Sorvetes

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Sem esperar, eu me levanto rapidamente e Zelune me dá um abraço. Mesmo os nossos corpos doendo, nós ficamos lá, sem falar nada, sentindo a companhia um do outro.

- Muito obrigado. - Zelune finalmente diz algo, coçando seus cabelos negros, e ficando um pouco surpreso com a ausência de seu boné. - Eu peço desculpas pela decisão extrema que eu quase cometi... E te fazer ficar todo acidentado.

- Eu também queria pedir novamente desculpas por tudo que eu fiz. - Ao me lembrar do que eu disse para ele no penhasco, meu rosto fica um pouco corado. - Eu fui um completa babaca e egoísta.

- Eu te perdoo. - Ele dá um leve suspiro. - Eu sei que está arrependido. Vamos agora seguir em frente, não?

- Sim. Amigos?

Ele começa a me encarar seriamente, mas logo abre um pequeno sorriso.

- Claro. Amigos.

Percebo que Wilson e Rafael estão nos observando, com sorrisos estampados no rosto. Fico um pouco envergonhado.

- Aliás... - Eu me viro a Rafael. - Como eu sobrevivi? Como nós sobrevivemos? - Eu tento forçar minha mente. Inútil. - Eu não me lembro de quase nada...

Rafael fica em silêncio por um tempinho.

- Quando você se jogou, nós saímos correndo desesperados gritando por ajuda. Um senhor com um barquinho nos ajudou. Nós encontramos vocês antes de se afogarem por completo. - Ele faz uma cara melancólica e aperta seu braço esquerdo. - Foi horrível ver o corpo de vocês dois inconscientes. Foi... Horrível. Mas vocês respiravam com dificuldade, mas respiravam. Por sorte. E assim, chamamos uma ambulância. Nunca façam isso de novo, pelo amor... Nunca...

Rafael começa a respirar pesadamente. Deve ter sido realmente uma experiência horrível. Quando eu ia lhe dar um abraço, um grito familiar se espalha pelo hospital inteiro.

- O RON FINALMENTE ACORDOU? RONALDOOOO! QUE SUSTO!

Alan bate a porta do meu quarto com o pé e me dá um abraço que me quebra todo. Zelune se junta ao abraço. Wilson também. Rafael igualmente.

- EITA CARALHO VOCÊ ACORDOU! - A voz estridente de Felipe ecoa pelo hospital e o mesmo chega como um foguete se juntando ao abraço.

E assim, todos nós ficamos lá, quietos, sentindo aquele momento de alívio. Como eu sou sortudo de ter amigos como esse.

- Sabe... Vamos todos mudar de agora em diante. - Eu pronuncio. - Tudo bem?

E assim, todos concordam.

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Se eu soubesse que seria o centro das atenções de novo, eu preferiria ficar no hospital até agora.

Já faz uma semana desde o ocorrido, e os holofotes ainda estão virados para mim e para Zelune.

Como toda escola fofoqueira que se preze, qualquer assunto aleatório se torna motivo de atenção. Festas de populares do terceiro ano, brigas, MAIS brigas... E agora que aconteceu algo mais pesado, o pessoal fica complemente frenético.

"Aquele garoto do primeiro ano realmente se jogou de um penhasco? Não acredito, é cada maluco nesse mundo..."

"Só deve ter feito isso para chamar atenção..."

"Esse foi o mesmo Ronaldo que criou aquela identidade falsa? Esses gays de hoje em dia estão cada vez mais surpreendentes, hein!"

Pelo menos, muita coisa mudou. Mudou de uma maneira melhor. Zelune ganhou a guarda de seu tio, além de procurar ajuda psicológica.

O Garoto do Boné (Rolune)Onde histórias criam vida. Descubra agora