcão e, logo depois, meneou a destra para que Emma seguisse para a sessão de CD'S de pop.— Estou ouvindo — disse a loira
— É uma longa história Ems... — disse o rapaz coçando o pescoço
— Ainda bem que você tá no horário de almoço... — disse Emma levando os dedos ao acaso pelos CD'S — Odiaria estar atrapalhando você — finalizou com um ar de deboche e escorou na estante
Então, hesitantemente, contou. Disse a ela que anos depois de ser adotado, conheceu Mary Margaret na feira em que o pai vendia seus trabalhos de carpintaria e que, logo depois disso, viraram amigos. E, um dia, Mary mencionou que tinha uma filha, porém teve de deixá-la para que tivesse uma chance de futuro melhor até que ela pudesse voltar e mostrou-lhe uma foto.
— Quando eu vi que era você, eu não acreditei — revelou — Então eu contei a ela que fomos criados juntos e ela quase morreu de tanto que chorou! Me implorou por ajuda
— Por que não disse a ela para vir até mim?! — manteve o tom sereno
— Mas eu disse! — gesticulou — Só que ela disse que não podia. Algo na expressão dela gritava medo. Não era o medo de você rejeita-la, eu tenho certeza, era algo mais...
Emma não conseguiu dizer mais nada. Não sabia o que pensar sobre aquilo; já não sentia mais tanta raiva de Mary Margaret, mas não sabia se queria vê-la. Pensou em pedir a August um número de telefone, uma foto... Qualquer coisa que tivesse de sua mãe. Já não conseguia lembrar-se do rosto de Mary, e muito menos o som da sua voz.
— Ems, eu sei que isso é demais pra você agora — disse o amigo — Mas Mary Margaret sente sua falta.
— Eu não sei o que dizer... — pôs as mãos na cabeça — Não me sinto preparada para vê-la ainda
— Por que não lhe manda um email? — sorriu e puxou um bloco e anotou o endereço eletrônico de Mary.
Aceitando o papel, Emma deu um abraço apertado em August em agradecimento e esperava que ele entendesse tal gesto. Olhou para Neal por cima do ombro do amigo, e viu seu semblante preocupado. Parecia sentir-se culpado, então Emma fora até ele e também lhe abraçou.
— Está tudo bem, não estou brava. — disse calmamente aos pés do ouvido do irmão
Emma puxou seu irmão pelos dedos e juntos acenaram em despedida para August, que agora mais aliviado, pôs-se atrás do balcão da loja levando o instrumento para consertar.
A loira estava processando toda a informação em sua cabeça; deveria mesmo falar com Mary Margaret? Deveria convida-la para seu recital no final do ano? Do que será que ela tem tanto medo? Certamente era algo que precisava descobrir e faria isso o mais rápido possível.
A garota atravessou a rua com seu caderno de partituras novo embaixo do braço — estava indo diretamente para o campus junto de seu irmão. Precisaria dele mais do que qualquer um agora e momentos depois automaticamente pensou em Regina e em seu sorriso maravilhoso, o que fez seus membros relaxarem assim que entraram na condução.Austin, Texas — Estados Unidos
David encarava a janela avidamente, preocupado com a expressão de sua esposa ao falar no telefone. Ela andava de um lado para o outro, gesticulando freneticamente e outrora, puxava os fios negros de cabelo.
Cansado de apenas observar, foi até a porta da cozinha e saiu pelos fundos na intenção de escutar a conversa que tanto trazia aflição ao rosto de Mary e assustou-se ao ver que a ligação estava no viva-voz— Como você sabe que Neal está ai? — gritou — Eu não mandei ele atrás de Emma, ele foi sozinho! E sou eternamente grata pela coragem que ele teve! — escorou-se na cerca
— Eu te avisei, não procure mais por ela! — esbravejou uma voz feminina
— Ingrid, omo você pode me pedir uma coisa dessas?! — reclamou — Emma é minha filha! Eu te pedi um único favor, que você cuidasse dela até eu voltar!
— E você acha que é facil assim? — sibilou Ingrid — Eu criei essa menina como se fosse minha, e agora você quer voltar?! Não, não querida Mary Margaret — disse exautada
— Você não tem esse direito, Ingrid! — rebateu — Eu vou atrás dela!
— Não pague para ver, Mary Margaret!
O telefone ficou mudo. Ingrid havia desligado. A mulher agora havia cedido e se esparramado no chão; suas lágrimas pingavam de quatro em quatro num choro mudo enquanto o telefone sem fio estava pousado em seu colo.
David sentiu seu coração pesar mil quilos. Ele sabia de toda a história e de todas as tentativas de Mary em tentar resgatar o tempo perdido com sua menina. Ela enviava cartas todos os meses, mas quando Emma fez quinze anos, a carta que ela mandara para felicitá-la por seu aniversário foi devolvida. Assim como todas as subsequentes à esta data. Timidamente, o homem saiu dos fundos da casa se aproximou da varanda; ficou olhando-a da escada em seu luto interminável.Quando Mary o viu, tentou imediatamente ficar de pé e secar as lágrimas. Mas, seu marido prontamente se juntou a ela no chão e a abraçou. Ficaram naquele abraço quente embolado, na confusão de braços e cabelo, até que Mary se recompusesse.
Era hora do jantar, e ela estava sem fome. Seu pai havia feito um jantar delicioso, mas ela mal havia tocado na comida. Além de estar morrendo de saudades de Emma, sentia falta seu filho mais novo, Neal. Ela sabia que ele estava em segurança e do lado da irmã, mas, seu sorriso, beijos e abraços depois do colégio, as visitas na horta, e as surpresas que ele lhe fazia todos os dias antes do jantar voltavam à sua mente feito um turbilhão de memórias que, apesar de serem felizes, agora traziam a tristeza para embotar-lhe os olhos.Mais tarde naquela noite, Mary sentou-se ao computador para ver se August havia lhe dado noticias. E não havia nada. Sequer um anúncio barato aparecia em sua caixa de email. Pronta para desligar o aparelho e tentar juntar-se a David em seu sono, uma nova mensagem chegou.
De: Emma <emms_swan@aol.com>
Para: Mary <mblanchard@aol.com.br>
Enviado: 15 de setembro, 22:38
Mary Margaret,
sou eu, Emma Swan. Sua filha. E precisamos conversar.
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A Pianista
RomanceCheiro de terra molhada, vidro embaçado, xícara de café sobre a escrivaninha, e folhas rabiscadas com poucas palavras. Ali tinha um sentimento: saudade. Mas não era saudade de uma moça, uma amizade, um conhecido ou um rosto nada familiar... Era saud...