Capítulo XV

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Coragem.

Eu repetia essa palavra sempre que pensava nele. Precisava de coragem para virar a página, sem ao menos voltar para dar uma espiada, para reler as primeiras linhas, para sentir por alguns instantes que ele ainda era uma parte de mim quando na verdade não era. Eu precisava de coragem para controlar meus batimentos cardíacos quando ouvia seu nome e aquela música do primeiro dia. Eu precisava de coragem para parar de escrever outro texto sobre ele, sendo que talvez ele nem lesse. Eu precisava de coragem, coragem pra esquecer e seguir.

Seguir pra onde?

Eu não tinha para onde ir.

...

"Te vejo por aí, rasgando sorrisos enquanto eu rasgo a alma e saio andando, vagando por aí..."

Postei esse trecho e fiquei pensando em quem eu tinha me tornado. 

Vazia, fria , mentirosa e...tudo que o Ian era. Eu tinha me tornado sua versão feminina, eu não era só a vítima. Eu era uma vítima com vítima. 

A diferença é que eu não aguentei ser assim por muito tempo com o Alex, eu o deixei ir, mas ele não foi, então eu fui. 

O pior de ser magoado é magoar alguém. É olhar pra trás e ver que machucou profundamente alguém que se importava de verdade.  

~

Resolvi ir atrás das respostas sobre o Ian, descobri que tinha mais mentirosos na minha vida do que eu imaginava, então eu passei a duvidar de todos, até dos mais próximos. Eu o amava, independente de qualquer coisa, mesmo não sabendo mais o que direito era o amor, eu o sentia muito, mas acima de tudo eu queria saber em que eu estava envolvida. 

Então eu mergulhei de novo, e mais uma vez, transbordei.

Eu o queria de novo na minha vida sendo de mentira ou de verdade, eu não estava no direito de exigir muito.

...

Era bom. Ficar com ele era bom demais para ter vontade de ir embora. E mesmo assim eu fui tantas vezes.

Eu entrava e saía como quem entra e sai do banheiro porque esqueceu a toalha, entra e sai da cozinha porque esqueceu a panela no fogo, entra e sai do quarto porque esqueceu a luz acesa, como quem quer ir, mas precisa ficar. Como quem tem que ir mas não quer ir sozinha. Como quem já foi e voltou várias vezes mas sempre esquece algo. No meu caso, alguém.

Eu o amava e isso era incorrigível.

Eu não sabia mais a qual lado eu pertencia, então eu resolvi ficar em cima do muro. Mas o muro não aguentou por muito tempo.

Eu caí. 

Sopraram e eu caí.

...

O Alex  me culpava por tudo, usava a família, amigos e todos que estavam ao seu redor para me derrubar. Ele apostou todas as suas fichas, apontou todas as suas armas para destruir um único alvo, eu. 

Olhava para todos os lados e não via
mais ninguém confiável, eu não reconhecia meus amigos, nem minha família.  Entende a sensação de não ter uma pessoa para pedir ajuda? Uma pessoa para poder contar todo o seu caos?

Meu coração pediu colo, pediu socorro. Mas eu não tinha um número de emergência.

Parecia que eu tinha levado uma surra. Tudo doía. Minha cabeça, minhas costas, meus braços, pra ser sincera até meus dedos. O que doía mais era o coração. Ah esse apanhava tanto, quando batia, quando apertava, quando chorava, quando gritava e até quando sorria.

...

Não parecia, eu realmente levei uma surra. Apanhei das lágrimas, das palavras, das idas, das voltas, da vida.

Mas eu aprendi.

Aprendi com o Alex que ninguém é tão bonzinho assim. Aprendi com o colecionador de corações que o amor não acaba, ele esgota. 

Ah, e sabe o que mais?

As pessoas julgam. Mas só julgam porque é fácil sentenciar alguém sem provas. É fácil apontar o dedo e colocar a famosa boca no trombone. É fácil acreditar de primeira e fazer daquilo a única verdade existente, o único lado da moeda, a única face de alguém, a única versão da história. Difícil é saber ouvir e escutar. Quem ouve, apenas usa sua audição de forma eficaz, mas quem escuta presta atenção no que foi dito, entende do que se trata, leva em consideração, questiona e reflete. Difícil é entender e ainda assim compreender, por exemplo, entendemos que dois mais dois são quatro, mas você compreende o porquê? Muitos nunca nem pensaram nisso. Compreensão envolve dar o benefício da dúvida, buscar respostas, a fim de analisar o verdadeiro entendimento dos fatos. Porém, o fácil é sempre o mais rápido e o que causa mais estrago. Mas eles não estão preocupados, sabe o porquê? Porque já foi dito, o circo já pegou fogo, as lágrimas já caíram e bom...a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco, e este é o lado a que pertenço.

Os meus meios não justificam, mas no fim, virou história. 

Vomitei Borboletas Mortas [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora