Capítulo 8 - Caminho de Volta para Casa

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	Nada naquele momento me parecia real

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Nada naquele momento me parecia real. Não havia nada à minha volta que parecesse alcançável, ou ao menos palpável. As luzes do salão eram fortes em contraste com as paredes escuras do lado de fora. O jardim entre onde eu estava sentada e a festa me parecia feito de tons de cinza, deserto e intocável até ser interrompido pelas portas de vidro. Eu assistia ao salão e aos convidados depois delas como um quadro animado do qual eu não fazia parte, nem nunca faria. Era a vida de outras pessoas, castelo de outras pessoas, herança de alguém que eu mal conhecia. Estava presa do lado de fora, invisível e inexistente a todos aqueles que festejavam sem preocupações lá dentro, e tive a forte impressão de que não havia nada no mundo que eu pudesse fazer para que me vissem de verdade, para que realmente me notassem.

Não consegui evitar sentir que, no fundo, eu não pertencia ali.

Por um lado, era uma sensação extremamente solitária, mas não me era tão estranha assim. Ainda que não ficasse muito sozinha, tampouco conseguia me sentir como só mais uma em uma multidão. Até mesmo entre minhas amigas mais próximas, eu sempre me destacava, por bem ou por mal. Ainda que elas me tratassem o mais próximo de normal que conseguissem, não era o suficiente para apagar qualquer vestígio de que eu era sua princesa e, com alguma sorte, um dia me tornaria sua rainha. Era um título - senão um fardo, - que eu sempre teria que carregar sozinha.

Mas, por outro lado, eu até gostava de me sentir assim, deslocada. Sabia exatamente todas as desvantagens de não poder ser só mais uma garota normal, mas também tinha clara consciência de que só sentia falta disso quando algo não ia bem. Em dias normais, eu adorava ser quem eu era. Adorava ser única, por personalidade ou posição. Não existia ninguém que eu colocaria em meu lugar, ninguém que preferiria ser, ninguém que cuidaria melhor de meu país do que eu mesma.

Gostava de não ser como os outros, de ter o jardim escuro e quase completamente vazio entre nós. E não havia porque me sentir sozinha naquele momento mesmo, não quando eu tinha companhia.

Respirei fundo, meus olhos já nem focando mais em nada do que acontecia dentro da festa e chegando quase a lacrimejar por isso.

"Eu odeio esse clima," admiti, sem nem saber que era isso que falaria.

Era verdade, de qualquer jeito. Ainda que estivéssemos em março, já estava quente demais para o meu gosto.

Alaric riu ao meu lado. "Claramente é uma ashlandesa do Norte," falou. "E adoraria Londres."

"Eu adoro mesmo," falei, deixando um sorriso se abrir em meu rosto e logo ir desfazendo devagar. "Sem contar com todo o chá."

Bem mais descontraído do que eu e sem perceber que segundos atrás eu estava perdida em pensamentos, ele riu outra vez. "Não se preocupe, o cheiro não chega nas ruas."

Baixei os olhos para minhas mãos em meu colo. "Eu sei." E então percebi o que ele tinha dito antes. "Como você sabe que eu sou do Norte?" Questionei, virando o rosto para olhar para ele. "Que eu não nasci aqui ou na capital?"

A Herdeira do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora