Capítulo XVII

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Meu sono é do tipo bem leve, uma respiração e eu acordo, o pior é que eu não durmo mais. Quando eu preciso ir ao banheiro no meio da noite, eu vou de olhos fechados, porque se não, meu sono pega as malas e vai para longe, e quando decide voltar, eu já levantei, já tomei banho e o café. Que coisa, hein? 

Acho que minha paciência é semelhante, ainda mais quando eu não sei o que estou esperando, qualquer coisinha é o estopim, é como uma gota que pinga a noite toda. Tira meu sono, minha paz e meu humor. 

Nesse caso não foi uma gota, foi uma tempestade e eu odeio guarda chuva.

...

Eu tinha escolhido ficar longe, mas as más línguas sempre me alcançavam e traziam de volta toda mágoa e raiva. Eu não queria mais sentir raiva. Então resolvi enfrentá-los. 

Mentiras, mentiras e mais mentiras. Eu não confiava em nenhum, mas ao mesmo tempo eu queria confiar, queria acreditar que pelo menos um era menos pior, que pelo menos um prestava só um pouquinho, mas não existe essa coisa de prestar só um pouco ou prestar muito. Esse é o tipo de coisa que nem reza ajuda. Ou é ou não é. E eles eram. Duas frutas podres.

Ele me mandou embora. Que ironia, não?

E eu fui, sem gritar, sem espernear, sem pedir pra ficar.

Porque eu errei. Errei quando deixei a porta entreaberta quando deveria ter trancado e engolido a chave. 

...

Engraçado é que depois de tanto ser trouxa ainda perguntam sobre o perdão. Quer saber a verdade?   Não consigo perdoar só porque é bonitinho e para muitos, nobre. Lágrimas eu derramo todos os dias. Não sou obrigada a perdoar o causador delas só porque seus olhos resolveram vazar também.

Mas nisso tudo tem uma palavra que tira o ar. Superação. Ah essa palavra é a melhor de todas (depois de reciprocidade, claro), chega me alegra o coração, s-u-p-e-r-a-ç-ã-o, s-u-p-e-r-a-r, s-u-p-e-r-e-i. Tem gosto de liberdade, de voo livre. Dizer "eu superei", não tem preço.

 Eu acredito que tudo que acontece na nossa vida tem um motivo maior por trás. Desde o dedinho que eu bato na mesinha da sala, ao cara que quebrou meu coração. Aparentemente são situações totalmente diferentes, mas se olharmos de perto, nem tanto. Quando você se apaixona, você tem aquela sensação de pés fora do chão, parece que tudo é mágico e eterno, tudo parece...certo, não é? É como se estivesse passando aquele seriado que você adora na TV e você corre com tudo pela sala para se jogar no sofá, quando de repente, algo te impede de chegar lá, e adivinha o que é? Aquela maldita mesinha, aquela mesma mesinha que sempre esteve ali. Daí você pula de um lado pro outro, alguns xingam internamente nomes que talvez nem existam, outros gritam para que qualquer pessoa escute, mas, ainda tem aqueles que não perdem a compostura, engolem o choro e fingem que nada aconteceu. Essa mesinha é aquele cara que quebrou meu coração. Ele causou dor, mas nem sempre foi assim. Antes, ele encantou minha sala, minha vida, trouxe momentos incríveis, presenciou minhas idas, minhas voltas, meus risos, minhas lágrimas, minhas perdas e meus ganhos, fez meu coração sorrir por diversas vezes. Assim como aquela mesinha. ele sempre esteve aqui, presente. Mas talvez, minha vontade tenha sido maior que o passo, talvez eu tenha perdido a noção de espaço e do tempo. Eu que nunca fui boa com exatas, errei no jogo do sinal. Menos com mais é menos, e eu sempre fui mais, mais ele, mais ele do que eu, mais ele do que todos. mais ele do que nós dois juntos. Aprendi que dói, dói muito, parece ser insuportável, mas passa. Sempre passa. Talvez não seja necessário jogar a mesinha fora, as vezes o melhor é trocá-la de lugar. Mas sabe a maior lição de todas? Ser mais nem sempre é o melhor, o melhor é o "pouco a pouco", pode demorar, mas a gente chega lá, na sala, no sofá, em qualquer lugar.  

...

Com todo esse entra e sai, eu comecei a deixar de lado quem sempre esteve ao meu lado e assim, fui colocada de lado também.

Não sei se eu deveria ter ficado chateada com a Amanda, mas eu fiquei, fiquei porque a sua falta doeu e criou calo. A indiferença estava presente entre nós de uma forma que inquietava. Eu criava milhares de teorias na minha cabeça e a sensação que eu tinha perdido minha melhor amiga doía tanto, que todas as lembranças de nós duas sumiam aos poucos, como se ela não estivesse mais aqui. O pior era pensar que ela não se importava e que assim como a maioria tinha se dado conta que eu sou um problema com problemas.

Tinha saudade, mas também tinha orgulho.

"Respeito tempo, teu espaço, teus esquecimentos, quando me deixa de lado, quando me substitui. Aceito tuas mudanças de humor, tua nova personalidade, te aceito rindo ou chorando, com partes faltando ou inteira, te coloco em meus ombros mesmo cansada. Mas tudo isso porque eu te amo e não porque sou obrigada. Um dia isso tudo cansa, amor também se esgota e amizade quando não é recíproca, acaba."

Postei. 

Indireta? Talvez.  

...

Interessante que chega um momento na nossa vida que tudo deixa de ser suficiente, tudo se torna substituível. Objetos, sonhos, pessoas e por aí vai...O que é assustador! Porque nos acostumamos com a cama do lado da janela, com os professores da faculdade, nos acostumamos com aquilo que chamamos de "dar murro em ponta de faca", nos acostumamos com a espera das gotas de água finalmente furarem a rocha. Rocha. Essa rocha pode ser aquele cara legal que você conheceu no ano passado e que apesar de ter um sorriso de tirar o fôlego, já não te arranca suspiros e nem sorrisos fora de hora, no entanto, você tem esperanças de que isso volte a acontecer. Pode ser aquela amiga que nem é tão amiga assim, bom, vocês cresceram juntas, mas ela ainda não deixou de lado a mania de te usar para parecer "engraçada" em público, porém, você acredita que é só o jeito dela e que um dia ela irá mudar. Ainda pode ser aquela blusinha horrorosa que você ganhou daquela tia de segundo grau, no seu último aniversário, que fica no fundo do armário ocupando o espaço de algo bem mais sua cara, mas você pensa que um dia, talvez , ela possa cair bem. Até que ouvimos aquele "click", aquele "acorda" e algo dentro de nós clama pelo novo, pelo diferente. É quando nossa cabeça esquece o "é o jeito" e entende que é possível fazer as coisas do nosso modo e dizer que, bom, não é bem assim, é desse jeito que eu quero, sabe...  

E eu quis. 

Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora