Decisões

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O coração de Miranda bateu forte no peito, a boca ficou seca e ela demorou alguns segundos a mais para responder, pois não esperava encontrar um aluno no mercado, ainda mais a Lola.

– Bom, creio que eu esteja fazendo o mesmo que você: compras! - brincou Miranda.

Lola sorriu e ficou sem graça.

– Isso é verdade, mas eu não esperava te encontrar aqui... - Lola colocou uma mecha do cabelo púrpura atrás da orelha.

– Professoras também precisam comer para sobreviver. - Miranda riu - Mas é verdade, é muita coincidência lhe encontrar aqui...

Se o carrinho de supermercado não estivesse bloqueando o caminho de Lola, ela com toda a certeza, iria de encontro à professora para abraçá-lá e cumprimentá-lá, mas a menina pensou, que talvez fosse melhor assim, pois na última vez que se encontrou com Miranda, a professora deixou claro que não queria algo a mais com ela. Por mais que Lola sentisse que Miranda gostava dela tanto quanto ela gostava também, Lola se esforçava para obedecer o que Miranda havia lhe dito antes.

– Lola, você não vai me apresentar à sua bela professora? - interrompeu Lúcio.

Lola engoliu em seco ao ouvir o adjetivo "bela" saindo da boca de Lúcio.

Lola não precisou se esforçar para apresentar Miranda ao pai, pois a professora foi mais rápida.

– Me chamo Miranda e sou a professora de português da sua filha. - ela esticou a mão após se apresentar.

Lúcio afastou o carrinho e foi de encontro à Miranda.

– Prazer! Eu me chamo Lúcio e sou o pai de Dolores.

Ele segurou a mão da professora e levou os lábios à mão dela, dando-lhe um beijo galanteador.

Miranda corou de vergonha. Lola revirou os olhos ao ver a cena e a mulher do caixa interrompeu perguntando sobre a forma de pagamento à Miranda.

– Débito, por favor.

Com isso, Lúcio soltou a mão da professora.

– Digite a senha, senhora.

Miranda digitou a senha do cartão e Lúcio voltou ao seu lugar ao lado da filha.

– Prontinho. - disse a caixa enquanto dava um papel para Miranda assinar.

– Bom, foi um prazer conhecer o seu pai, Lola. Agora tenho que ir...

– Mas já? Poderíamos, nos três, tomarmos um suco e conversar um pouco. - sugeriu Lúcio.

Lola cutucou o pai nas costas.

– Eu gostaria muito, mas infelizmente, não poderei, pois ainda tenho que preparar o almoço para meu marido.

Lúcio murchou por dentro ao saber que a professora era casada.

– Ah, claro... Mas o convite ainda está de pé? Quem sabe algum dia? - disse sem jeito o pai.

– Ela é uma pessoa muito ocupada, pai. - interrompeu Lola.

– Claro, podemos tomar um sorvete qualquer dia. Bom, agora eu tenho que ir. Tchau! - se despediu a professora.

Lola e Lúcio se despediram dando um aceno de mão e ficaram olhando para Miranda enquanto ia embora e sumia do alcance da visão deles. Ambos voltaram à realidade quando a caixa pigarreou para chamar a atenção deles.

– Pode colocar os produtos na esteira, senhor.

Lúcio acordou do devaneio e começou a colocar os itens do carrinho na esteira.

********

Depois de acabarem as compras e entrarem no carro para irem embora, Lúcio comentou com a filha:

– Ela é muito bonita. Pena que já é casada, se não fosse, ela daria uma excelente madrasta, não é mesmo, Lola? Afinal, você a adora. Ela parece ser uma boa pessoa...

– Que nojo, pai! Poupe-me dos detalhes. Além do mais, ela não combinaria com você e na real, ela nem gosta de... - Lola se calou rapidamente, pois iria dizer a palavra " homem" mas se deteve à tempo.

– Não gosta de... ? - perguntou Lúcio.

– Não gosta de... - Lola se esforçou e pensou rápido - Não gosta de homens mais velhos.

– Sem essa! - Lúcio soltou uma gargalhada - Eu estou em excelente estado para um homem com 43 anos de idade.

– Vem cá, já esqueceu da loira aguada, então?

– Ah, não fale assim de Michele! E não. Eu não me esqueci dela.

– Pois não parece!

– Desculpe, filha mas sua professora é muito bonita. Não me contive e tive que comentar.

– Alguém me dê um balde que eu preciso vomitar!!! - Lola fez sinal com o dedo indicador, colocou dentro da boca fingindo que vomitaria.

– OK. Acho melhor mudarmos de assunto... - Lúcio olhava fixamente para frente enquanto dirigia o carro.

– Na real, eu quero é dormir. Quando estiver perto de casa me acorde.

Llla fechou os olhos e cruzou os braços. Não queria conversar com o pai, ainda mais sobre futuras pretendentes. Ela ainda não estava aberta para aceitar a hipótese de ter uma madrasta e talvez nunca estaria pronta para isso.

*******

NARRAÇÃO DE MIRANDA

Chegando em casa, coloquei minhas compras sob a pia e lavei com água e sabão a lata de creme de leite e de milho.

Enquanto preparava tudo para começar a cozinhar, me peguei pensando em Lola.

Eu esperava encontrar qualquer pessoa no mercado menos ela. Quando olhei para o pai dela, senti um nó no estômago e me enchi de culpa. Só de pensar no que eu havia feito com a filha daquele homem, consegui me sentir a pior pessoa do mundo. Não era justo com Lúcio, não era justo com meu marido, também não era justo com Lola. Duvido que ela estava ciente do que havia feito. Ela e jovem e rebelde, não sabe da maioria das coisas que faz ou fala. E se eu a enchesse de esperança, estaria não somente a enganando, como enganaria a mim também. Ela havia se transformado em um fantasma na noite passada e foi me assombrar em meu quarto enquanto me relacionava com meu marido. Não vou dizer que aquilo não mexeu comigo, mas eu tenho que ser racional e encarar os fatos: eu não a amava e nunca a amaria. Só estava me deixando levar pelo seu encanto de menina. Mas eu daria um basta nisso e me ao me encontrar com o pai e com a filha, agora a pouco, só me ajudou a confirmar a tomar tal decisão. Dolores seria apenas minha aluna daqui pra frente. E eu me esforçarei ao máximo para que continue assim.

******

A comida já estava pronta mas eu ainda estava perdida em meus pensamentos, quando ouvi o barulho da porta sendo aberta. Era Henrique, meu marido.

Ele estava usando o uniforme de jogar tênis e estava suado, mas isso só o deixava ainda mais sexy.

– Olá, querida. - Henrique se aproximou e me beijou na testa.

– Que cheiro bom! O que está fazendo?

Henrique me abraçou por trás enquanto eu mexia a panela com uma colher de pau.

– Preparei seu prato preferido: strogonoff.

– Não acredito!

Henrique me deu um selinho.

– Tome um banho enquanto isso eu vou preparar a mesa para almoçarmos.

– Gostou da carta que lhe deixei? - perguntou enquanto me beijava ni pescoço e me abraçava por trás.

– Eu amei! Você é tudo que eu sonhei para a vida inteira. Eu te amo!

Me virei e o abracei.

– Você também, meu amor. Eu não saberia viver sem ti.

Ouvir aquilo me deu mais certeza ainda de que estar ao lado dele era o certo a ser feito.

A Cor Púrpura de Teus CabelosOnde histórias criam vida. Descubra agora