Escrever nunca tinha sido um problema. A folha de papel é uma velha amiga, a melhor depois da Amanda, é claro. Eu fico pensando, se ela pudesse sentir, o que sentiria? Se pudesse falar, o que falaria? Coitada, escuta tudo calada.
Mas teve uma época que eu senti um bloqueio, ficava encarando a folha por horas e não saia nada além de desenhos sem sentido. Eu não sabia o que dizer, eu não tinha o que dizer.
Eu estava vazia.
...
Escrevi, escrevi e apaguei, não tem como descrever o vazio. Ainda mais um vazio tão cheio como o meu.
Ainda era difícil acreditar.
Amiga, será que realmente foi tudo mentira?
Eu não sei, tudo indica que sim, mas sei lá, Mel.
É, sei lá.
Sei lá. Será que um dia eu saberia de toda a verdade? Teria uma verdade? Aquilo estava me corroendo por dentro. Eu tinha que preencher aquele vazio, ocupar minha mente, eu não poderia cair outra vez.
Foi então que eu conheci o Fábio. A ideia inicial era trocar Cookies por Pizza, só que a coisa foi bem além disso.
...
As melhores amizades começam assim, ou do nada ou por comida. Hoje, compartilhamos histórias, lágrimas e boas risadas. É mais que uma amizade virtual, é real, presente e mais do que isso, bilateral. Tem males que nos trazem coisas boas e claro que o Fábio foi uma delas.
...
Demorou um tempo, mas eu já estava acostumada. Sorrir durante o dia, chorar durante a noite. Meu corpo cansado concorria com o barulho da minha mente. Amor era sinônimo de incerteza, não era pra mim.
~
Amiga, vou te adicionar no grupo do Skype.
Ai Amanda, não sei, não quero conversar com ninguém e também, já conheço gente demais.
Mas tu já conhece a maioria. Baiano, Trem e Lanna estão lá, só o Alex que ainda não conhece.
Demorei uns cinco minutos para finalmente aceitar.
Hm, coloca então.
E ela colocou.
E se ela não tivesse colocado?
...
Sempre chegamos a esse ponto, é inevitável. E se?
...
Acabou que foi uma boa ideia, é bom estar entre pessoas que gostam da gente e demonstram isso. Eu me sentia bem naquele meio. Ríamos, zoávamos, falávamos sobre tudo. Parecia que éramos vizinhos, e como queríamos isso. Mas a verdade é que nunca tínhamos nos visto, eu realmente conhecia a maioria, menos o Alex.
O Alex. Quem seria esse?
~
Nesse dia eu não queria papo, não queria nem sair da cama. Mas nada que um boa sofrência para nos deixar pior.
Dançando com a vassoura, não lembro bem como começou, mas eu e o Alex, até então estranho, estávamos conversando, ele contou coisas da sua vida e eu resumi algumas partes da minha. Era meio louco porque os nossos amigos eram os mesmo há muito tempo, mas até esse dia não tínhamos trocado nem duas palavras.
O mais louco era a certeza que eu o magoaria de uma forma irreversível.
Eu sou estragada psicologicamente. Se afaste e ainda terá uma chance.
Eu avisei.
~
Nos aproximamos de uma forma estranha e por mais que eu o pedisse para não se apaixonar, eu sabia que ele estava apaixonado, essas coisas a gente sente, não adianta esconder. Eu deveria ter cortado desde a primeira investida, mas não fiz isso. Eu queria ver até onde aquilo iria, onde aquilo me levaria. Eu não tinha mais nada a perder, só que ele tinha. Mas eu não me importava, não no início.
Aquela paixãozinha que ele demonstrava sentir, na minha cabeça não passava de uma mentira barata, não passava de uma tentativa de me iludir, de quebrar o coração que eu nem sentia mais ter. Dei corda, assim como me deram, mostrei ser a melhor pessoa do mundo, seu porto seguro, seu cais, eu me tornei o amor da sua vida.
Eu não acreditava naquilo, eu não queria aquilo, era bonitinho demais, certinho demais, parecia bom demais para ser verdade. Mas era verdade, eu que estava sendo de mentira.
Mas quando eu percebi, ele era a pessoa que mais se importava comigo, a pessoa que estava disposto a morrer por mim. Eu estava estragada demais para fazer algo sobre.
De mocinha eu me tornei a vilã.
...
Chega um momento que você decide ser o que as pessoas tanto falam, pode ser legal no início mas depois de um tempo você nem sabe quem você é de verdade, você se perde e para se encontrar de novo, bom, pode acontecer.
...
Eu te amo.
Fiquei encarando essas três palavrinhas, e sorri.
Bom, eu também me amo, pensei.
Não disse nada, não na hora.
Mas depois eu consegui ser quem eu queria ser.
Eu também te amo.
Quando apertei o enter eu soube que não tinha mais jeito, eu soube o poder que eu tinha nas minhas mãos, o mesmo poder que eu dei a quem trincou cada parte de mim.
Como seria trincar alguém?
~
Os dias ao lado dele eram divertidos, eu gostava de tê-lo por perto, ele me ajudava com tudo e eu sempre retribuía, de um jeito ainda desconhecido eu gostava dele, ele era um amigo, embora para ele e para a maioria éramos namorados. Eu não me importava, eu tinha dito sim, afinal.
Só que o grande não estava perto de chegar.
Eu não fazia ideia do que ele estava planejando, ele montava umas coisas na cabeça dele que sinceramente, ainda é sem lógica. Você não pode querer dar o céu a alguém sem primeiro perguntar se ela gosta de azul. E eu não gostava, eu não queria.
Apesar de estar agindo de uma forma totalmente errada, eu deixava escapar coisas que máscaras não escondem. Medo, insegurança e falta eram perceptíveis e ele notava isso, eu passei a desabafar com ele sobre isso e quando eu abri os olhos eu vi a bola de neve que aquilo tinha se tornado e o mandei embora, pedi para que ele corresse, para que ele fugisse de mim. Só que no fundo eu não queria aquilo porque entre o caos ele se tornou o meu cais.
...
Teria sido extraordinário se não tivesse sido trágico.
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Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]
Não FicçãoJá sentiu as famosas "borboletas no estômago?" Eu também. Mas as minhas expectativas foram frustradas, meu coração trincado e as borboletas morreram. Eu precisei vomitá-las.