Em Ruínas

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NARRAÇÃO DE HENRIQUE

    O jornal que passava na televisão abordava tragédias do nosso cotidiano; criminalidade, homicídio, corrupção e guerras no Oriente. Eu balançava minha perna freneticamente em impaciência de esperar  a chegada de Miranda em casa. Ela estava me evitando de todas as maneiras possíveis. Passou a comer na rua e só chegava em casa para dormir. Quando estava trabalhando no escritório, não olhava em meus olhos e me ignorava sempre que podia. Apenas trocávamos pequenas palavras e isto me doía muito. Eu não aceitaria a separação tão fácil assim, eu lutaria pelo seu amor até o fim, mas algo realmente me tirou do sério; o fato dela ter dormido fora de casa na noite passada. Apesar de estarmos quase nos separando, ainda assim não era certo ela ter dormido fora. Ela jamais tinha feito aquilo antes, nem na casa da mãe dela ela dormia. Aquilo me incomodou muito e eu resolvi questioná-la sobre isso assim que ela chegou em casa.
   A porta foi aberta e eu larguei o controle que estava segurando. Assim que ela chegou e fechou a porta, com uma pasta na mão e muitas folhas de papéis, logo a olhei dos pés à cabeça e dei um pigarro alto o suficiente para que a sua atenção fosse voltada à mim.
   Ela levantou uma das sobrancelhas e com aqueles olhos verdes de tirar  o fôlego mirou os meus olhos azuis.
- Posso saber por onde você passou a noite passada?
   Ela deu um suspiro longo e colocou as pastas e papéis em cima da mesa de centro da sala e cruzou os braços antes de me responder.
- E isto é de seu interesse, por acaso? - ela disse atrevidamente.
- É claro que é, afinal ainda estamos casados no papel.
 Ela deu uma gargalhada debochada.
- É sério isso? Não acredito que você ainda acha que podemos voltar, Henrique.
 Foi neste momento que levantei do sofá e fui em direção à ela.
- Eu não só acredito como farei o possível para ter o seu amor de volta.
   Levei minha mão até à sua bochecha e quando fui me aproximar para beijá-la, senti que ela se afastou de mim e afastou minha mão de seu rosto.
- Não toque mais em mim! Entenda de uma vez por todas que não quero mais estar com você.
  Ela pegou todo o material de trabalho que estava sob a mesa e foi em direção ao escritório mas antes eu a segurei pelo cotovelo.
- Você não me engana, Miranda. Sei que está me traindo, mas saiba que isto vai lhe custar caro. Muito caro!
- Isto é uma ameaça?
- Não, é apenas uma advertência. Preste atenção no que está fazendo pois irá se arrepender muito depois.
  Aqueles olhos verdes me  analisaram profundamente antes de partirem para longe de mim. Vi sua silhueta partir pelo corredor à dentro e se mesclar na escuridão. Engoli em seco pois já não podia ter mais o amor da pessoa que eu mais havia amado em toda a minha vida. Aquilo não era justo. Quem quer que esteja tomando-a de mim se arrependerá amargamente por isto e aprenderá que não deve mexer com a esposa dos outros. Para ter Miranda de volta aos meus braços eu farei de tudo e não me arrependerei de nada.

*********

   NARRAÇÃO DE LOLA

   Erick e eu estávamos  sentados em um dos bancos no pátio do colégio, enquanto comia batatas chips e bebia coca-cola, quando vi um vulto da cor do fogo se aproximando de mim. Percebi que era Sofia usando minha visão periférica.
  - Olá, pessoal! - ela pegou o saco de batatas de minha mão e sentou ao meu lado enquanto pescava uma porção de chips com a mão.
  - Oi, Sofia! - cumprimento Erick.
- Olá, pequena ladra de biscoito alheio - disse brincando enquanto pegava o saco de batatas de volta.
- Sabem qual é a boa de hoje?
- A boa eu não sei, mas temos teste de inglês amanhã e eu não estudei nada.​ Estava até pedindo ajuda à Lola com os últimos exercícios do capítulo 6. A professora da sua turma está passando a mesma matéria? - Erick abriu o livro e estendeu para que Sofia pudesse ver.
- Qual foi, Erick. - a ruiva fechou o livro e colocou-o de lado - A boa de hoje é que vai ter uma super festa naquela boate em que sempre vamos. Vocês vão, não é?
- Não sei, Sofia. Eu acho que você não me ouviu quando disse que tenho teste amanhã de inglês e não quero tirar 0.
- Já ouviu falar na palavra ''colar''? Você pode colar da Lola, a professora Agnes é uma idiota e não perceberia se colassem. Acreditem, meus amigos, eu passei na matéria dela ano passado colando descaradamente do mais nerd da minha turma.
  Erick balançou a cabeça em desaprovação e eu ri.
- Isso não é certo, Sofi.
- Alôoou! - Sofia estalou os dedos em frente ao rosto do menino - Terra chamando Erick. Estamos no Brasil, os caras roubam milhões e ninguém arca com as consequências, acha mesmo que colar em uma provinha vai te fazer ir pro inferno ou pra cadeia? - ela riu em deboche.
- É por pessoas  que pensam  assim como você é que o país está como está.
 Sofia revirou os olhos e com a mão em posição de ''bico de pato'' abriu e fechou imitando a fala do menino.
​- Gente, vamos deixar a política de lado, por favor - eu pedi. - Como é está festa? Quando vai ser?
- É assim que se fala, irmãzinha! - ela  levou o braço em torno do meu pescoço e bagunçou meu cabelo e me disse que horas era a festa.
- Já que vocês vão eu também irei.
- Faz muito bem porque muito estudo deve fazer mal da cabeça. Está parecendo até aquele nerd da sala de vocês o tal de...
- Felipe? - perguntei.
- Isso mesmo.
- Ih, você não sabe. Lola tirou nota mais alta que ele em português.
   Senti minhas bochechas ficarem coradas e olhei para o meu próprio colo enquanto mastigava a última batata do pacote.
- É mesmo? Como conseguiu isso? Vai me ensinar esses truques aí!
  Todos nós rimos e combinamos de nos encontramos em frente à boate. 

A Cor Púrpura de Teus CabelosOnde histórias criam vida. Descubra agora