Nervosismo

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- RONAAAAAALLLDOOOO. - Ouço minha mãe me chamar da cozinha.

Havia acabado de chegar da lanchonete. Jogo minha mochila na minha cama e vou para a cozinha.

- Como foi a escola hoje, amor? - Ela pergunta me dando um abraço. - Fez amigos lá? Fez alguma namoradinha?

- Ah, a aula foi chata como de custume, mas fiz um amigo lá... Namoradinha? Que isso mãe, hahah... - Eu digo ficando levemente corado. Por um momento, me lembro do garoto de boné, vulgo Zelune.

Ela dá uma risada como resposta e eu vou para meu quarto, me jogando na cama. A primeira coisa que eu penso é sobre o garoto do boné... Por que estou pensando nele frequentemente? Por que ele me ignorou? Acho que estou chorando pelo leite derramado. Talvez ele nem me percebeu lá. Mas, será que estou... Gostando dele? Não... Eu não sou gay. Ou eu não sabia que era até agora.

Pensar nessas coisas realmente é bem confuso. Vou até a minha escrivaninha, que chamo de zona do conforto, onde há meu computador e minha mesa digitalizadora e começo a fazer alguns GIFs animados. Ah, arte... Uma das únicas coisas que me fazem esquecer da realidade.

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Já se passou duas semanas desde o começo das aulas. Nesse tempo, fortaleci mais ainda minha amizade com Wilson, além de conhecer algumas pessoas na escola, como Thiago, Rafael e Matheus (mais precisamente, como eles gostam de ser chamados: Calango, Guaxinim e PK), e também falei com Ricardo e Emisu. Estou feliz que não sou julgado nessa escola, como faziam na minha antiga.

Ah, conheci aquele grupo do parque: Alan, Felipe e Rafael. Fiz uma pequena amizade com eles até. Porém, a pessoa que eu mais quero ser amigo ainda não cedeu. No máximo, só trocamos "oi" pelos corredores da escola. Ele parece estar bem fechado mesmo, como Wilson tinha comentado no primeiro dia. Na verdade, estou esperando demais. Acho que estou chorando novamente pelo leite derramado. Do que adianta reclamar se eu não faço nada para mudar isso? Vamos lá Ronaldo, você consegue.

Pego meu celular, que estava no criado mudo perto da minha cama. Vou tentar pedir o número dele para alguém. Wilson? Não... Ele percebe meus desvaneios quando eu olho para Zelune. Acho que irei pedir ao Felipe. Não falo tanto com ele, mas ele é um dos mais "de boas" do grupo.

Eu: Ei felps, me passa o número do zelune

Eu: Ele é o único do grupo que eu não tenho o número, heh

Felps: Opa, tudo bem Ron

Felps enviou um contato: Zeluninho

Eu: Valeu

Consegui. E eu achando que iria ser complicado. Eu realmente sou um caso a ser estudado. Adiciono o contato e encaro a barra de conversa. Vamos lá, coragem.

Eu: Oi

Depois daquele "Oi", enterro minha cabeça no travesseiro. Depois de alguns minutos, sinto meu celular vibrar do meu lado. Ansioso, o pego.

Zelune: Quem é vc?

Meu Deus, o que eu faço? Calma, calma...

Eu: Ron

Zelune: Ron? Que Ron?

Começo a tremer de leve. Essa sensação nunca aconteceu comigo. Parece que vou ter um infarte. Será que eu falo meu nome mesmo? E se ele não quiser falar comigo? E se eu falar algo idiota? Eu resolvo fazer a coisa mais sem sentido na minha vida:

Eu: Opa, eu disse Ron? Hahaha, quis dizer Ro. É de Rose.

Rose? ROSE? BOA RONALDO.

Zelune: Nunca soube de nenhuma Rose... Conseguiu meu número como? É uma daquelas fãs do canal que conseguem achar o meu número?

Canal? Uau, essa não sabia. Continuo a improvisar:

Eu: Sim... Eu quero te conhecer melhor, sabe. Eu gosto bastante dos seus vídeos e acho você uma pessoa muito legal. Se não for incomodo para você...

Ele visualiza e me deixa no vácuo por uns cinco minutos.

Zelune: Ah, tudo bem auahauha, gosto de conversar com os poucos fãs que tenho. Conheceu meu canal como?

Eu: Navegando pela internet. Você manda muito bem!

E assim, começamos a conversar. Nessa longa conversa, descobri várias coisas sobre ele. Sua cor favorita é preto, um dos seus países favoritos é a Cracóvia (não sei porque diabos) e uma das suas bandas favoritas é Pink Floyd.

Eu não sei o que deu em mim. Acho que fiquei nervoso. MUITO nervoso. Tão nervoso ao ponto de agora eu ter uma outra identidade. Rosa... Eu sou mesmo um idiota, mas agora não dá para voltar atrás. Ou dá? Porém, olha o lado bom. Zelune parece ter gostado de mim. Talvez seja uma boa ideia utilizar as informações que eu consigo dele para me aproximar na vida real.

Dou um sorriso. Tomara que isso dê certo.

O Garoto do Boné (Rolune)Onde histórias criam vida. Descubra agora