Capítulo VI

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Na sala de aula uma das regras é não deixar a caneta cair, correndo o sério risco de nunca mais vê-la. Mas é só uma caneta, quem nunca perdeu uma caneta? Eu já perdi várias, mas no dia seguinte sempre comprava outra e nunca me importei com isso. Até porque é uma caneta, um objeto, é algo totalmente substituível. Na vida deveria existir regras como essa. Por exemplo, não deixar alguém cair, correndo o sério risco de perde-la para sempre. Será que as pessoas dariam mais importância a vida, ou melhor, a vida de outra pessoa?

Eu sou muito desastrada, estou sempre caindo da cama, na rua, desde que minha atenção seja desviada para outra coisa ou pessoa.

Atenção. Talvez essa seja a palavra chave.

Tropeçamos em uma pedra e não em um edifício. Mas por que não damos atenção a uma pedrinha e sim a um edifício? A pedrinha pode ser um comentário maldoso, um defeito, uma ilusão ou uma realidade na qual não queremos acreditar muito, só que ao contrário do edifício, a pedrinha é só uma pedrinha, é pequena, comum, inofensiva, até porque somos maiores que ela. Mas o que isso tem a ver com atenção? Tudo. Não damos atenção a coisas pequenas porque achamos que irão se resolver com o tempo.

Aprender a lidar é algo interessante. Eu fico me perguntando a quantidade de coisas que já fui e ainda sou obrigada a lidar. Hoje eu lido com a saudade, com as perdas, com as lembranças e principalmente com a dor. Aprender a lidar não é sentir muito ou sentir pouco, é aceitar aquele sentimento, mais do que isso, é entender o porquê, entender que pode ter um fim ou não, costumo dizer que é como deica-los de molho, deixa-los mornos. O que não quer dizer que eles vão permanecer assim. As vezes esfria muito, assim como tem vezes que pega fogo.

A vida é assim, temos que aprender a lidar com ela.

Mas existem coisas que a gente não lida, a gente nem sequer aprende, porque não da tempo. "Não deixe o mundo ferrar você" sério que existe essa frase? Entende só uma coisa, não existe isso de "não deixar" algo. As coisas simplesmente ferram a gente, da noite para o dia, de uma hora pra outra, sim, é simples assim. E quando percebemos, já era, já foi.

...

Eu disse sim e na hora fez todo o sentido. Ele entendeu cada detalhe meu, cada vírgula, cada linha da minha história incompleta, ouviu com atenção enquanto eu tagarelava, enquanto eu derramava o que já estava transbordando, não sei, mas naquele momento eu o senti aqui, de corpo presente, senti como se ele estivesse me olhando, me vendo por dentro, eu não me senti invadida, eu me senti confortável. Ele passou pela porta, quis ficar e ficou. Ele já era um morador e não uma visita.

Mas, eu tinha esquecido que 1) Ele morava em outro país. 2) Eu era menor de idade. 3)Não era certo;

...

Senti como se meu coração estivesse no estômago. Parece que quando a ficha cai, tudo cai, principalmente as lágrimas. Minha mãe nunca aprovaria, até porque não era certo, onde eu estava com a cabeça?

Decisões são mais que dizer sim ou não e as vezes elas não afetam apenas a gente.
Mas sabe qual é a pior decisão? Aquela que o coração diz sim e mente diz não. Aquela que não tem parte boa, aquela que você sabe a resposta, mas simplesmente não quer aceitar. Aquela que faz você refletir, afinal do que depende a minha felicidade?

Fiquei remoendo isso durante dois dias inteirinhos, aquilo estava me matando, eu não conseguia mais lidar com minha consciência acusando. Eu precisava contar para ele, afinal, eu tinha certeza que ele entenderia, ou pelo menos, tentaria entender, tentaria pelo menos pensar em outro jeito, sei lá, eu não imaginaria que acabaria de uma forma tão dolorosa e traumática.

Eu nunca imagino, né?

...

Senti meu corpo tremer por dentro e acho que por um segundo meu coração parou de bater quando ele finalmente respondeu.

...

Sabe quando você ler, reler e fica relendo várias vezes querendo que o que esteja escrito não seja bem aquilo que está escrito?

...

Você me matou.

Dentre todas as milhares de mensagens que ele enviou naquela noite, essa é a que me torturou durante um bom tempo. Pior do que a pessoa que você ama querer morrer, é ser o motivo disso. E naquele instante, eu era o motivo.

Meu coração latejava, o medo de perder era maior que a minha sanidade. Eu me culpava, eu me torturava com aquelas palavras. E quando ele parou de responder eu senti meu coração trincar outra vez.

As horas passavam acompanhadas da pouca esperança que me restava, sentada no chão do banheiro eu imaginava como seria a vida sem a minha existência, e a ideia ficava cada vez mais confortável e convidativa, meus olhos fechavam e não queriam abrir, eu estava gostando da escuridão, era parecida com o que eu estava sentindo, com o que eu estava querendo.

Meu celular vibrou. Tinha uma mensagem enviada do seu número, mas não era dele. A mesma mensagem foi enviada para a Amanda e para outro amigo que tínhamos em comum.

Pela tradução ele tinha se envenenado. Mas, horas depois ele mesmo enviou mensagem.

Deveria ter sido tarde demais para essa história. Mas, confesso que tenho uma dificuldade com pontos, coloco ponto parágrafo onde deveria ser ponto final.

...

Um minuto não só acaba com 23h59 como pode acabar toda uma vida.


O ponto também muda tudo. Pode finalizar uma frase, um parágrafo ou toda uma história. Pode dar fim a uma dor, para obter o alívio, pode parar uma briga, para uma reconciliação ou pode interromper um pensamento dando lugar a razão.

Nesse caso, o ponto deu continuidade ao que nem deveria ter começado.

Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora