Suspeitas

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  Após o término das aulas daquele dia no colégio, Lola voltou para sua casa, como de costume e após almoçar, deitou no sofá da sala e lembrou do beijo que havia dado em Miranda. E sorriu ao lembrar da travessura que fez ao deixar o bilhete ousado no armário da professora e citá-lo na presença de Luciana, a professora de inglês. Algo ficou matutando na mente dela, a ideia de ligar para Miranda. Então tomou coragem e aproveitou que estava sozinha em casa e telefonou para a amada.
    Na terceira chamada ela foi atendida e gaguejando, ao ouvir o ''alô'' do outro lado da linha, resolveu responder.
    - Gostou do bilhete que lhe deixei? - disse provocando.
     Lola percebeu a risada abafada da professora ao telefone.
     Miranda, também estava sozinha em casa, pois seu marido Henrique estava no trabalho.
  - Bem atrevida, você. Não acha? - disse sorrindo.
 - Bom, isso eu pensei que você já soubesse sobre mim - riu Lola- Mas a questão é, gostou ou não gostou?
 - Eu amei... mas temos que ser cautelosas...
 O coração de Lola acelerou. A palavra ''cautelosas'' queria dizer muito mais que o próprio significado da palavra. Para a menina, quando ela disse aquilo, era como se ela estivesse confirmando e assentindo ao fato das duas começarem a ter um caso, se assim podemos dizer.
 - Cautelosas... Sim, você tem razão mas fiquei surpresa com você hoje...
- Surpresa, porquê? - Miranda respirou fundo.
- Você não se afastou com nos beijamos...
- Lola, eu...
- Miranda, não há nada que você fale ou faça que irá me afastar de você. Por mais que não queira enxergar, estamos apaixonadas uma pela outra. 
- Não é tão fácil como pensa...
 Lola arregalou os olhos. Então aquilo significava o que ela estava pensando? Que Miranda finalmente estava baixando a guarda?
- Então, é isso que eu estou pensando?
- O que você está pensando? - perguntou Miranda apreensiva.
- Que você também está apaixonada por mim?
 Miranda demorou alguns segundos para responder, por fim, juntou toda coragem e disse:
- Lola, você realmente mexe comigo. Por mais que seja errado...
- Errado? Errado duas pessoas se amarem? 
Aquilo pegou Miranda de surpresa.
- Eu te amo e não me importo com o que os outros vão pensar...
- Mas o problema é que sou casada e você sabe disso.
- Eu sei e me sinto mal em saber que estamos enganando o Henrique mas, não consigo conter o que sinto por você.
 Miranda engoliu em seco e levou as mãos ao cabelo loiro e ondulado. Mexeu em uma das mechas e a enrolou nos dedos.
- Eu também me sinto atraída por você por mais que isso seja completamente errado.
- Não existe errado ou certo quando falamos de amor.
 Mais uma vez, Lola deixou a professora de português que domava as letras, sem palavras.
- Isso é muito novo para mim, me dê tempo para enxergar e entender tudo isso...
- Eu dou o tempo que você quiser, mas não dá pra negar que quando estamos juntas algo nos conecta e não resistimos.
- Lola, eu fico sem graça com isso... - as bochechas de Miranda coraram - Eu tenho que ir. Henrique chegou. Depois nos falamos, ok?
  Aquilo encheu Lola de esperança e felicidade.
- Tudo bem... Mas antes, aquilo que estava no papel é verdade, tá? Eu te amo demais.
   - Posso saber quem a senhorita ''ama demais''?
 Lola iria esperar a resposta de Miranda quando ouviu seu pai abrir a porta e lhe perguntar:
  Lola engoliu em seco apreensiva enquanto desligava o telefone e sentava no sofá.
    -  Não era nada demais, pai...
    - Pode confessar para mim, quem é o sortudo?
     Ela arregalou os olhos e ficou gaguejando e suas mãos suaram de nervoso.
     Lúcio era conservador e de mente fechada, jamais aceitaria que sua filha amasse uma mulher, muito menos uma mulher mais velha. Contar sobre Miranda estava fora de cogitação, ainda mais pelo fato dela ser a professora de sua filha e de lhe ter dado confiança para cuidar dela. Só de pensar no fato do pai descobrir tal coisa, Lola sentiu sua cabeça girar e um nó no estômago em desconforto. Aquele segredo jamais seria revelado, pelo menos não pela boca de Lola.
    - Pai, esquece isso. Era um amigo.
    - Um amigo? Então esse amigo era realmente alguém especial para se dizer aquilo...
     Lola revirou os olhos.
   - Não viaja, pai.
   Lúcio sentou ao lado de sua filha no sofá e disse:
 - Por mais que isso doa em mim, ver minha garotinha crescer, vejo que está na hora de te dar apoio. Tomo mundo se apaixona, é normal. Você está na idade e minha querida, pode se abrir comigo. Entenderei se não quiser me dizer quem é o menino hoje, fiquei à vontade para dizer quando quiser.
   Lola deu uma risada abafada ao perceber que seu pai realmente não sabia de nada do que ela já havia feito. Será que ele achou que Lola começou a se descobrir recentemente? Tudo bem que ela ainda não havia se deitado com alguém, mas havia dado uns beijos por aí. E coloca beijos nisso. Lola costumava ir em festas e só chegava de madrugada, e ela riu ao pensar no que o seu pai achava que ela fazia quando ia às festas?
   - Está rindo do que, meu bem? Estou sendo um pouco intrometido?
   - Estou rindo de nada. Mas na questão de ser intrometido, devo concordar...
   - Ah, já sei porque não quer me contar o nome do sujeito.
   - Não existe sujeito nenhum, pai. Era um amigo, já disse.
   - Exatamente. Já sei por quem você está apaixonada.
   - Não estou, ok? Mas quem você acha que estou? Assim, só por curiosidade...
   - É claro, como não percebi antes? Esse menino é o Erick.
    Lola ficou boquiaberta e levou a mão à boca e não sabia o que dizer.

A Cor Púrpura de Teus CabelosOnde histórias criam vida. Descubra agora