Depois de um tempo, cheguei à conclusão que, bem, isso não é um pesadelo. Pelo menos literalmente, já que faz duas semanas desde o ocorrido. Eu tenho que parar de pensar nisso e seguir em frente. Vamos, bola para frente, pois estou ficando mais triste a cada dia que passa.
Zelune não está vindo mais para a escola. Já vai fazer uma semana que ele está faltando. Estou bastante apreensivo com isso. Provavelmente é por minha culpa que ele está faltando. Talvez ele nem consiga mais olhar para meu rosto sem sentir rancor.Dou mais uma mordida no salgado que estou comendo no momento, enquanto converso com Wilson. Vejo Rafael, Alan e Felipe vindo até mim. Faz um tempo que eu não vejo Felipe e Rafael juntos depois daquela briga que rolou no pátio. Talvez eles fizeram as pazes, eu não sei.
- Ei, Ronaldo. - Rafael se dirige até mim. Ele cumprimenta Wilson também, que foi interrompido. - A gente meio que vai para a casa do Zelune ver se ele está bem. Você quer ir conosco?
Fico ligeiramente surpreso.
- Sim, eu também quero pedir desculpas a ele. - Rafael acrescenta, como se pudesse ler meus pensamentos. - E, bem, eu acho que você é a pessoa que mais se importa com ele aqui...
Bem, ele está certo. Eu sou a pessoa que mais se importa com ele aqui.
- Sim, eu quero ir com vocês. - Eu declaro, com a maior determinação que eu já tive.
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Acho que eu nunca sai tão energético depois de assistir várias aulas chatas e fazer uma prova. Eu quero muito ver se ele está bem, além de eu querer me desculpar.Vejo o grupo chegando no portão. Eu já estava lá, ansioso, os esperando. Assim, começamos a caminhar.
- Hmm... - Eu começo a formular minha pergunta. - Onde ele mora?
- Não é longe, relaxa. Daqui uns dez minutos nós estamos lá. - Alan responde. - Eu realmente estou preocupado com ele.
- Eu também. - Felipe também diz. - Devíamos ter apoiado mais ele. Acho percebemos isso tarde demais.
Rafael faz apenas um gesto de "sim" com a cabeça, triste, fazendo Felipe dar tapinhas carinhosos em suas costas. Eles devem ter feito as pazes.
Depois de alguns minutos, nós chegamos a suposta casa dele. Rafael toca a campainha, e então parcialmente me escondo atrás de Alan, nervoso, esperando alguém abrir. Não havia ninguém.
- Bem, vamos invadir a casa. - Alan pronuncia quebrando o silêncio.
- QUE? - Rafael grita de um jeito familiarizado agudo. - ISSO É CRIME!
- Vai que ele está lá dentro e não quero abrir. - O garoto conhecido como lixo argumenta. - Nós conhecemos ele.
- Vamos tentar, vai que a gente consegue. - Eu também digo, fazendo Rafael suspirar.
- Temos que ser como ladrões silenciosos. - Felipe brinca dando passos em câmera lenta. - SHHHHHHHHH!
- Tá bom, tá bom. Vamos fazer isso pelo Zelune. - O menino loiro acaba cedendo. - Como vamos fazer isso então, gênios?
Começamos a encarar a casa de Zelune. Ela é razoavelmente grande, porém não encontramos um lugar para entrarmos sorrateiramente.
Andando em volta da casa, avistamos uma janela que dá na sala de estar, porém ela é um pouco pequena para nós. Felizmente, a mesma está aberta.
Alan, analisando a janela que nem um cachorro atrás de comida, conclui:
- Não tem ninguém lá dentro, vamos entrar.
Ele lentamente a abre, e assim fica preso nela. Dou algumas risadinhas.
- Parece que alguém engordou um pouco, não? - Rafael pergunta ironicamente também dando algumas risadinhas. Ele começa a dar alguns chutes na bunda de Alan para ele entrar. O mesmo começa a xingar Rafael, mas é interrompido quando cai de cara no chão.
- Qual a parte de fazer barulho vocês não entenderam? - Felipe revira os olhos e entra super silencioso pela janela. Depois de Rafael, também entro silenciosamente.
Começo a olhar em minha volta. A sala de estar é simples, bonitinha até, porém um pouco bagunçada.
- Zelune, você está aí? - Rafael pergunta, enquanto caminhamos pela casa. - Eu nunca tinha entrado aqui, na realidade.
Olho para cada detalhe dela, principalmente alguns retratos que tem. Dou um sorrisinho vendo um retrato de um suposto garoto de no máximo sete anos, com cabelos negros enrolados, dando um sorriso abraçando um urso de pelúcia.
- Vem logo, Ron. - Alan me chama, me desconcentrando. Vou até o grupo de amigos. É irônico ele falar isso, pois Zelune nem está aqui e mesmo assim estamos xeretando a casa dele.
Vamos até o corredor, e abrimos bem devagar a primeira porta que vimos. De primeira vista, ficou claro que esse é o quarto que nós procurávamos.
- É, ele não está mesmo. - Felipe diz analisando a cama bagunçada. Mesmo sabendo que aquela invasão não deu em nada, continuamos a ver seu quarto. A curiosidade é algo que um dia matará todos nós.
- Eu não dis... - Rafael diz analisando a escrivaninha, até que se interrompe quando toca em uma folha de caderno arrancada. - Uma folha, tem algo escrito nela.
Os outros continuam a perambular por aí, mas eu encaro Rafael. O garoto começa a ler silenciosamente, mas sua expressão muda rapidamente. Suas mãos tremulas amassam um pouco o papel, e então ele fica mais pálido do que o normal.
- TEMOS QUE IMPEDIR ELE. - Rafael grita, assustando a todos, e começa a correr, deixando o papel cair.
Eu o pego, confuso, e começo a ler. A cada linha que leio, meus olhos ficam mais marejados.
Até porque, isso não é um simples papel.
É uma carta de suicídio.
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Apenas declaro uma frase sobre esse capítulo: EITA PREULA!
Espero que tenham tido uma ótima leitura ~ Deixe seu voto ou comentário, isso me motiva demais! Bye!
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O Garoto do Boné (Rolune)
FanfictionRonaldo, um gaúcho de 16 anos, se muda para uma cidade de São Paulo, mas se sente inseguro quanto a isso. Abandonou amigos, parentes e ainda tem que entrar em um colégio novo. Porém, quando Ronaldo está em um parque, alguém prende sua atenção.