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"Olá, pai. Se você achar essa carta, talvez signifique que você realmente começou a se importar comigo e lembrou que eu sou seu filho, não um saco de pancadas em que você adora descontar suas frustrações. Infelizmente, eu receio falar que agora está tarde demais.

Esse papel deve estar amassado, assim como o mundo fez com os meus sentimentos. Ninguém ligou para eles. Nem mesmo as pessoas que eu considerava amigos. A única que ligou foi a minha mãe, aquela mulher que esteve no hospital um tempão, por culpa de seu relacionamento abusivo. Isso me causou uma tristeza que aumentava a cada dia que passava, junto com suas agressões a mim. E então, puf, ela morre. Por sua culpa.

Tive que aguentar essa notícia junto com outra, que foi a de uma ilusão amorosa. Talvez você pense que isso é besteira, mas ser enganado por um suposto alguém que eu realmente amava me magoou profundamente.

De todos os pensamentos suicidas que me ocorreram nesse tempo, eu cheguei à conclusão de que eu não quero morrer em uma corda. Eu quero morrer de uma maneira que me faça ficar perto da minha mãe novamente. Se bem que se eu sangrar, o sangue não irá sujar tanto a água, não? Acho que minha falta de habilidade em nadar vai servir finalmente para algo.

Eu só não aguento mais.
Adeus.
- Zelune"

Acho que se alguma pessoa visse a cena que está ocorrendo - quatro adolescentes pulando de uma janela estreita de uma casa vazia e correndo sem rumo - iria achar que nós acabamos de roubar algo. Porém, estamos tentando impedir que um amigo cometa o maior erro de sua vida.

- Meu santo caralhinho... - Alan ainda balbuciava isso, expressando o seu pânico, além de estar respirando pesadamente. - Nós podiamos ter impedido isso se não fôssemos tão babacas. Como vamos achar ele agora?

- E-eu não... - Eu tento formular uma frase, mas também estou morrendo de pânico, segurando minhas lágrimas. Nós podíamos ter ajudado ele. Eu podia ter ajudado ele, mas eu o magoei mais do que ele estava. Agora ele pode morrer. Ele vai morrer. Ele... Não. Não Não. Vamos impedir ele. Nós...

- VAMOS TENTAR MANTER A CALMA. ELE AINDA ESTÁ VIVO. CALMA, CALMA, CALMA. - Rafael grita mais nervoso ainda, pega a carta na mão de Felipe e começa a ler rapidamente. - ELE DISSE QUE IRIA SE MATAR EM UM LOCAL QUE ENVOLVIA ÁGUA E QUE ENVOLVIA OS SENTIMENTOS DA MÃE DELE... - Ele dá uma rápida pausa pensando um pouco, e também se recuperando. - O único lugar mais próximo disso é o rio . Ele já não disse há um tempo que sempre iria lá quando menor?

Eu nem sabia que tinha um rio nessa cidade.

- Sim... - Felipe respondeu. - C-como vamos chegar lá? Se formos a pé, só vamos chegar lá daqui uma hora. Aliás, e se for o lugar errado? Nós vamos perder ele.

- Não temos outra escolha... - Rafael recrutou.

Começamos a olhar em nossa volta. O ponto de ônibus mais próximo está longe e se fossemos rápido, ainda é capaz dele demorar a chegar. De repente, Alan arregala os olhos e sai correndo. Confusos, seguimos ele. O mesmo para na frente de um estabelecimento onde há várias bicicletas estacionadas em sua frente. Lemos o letreiro.

"Bikes do Fê"

- Nós podemos alugar bicicletas aqui! - Alan declara de maneira energética e rápida. - Vocês têm pelo menos 30 mangos aí? - Todos nós fazemos expressões tristes. - É, eu imaginei isso. Venham, rápido.

E então, Alan sobe numa bicicleta estacionada e começa a pedalar rapidamente. Nós três subimos em outras e começamos a seguir ele.

- EI! VOLTEM AQUI COM AS MINHAS BICICLETAS SEUS... - Ouvimos uma voz masculina atrás de nós gritando, e então começamos a pedalar mais rápido ainda.

O Garoto do Boné (Rolune)Onde histórias criam vida. Descubra agora