- Bah... O que diabos eu fui fazer aqui? - Eu sussurro para mim mesmo, enquanto ando adiante, iluminado pelos postes que me cercam. A cada passo lento que dou, escuto o barulho de música alta se aproximando.
Sim, eu estou indo para a festa da tal de Kéfera. E, sim, eu também mal falo com ela e com seus supostos amigos, mas mesmo assim estou indo. Tentar fugir de seus problemas com festas aleatorias? Grande ideia, Ronaldo! Isso vai funcionar, pode acreditar! Além do mais, você acha festas lugares super confortáveis, com muita diversão! Argh.
Eu odeio esses tipos de festas, onde eu não conheço ninguém e nem conheço direito o dono dela. Ou seja: Eu odeio baladas. Eu odeio estar indo em uma para fugir dos problemas. Eu odeio não ter coragem de resolvê-los. Eu odeio estar iludindo a pessoa que eu realmente amo. Eu odeio estar apaixonado.
Percebo que o barulho começa a ficar alto demais, então olho para meu lado esquerdo. Começo a analisar cada detalhe daquela casa, e então, eu passo pelo portão que estava aberto. De cara, vejo que os adolescentes com hormônios à flor da pele já estavam se pegando em frente da casa e alguns estavam conversando em um tom alto no portão do estacionamento. Já comecei bem.
Sem hesitar, eu vou até a porta principal e entro. Uma sala cheia de pessoas frenéticas dançando e bebendo. Dou um pequeno suspiro, me contentando com meus tímpanos explodindo com essa música alta. Aliás, eu já falei que eu não sei o que estou fazendo aqui? Tento passar pela muvuca de pessoas, até que chego em uma área não tão ocupada e acabo batendo com força na parede.
- EITA FERRO! - Ouço uma voz familiar exclamar de susto, no meu lado direito. - Ah, é você Ronaldo.
Me viro em direção a essa pessoa e percebo que é o Alan. Acho que não recolhem sacos de lixo aos sábados de noite. Bem, pelo menos alguém conhecido que não seja o Zelune.
- Sim... - Eu retruco me recompondo, e percebo que estamos do lado de uma escada, que provavelmente leva ao segundo andar da casa. - Ahm... Não pensei que viria nessa festa.
- Digo o mesmo. - Ele responde em um tom alto por causa da música que tocava. - Mas, eu vim aqui com uma missão, chamada de... RECONCILIAÇÃO!
Faço uma cara confusa, e em resposta ele segura meu pulso e me leva para uma sala em que há uma grande mesa. Provavelmente, é a sala de jantar. Tem algumas pessoas aqui, mas o barulho da música é mais abafada.
- Sabe aquela confusão entre o Rafael, Felipe e Zelune? - Ele começa a esclarecer sua suposta "missão" em um tom animado. - Depois desse acontecimento, eu fiquei completamente dividido entre os três. Andando para lá e para cá, para tentar fazer companhia a cada... Então, eu obriguei os três virem hoje nessa festa para se desculparem e, olha só, tudo fica bem!
Eu faço uma leve careta. Depois de alguns segundos, percebo que ele falou que Zelune está aqui. Ah, não. Pela primeira vez na minha vida, eu não quero me encontrar com ele. Voltando ao foco, eu digo:
- Não era mais fácil ter escolhido outro lugar para isso? Uma festa de alguém que nem falamos e com várias pessoas desconhecidas é um local meio que... nada a ver.
- Pensando bem... Até que você tem razão. - Seu sorriso se desfaz, mas logo volta. - Mas agora estamos aqui, então... Por que não? Agora, vou ter que achar os três, já volto.
E assim, ele sai correndo para fora, contagiante. Está aí alguém esperançoso.
Começo a andar pela sala de jantar, pensando pela milésima vez o que eu vim fazer aqui, e também pensando que talvez a minha ideia de evitar totalmente coisas envolvem o Zelune talvez dê errado. Só vejo quadros e mais quadros da família residente deste local, pendurados na parede pintada exageramente de vinho. Provavelmente os pais delas estão viajando, ou sei lá o que.
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O Garoto do Boné (Rolune)
Hayran KurguRonaldo, um gaúcho de 16 anos, se muda para uma cidade de São Paulo, mas se sente inseguro quanto a isso. Abandonou amigos, parentes e ainda tem que entrar em um colégio novo. Porém, quando Ronaldo está em um parque, alguém prende sua atenção.