1. The Beginning of Everything

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No começo tudo era mais fácil. Mais ou menos, mas com certeza não era tão ruim quanto agora. Lembro muito bem da primeira vez que ela reparou em mim e eu nela, ainda sem maldade, claro. Éramos crianças ainda. Eu com 5 e ela com 6 anos.

Estávamos no parquinho da creche, eu sozinha e ela com uma outra menina. Eu no balanço e ela no escorrega. Eu estava bem no tédio mesmo, sem impulsionar muito o balanço, só deixando ele me levar. Vez ou outra empurrava o ar com o pé. Ela estava toda alegre brincando no escorrega. Não que eu estivesse a observando especialmente, mas naquela época eu gostava de fazer aquilo: sentar no balanço e ficar observando as outras crianças brincarem. Eu era bastante sozinha.

Continuando, a outra menina que estava com ela deu um empurrão mais forte e ela caiu. Lembro bem do contraste do seu choro com a risada de antes. Foi intrigante. Meu eu de 5 anos levou a mão à boca, chocada, e arregalou os olhinhos.

Corri do balanço até onde ela estava enquanto a sua amiga, acho, foi chamar alguém.

- Você está bem? - eu perguntei.

Ela parou de chorar, passou uma das mãos nos olhos, fungou e respondeu.

- Sim, e você?

Eu comecei a rir e ela pareceu ficar chateada.

- Porque você tá rindo?

- Porque a machucada aqui é você né, sua boba - dei um leve empurrão no seu braço.

- Ah, tinha esquecido.

- Vem, deixa eu te ajudar - falei e dei a mão a ela.

As pias do banheiro eram para crianças, logo eram baixas.

- Olha, minha mamãe diz que quando se machuca, tem que lavar. Pra não piorar.

- Mas vai arder - a Lauren de 6 anos fez uma careta.

- Eu prometo que vou fazer de tudo pra doer pouco.

- Você jura? Jura de mindinho? - ela estendeu o mindinho para mim.

- Claro - entrelaçamos nossos mindinhos.

- Tudo bem, então.

Ela tomou coragem e apoiou a perna na pia.

- Se segura em mim. Se doer, pode apertar.

Lauren segurou meu braço e quando eu joguei um bocadinho de água, ela o apertou. Acho que desde aquela época eu estava disposta a tomar as dores dela, obviamente não pelos mesmos motivos de hoje.

- Agora lava o rosto pra parar de chorar - ela obedeceu.

Fiquei na ponta dos pés para pegar papel para ela, é, eu ainda não dava altura.

- Toma - entreguei o papel a ela.

Quando ela colocou o papel no rosto, ele grudou todinho e a gente ficou rindo muito por causa daquilo.

O sinal tocou e uma das professoras que ficava com a gente no recreio veio nos procurar no banheiro.

- Vamos crianças - ela disse. E eu fiquei chateada. Era a primeira amizade que eu tinha começado e tinha que deixa-la ir. A primeira vez que a deixei ir.

Eu fui para minha sala e ela para a dela. Lembro que quando cheguei em casa contei toda entusiasmada para minha mãe que eu tinha feito uma amiga nova. E "com lindos olhos verdinhos". Ri da lembrança.

A amizade continuou, ela sempre um ano a frente, claro. Mas nunca nos separávamos por causa disso. Sempre dávamos um jeito de ir na casa da outra, quase todo final de semana.

The Love Is Dangerous (CAMREN)Onde histórias criam vida. Descubra agora