Capítulo XII

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Eu sempre fui muito louca. Daquelas que falam o tempo todo, que quando quer gritar, grita, quando quer abraçar, abraça, quando quer dançar, dança e por aí vai. Falo alto mesmo, causo mesmo. Se não for para causar eu nem vou.

Sou assim.
Sou dessas.
Em público.

Mas no meu quarto eu sou puro silêncio, só respiração e batimentos. Caneta, papel e lá vai eu escrever o barulho da minha mente, a confusão do meu coração, o medo do futuro, do passado e outras loucuras que só eu entendo, porque se eu for contar todos os meus medos, até meu nome estaria na lista. Sou medrosa sim, mas por diversas vezes eu estive apavorada.

...

Eu estava vazia. Eu não era sozinha mas eu me sentia sozinha, eu amava as pessoas mas eu me sentia fria. Era como se aos poucos meu coração estivesse se tornando um cubo de gelo, eu sentia que a cada dia uma parte congelava e trincava.

Mas eu precisava manter a pose de garota feliz e impermeável, da queridinha, da garota inteira. Eu sentia inveja de quem não sorria, é estranho mas, eu queria ter a liberdade de estar triste, de não querer fazer parte da piada, de não ser a piada, sabe? Eu queria poder chorar quando eu tivesse vontade, assim como eu cantava quando dava na telha, queria poder fechar a cara caso eu não gostasse de algo, eu queria, sei lá parece cliché, é cliché, a verdade é que eu só queria ser autêntica, sem aspas, sem máscaras, apenas eu.

Ao mesmo tempo, eu tinha medo, ainda tenho mas, naquela época, eu queria afastar as pessoas, eu não queria contato, eu não queria apego, eu não queria parecer frágil ou manipulável, porque eu tinha medo.

Eu estava apavorada.

...

Ninguém sabe o que se passa na vida de ninguém, mas quem me ver sorrindo assim...

...

"Tudo bem, tudo bem" repetia batendo levemente a cabeça contra a parede do meu quarto, como que de alguma forma, a esperança de uma melhora, deixasse de ser apenas uma esperança e se tornasse de uma só vez, realidade.

Ninguém acreditaria se eu contasse. Eu não precisava da pena de outra pessoa. A minha já era o suficiente. Eu tinha dó de ser eu.

Aos poucos aquele olhar de menina e aquele riso de moleca deram lugar às olheiras e ao silêncio.

Eu esperei por uma pergunta, por um abraço, por um perdão, mas isso nunca aconteceu.

 Ta com essa cara por que? Deixa de ser bipolar. Um dia tá bem, no outro não tá mais.

Lembrar de comentários assim chega a ser engraçado, porque eu poderia ter respondido, mas eu não conseguia. O barulho da minha mente não deixava eu organizar as palavras, a dor era egoísta demais para ser compartilhada.

É terrível olhar seu reflexo no espelho e não saber quem estar ali. Seu olhos estão tristes, apagados, vazios e ao mesmo tempo tão cheios de histórias não contadas, de lágrimas que secaram antes mesmo de serem derramadas. Mas quando você fecha os olhos, o escuro não é assustador, é acolhedor, reconfortante. O silêncio é a melhor melodia. E a vida, não passa de uma grande interrogação, uma interrogação que não passa de um sinal, você não quer respostas, você quer o fim.

...

Quantas vezes você quis o fim? O fim de um dia cansativo, de um mês, de ano, de um relacionamento, ou de um seminário insuportável? Acho que todo mundo.

E assim como muitas pessoas, eu quis o fim da minha vida. Eu quis o fim das idas e das voltas, das idas sem voltas, das palavras, das vozes, o das cores que não passavam de preto e branco, eu quis o fim do meu reflexo no espelho.

...

Eu sentei na cama e fechei os olhos, eu precisava conversar com Deus, antes do que eu estava prestes a fazer, eu precisava desabafar, eu não sei se eu esperava que ele falasse comigo ou de alguma forma me impedisse mas, nesse dia eu queria que ele me ouvisse.

Então eu orei.

"Sabe Deus, não estou aqui pra te dizer o que deve fazer nem nada disso. Eu sei que o senhor sabe de todas as coisas, sei que sabe a dor que estou sentindo e as loucuras que passam por minha cabeça, o senhor sabe de tudo isso. Mas olha, Deus eu estou cansada. Cansei dessa vida, desculpa te dizer isso, desculpa estar recusando esse presente que me destes, mas eu não quero mais, eu já não suporto. Eu já lutei muito, já caminhei muito, mas vou parar por aqui. Me perdoa Deus, mas eu fico por aqui."

...

Eu ainda não sei explicar o que aconteceu nesse dia, mas se hoje eu escrevo sobre isso, é porque algo me impediu.

...

Quando abri os olhos eu estava deitada. Eu tinha dormido. Meu coração estava calmo, eu não tremia e nem sentia vontade de chorar. Eu não me sentia sozinha porque realmente eu não estava.

...

Sentir vontade de desistir a gente sente, mas eu escolhi voar. E continuo voando com asas quebradas.

Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora