Doces Descobertas

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  Após as duas darem finalidade ao trabalho, Anna resolveu que era a hora exata para lancharem.
       - Bom, agora que acabamos, que tal irmos lá embaixo para comer o tal bolo?

- Ótima ideia! Eu estou faminta.
       Anna sorriu com a sinceridade da convidada mas então resolveu mudar de ideia ao invés de descer, ela iria levar o bolo para o quarto.
        - Fica aqui e eu desço e pego dois pedaços de bolo pra gente.
        - Okay, enquanto isso eu finalizo alguns detalhes como a capa do nosso trabalho.
       Anna assim o fez, quando chegou na cozinha se deparou com Maria e a serviçal estava varrendo a cozinha e reclamando.
        - Menina, o que você quer aqui?
        - Calma, eu só vim pegar um pedaço de bolo. Não vou atrapalhar a sua limpeza.
       - Acho bom mesmo pois está quase na minha hora de ir embora e não quero limpar migalhas suas e lavar seu prato.
         - Olha, para de reclamar e eu já disse que vou pegar a comida e ir lá para cima.
         - O bolo está na geladeira.
         Anna pegou o bolo e agradeceu. Maria tinha ataques de raiva quando alguém queria entrar ''em sua cozinha'' ainda mais quando ela estava a limpando, mas em geral era uma boa pessoa e fazia de tudo para agradar Anna e seu pai, até mesmo fazer o bolo preferido da loira.
          Anna cortou dois pedaços bem grandes com cuidado para não sujar o chão ou outra coisa e colocou dentro de uma vasilha de vidro com dois garfos para elas comerem. Abriu a geladeira novamente e pegou duas latinhas de coca-cola e subiu as escadas até ao quarto.
          Quando regressou viu que Lola havia terminada de fazer a capa do trabalho e elogiou:
      - Ficou lindo!
      - Obrigada mas então quer dizer que vai chover muito hoje, não é mesmo?
    - Chover? Como assim? - questionou Anna.
    - Oras, você está elogiando alguma coisa! Isso é um milagre!
    - Ha ha ha. Muito engraçadinha você. - debochou a loira.
    - Vai dizer que é mentira minha? Você vive reclamando de tudo e ainda mais algo vindo de mim. Sério, me surpreendi agora - declarou Lola com sua franqueza.
    - Toma logo esse pedaço de bolo e enche essa boca e para de falar besteira!
    Anna entregou a vasilha de vidro e uma das latas de refrigerante para a menina e ela segurou.
   Lola não esperou que ela desse a deixa para começar a comer, pegou um dos garfos e pescou um pedaço de bolo  e enfiou tudo na boca.
    - Que delícia! - declarou de boca cheia - Gosto de comida de mãe.
   Anna estava sorrindo até ouvir a palavra ''mãe'' e então ficou com cara de ''cachorro abandonado''. Lola percebeu e perguntou ainda engolindo o primeiro pedacinho de bolo.
   - O que houve? Disse alguma besteira?
  - Não, é que...
   - O quê? Me fala...
   - É que você novamente tocou no assunto de mãe.
  - Eu só disse que o bolo estava bom e que lembra comida de mãe, de avó, sabe como é? Comida gostosa feita em casa que eu não como há anos...
  - Como assim? - ficou curiosa a loira.
  - Bom, eu não tenho tia, avó e muito menos mãe para fazer uma comida gostosa assim.
   Anna engoliu em seco e ficou calada por alguns segundos mas pensou um pouco e resolveu desabafar.
   - Então você não tem mãe?
   - A minha faleceu quando eu ainda era pequena. Acidente de carro... sinto a falta dela até hoje.
  - Sinto muito... - disse Anna com sinceridade.
  - Tudo bem... mas então me diz, porquê você não gosta que toquem neste assunto?
  - Bom, eu não sei como dizer mas...
  - Sua mãe morreu como a minha?
  - Não, antes fosse isso...
   Lola arregalou os olhos ao ouvir tais palavras e antes que fosse repreendê-la e dar o conselho para parar de falar besteira a menina tristemente confessou:
  - Minha mãe me abandonou.
   Lola arregalou os olhos e ficou parada sem reação como uma estátua.
  - Te abandonou? Como assim?
  - Eu tinha por volta dos 12 anos de idade, era muito nova mas sempre via meus pais brigarem e claro, aquilo me incomodava muito. Minha mãe era anos mais nova que meu pai, ela era bonita, engraçada e extrovertida porém um belo dia se despediu de mim dizendo para que eu obedecesse meu pai e fosse uma boa garota e que não fizesse nada que outras pessoas me obrigassem. Que se fosse para amar alguém, tinha que ser de coração e sem interesses. Guardo essas palavras comigo até hoje, naquela época não as compreendia mas hoje tudo está claro; casou-se com meu pai supostamente obrigada e por dinheiro. Então depois de me dizer isto no meio da noite e me dar um beijo na testa ela partiu e nunca mais voltou. Até sinto sua falta mas a raiva sempre vence e mesmo se ela voltasse hoje em dia, que seria algo improvável, eu não a perdoaria por nada nesse mundo!
   Dolores ficou atenta a cada palavra dita pela jovem e não sabia o que dizer à ela, apenas colocou a mão em seu ombro e tentou tranquilizá-la.
   - Eu não fazia ideia do que você passou mas saiba que não está sozinha nisso. Pode contar comigo a partir de hoje, okay?
   Anna encontrou um sorriso meia boca para expressar que compreendia a menina e aceitava sua ajuda.
   - Obrigada por me ouvir e desculpa qualquer coisa, também não sabia de sua história.
   - Pois é, viu como julgamos sempre as pessoas e seus atos sem ao menos saber pelo que elas passaram ou estão passando em suas vidas? 
   - É, realmente devemos parar de implicar uma com a outra...
   - Devemos? Bom, especialmente você que vive me perturbando na escola...
   Anna sorriu e entendeu o ar de brincadeira.
    - Claro, eu tinha que descontar minha raiva em alguém e você com esses seus cabelos chamativos era meu alvo certo.
   - Ah é mesmo? Eu acho é que você queria ter o meu cabelo, isso sim!
  - Ter o seu cabelo? Ah, faça-me o favor. Olha bem para o meu! - disse rindo.
   - Estou olhando e vejo um ninho de passarinho com cor de gema de ovo e acho bem feio, por sinal.
  - ''Cor de gema de ovo''? Haha - gargalhou a menina - Disse a menina dos cabelos roxo cor de marca texto!
 - Não é roxo, é púrpura!
 - Piorou a situação então!
 - Ah, cala a boca sua metidinha!
- Vem calar, queridinha!
  Lola olhou para o bolo em sua mão e em tom de brincadeira passou o dedo na cobertura de chocolate e levou até a boca de Anna a lambuzando toda.
  Anna arregalou o olho e disse:
  - Ah, é assim então?
  Ela pegou o dedo e passou no bolo e depois sujou a bochecha de Lola.
 - Está sujo aí, queridinha!
 - Aonde? Não consigo ver... - zombou Lola.
 - Bem aqui... 
  Anna se aproximou de Lola e quando iria colocar um dedo aonde estava sujo, Lola levou a boca ao dedo indicador dela e o chupou. Anna ficou atônita e apenas observou a menina chupando seu dedo e sentiu o calor e sua língua sugando.
   Lola parou de chupar o dedo da menina e se afastou sorrindo mas Anna tomou uma atitude que ambas não esperavam. Se aproximou de Lola e a puxou pelo pescoço, ela por sua vez ao invés de se afastar, fechou os olhos e deixou ser conduzida pela loira. Anna não sabia muito bem o que estava fazendo, apenas seguia o seu instinto então levou seus lábios carnudos e rosados que agora estavam sujos de chocolate e encostou nos lábios de Lola.
    Lola retribuiu o beijo e ambas sentiram o gosto da boca da outra com um resquícios de chocolate. Quando iriam abrir mais a boca para realmente se beijarem, ambas foram interrompidas por uma voz masculina e grave ao longe:
  - Meninas, posso entrar? Acabaram o trabalho? O pai de Dolores quer falar com ela ao telefone.
   As duas se afastaram e ficaram se reação, apenas olharam uma para outra e Lola desviou o olhar primeiro e limpou a boca com as costas da mão direita. Anna se limpou e levantou rapidamente abrindo a porta.
    - Então, acabaram o trabalho? - disse o pai de Anna esboçando um sorriso.
    Anna ainda estava desconcertada e confusa com o que havia acabado de acontecer então disse gaguejando:
  - Aca-cabamos, sim.
  - Pois bem, Lola, vá até meu escritório e atenda seu pai ao telefone pois ele está com presa.
   Lola levantou da cama e seguiu o diretor até seu escritório deixando Anna sozinha no quarto com seus pensamentos e sua confusão.
   - O que eu acabei de fazer? - perguntou para si mesma enquanto passava as mãos pelo cabelo loiro e brilhante. Então, foi em direção ao espelho e viu sua imagem refletida e levou uma das mãos até a boca e tocou com um dos dedos e fechou os olhos enquanto esboçava um belo sorriso nos lábios. 

A Cor Púrpura de Teus CabelosOnde histórias criam vida. Descubra agora