Capítulo VIII

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No ônibus, quando estou sozinha, eu sou aquela que gosta de sentar do lado da janela, aliás, em qualquer meio de transporte o lado da janela é sempre o melhor. Eu encosto a cabeça  e me imagino numa cena de filme, o que vai depender da música que eu esteja escutando no momento. Para tudo existe uma trilha sonora, algumas nos fazem imaginar o futuro, outras nos ajudam a entender o presente, a caracteriza-lo, entende? Mas tem aquelas, aquelas que te levam direto para o passado. Você consegue lembrar a data e até a roupa que estava vestida. Isso é estranho e nostálgico.

Estranho e nostálgico. Duas palavras que podem definir bem reencontros ao som de uma música que já definiu muito bem um passado não tão distante.

...

Passei com o cartão na catraca do terminal e ajeitei meus fones, estava tão frio que a ponta do meu nariz parecia ter congelado. Estava escolhendo uma música quando esbarrei na mochila de alguém.

— Oh foi mal. murmurei.

Mel?

Voz. Perfume. Passado.

Acabei colocando no modo aleatório para poupar tempo. Levantei a cabeça e não pude conter o sorriso sincero e nem a vontade de chorar. O abracei forte e ele me abraçou na mesma intensidade. Já fazia muito tempo.

...

Não lembro por quanto tempo ficamos abraçados, mas foi o suficiente para os meus olhos marejarem. Não eram apenas duas pessoas se abraçando. Eram duas pessoas que significavam muito uma para outra.

É estranho abraçar alguém assim. Porque você conhece a pessoa até pelo avesso, já a viu chorando, com medo, conhece seus segredos, sonhos e principalmente suas músicas preferidas.

Não é como encontrar alguém que te viu nascer e crescer, é encontrar alguém que cresceu junto com você, em vários sentidos da vida. É reencontrar com teu primeiro amor e lembrar de tudo, de tudo que passou e não vai voltar, é olhar o passado de perto, um passado que já foi o seu presente, mas que hoje é o presente de outra pessoa.

Tem coisas que nunca mudam.

...

Depois de jogarmos conversa fora, ficamos nos atualizando da vida um do outro e associando com episódios da nossa época de escola. Contamos histórias antigas com a falta contida nas entrelinhas, lembramos de tudo, ou pelo menos, de quase tudo.

Entramos no mesmo ônibus e sentamos um ao lado do outro. Dividimos o fone e ficamos nos olhando por um tempo, ouvindo a música até eu quebrar o gelo.

— E sua mãe, como está?

Ele me olhou por um tempo e sorriu. Ele me conhece. Sabe quando estou desconfortável e quero falar de qualquer coisas que me deixe numa zona favorável.

— Parece que o tempo não mudou, parece que não passou, sente isso? —  perguntou

Fiquei pensando no que ele queria que eu respondesse e no que realmente seria a resposta.
E eu não sabia qual seria a resposta certa.

Será mesmo que parece que o tempo não passou? Que nada mudou? Você ta aí, eu aqui. Isso mudou, pensei.

— Como assim? —  o encarei.

Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora