Capítulo 9 - Celebração da Fênix

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	A razão de eu adorar essa primeira festa nunca tinha sido a possibilidade de desafiar um dos convidados ou me esconder atrás de máscaras

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A razão de eu adorar essa primeira festa nunca tinha sido a possibilidade de desafiar um dos convidados ou me esconder atrás de máscaras. Eu nunca tinha tido a chance de participar dessa parte. Gostava mesmo era das lanternas.

Nos meus primeiros passos dentro do salão, poucas pessoas me notaram. Mas aí uma primeira me reconheceu, depois uma segunda e então logo todos olhavam na minha direção e abriam um caminho para mim, divididos entre surpresa e admiração. Eu nem precisava falar nada, eles simplesmente davam passos atrás quando me aproximava. Em pouco tempo, eu tinha chegado às escadas.

Liev não parecia muito feliz, mas com certeza estava aliviada. Provavelmente tinha chegado a pensar que eu tinha desistido de tudo e ela teria que anunciar a todos que, afinal, não sabia onde a princesa estava. Mas tampouco devia gostar de me ver subir as escadas ao invés de descê-las e ainda ter que esperar um guarda trazer minha enorme e pesada tiara e colocá-la em minha cabeça antes de falar.

"Bem-vindos ao mês da Celebração da Fênix," eu disse no microfone que ela me entregou, e logo o salão foi preenchido por palmas. Aproveitei enquanto esperava elas cessarem para olhar para Liev e lhe fazer um aceno com a cabeça. "Para dar início à Celebração, eu gostaria de convidar cada um de vocês a me acompanhar até a praia."

Não sabia se eles estavam prestando atenção ao que eu falava, mas todos conheciam a tradição e não faríamos nada diferente este ano. Sendo acompanhada por dois guardas e Liev, eu desci as escadas outra vez e fiz meu caminho até o jardim.

Enquanto ainda olhava para os convidados, tentei procurar Clare, mas não a encontrei. Depois, quis ver se Alaric ainda estava onde eu o tinha deixado, mas também não estava, e eu fui obrigada a focar no que estava fazendo.

"Quantos são?" Perguntei para Liev enquanto nós andávamos pelo caminho do jardim que levava até a praia.

"Quinhentos," ela respondeu.

Não eram muitos convidados, mas era mais do que nós costumávamos ter para aquela festa. Eu só assenti, me perguntando quanto tempo demoraria para que todos tivessem acendido suas lanternas de papel. Aquela noite parecia estar longe de acabar.

Foi só quando eu subi no palco que tinha sido montado na areia que percebi o que me incomodava. Grande parte de mim não queria estar ali, mas era só porque eu tinha tido que voltar à minha posição, ao meu título. O nervosismo delicioso de estar escondida logo embaixo do nariz deles já tinha se dispersado, e agora eu precisava ser a princesa. Tudo que fazia estava sendo observado, qualquer passo em falso que eu desse apareceria amanhã em um jornal qualquer. Mal podia deixar meus olhos procurarem entre os convidados pelos meus pretendentes ou até por algum novo. Todos prestavam atenção em mim. Todos queriam saber o que eu estava pensando e aceitariam qualquer indício de aproximação minha de um homem.

Por instinto, prendi minha respiração ao pensar no que poderia ter acontecido se alguma câmera tivesse me pego com Alaric. Assim que as tinha notado entrando no salão para filmar o final da festa antes da meia-noite, eu puxei Alaric para o jardim. E, de onde nós tínhamos ficado, sabia que não tinham nos filmado.

Mas ainda senti o medo do que poderia ter acontecido correr pelas minhas veias. Aquilo tudo era difícil o suficiente só por eu ter que encontrar um marido, as câmeras só pioravam ainda mais.

E elas tinham me encontrado agora. Quando foquei meus olhos e deixei que eles corressem pelos convidados, percebi várias luzinhas vermelhas miradas na minha direção, algumas até próximas demais, uma praticamente na minha cara.

Sorri e inspirei fundo, incapaz de soltar o ar logo em seguida.

Eu realmente odiava tudo aquilo de vez em quando. Odiava ter que me provar merecedora do trono a cada passo. Odiava como eles conseguiam fazer eu me sentir fraca, prestes a quebrar. Já tinham me visto em meu pior, e talvez isso só os incentivasse a ficar torcendo para eu cair outra vez ou ao menos esperando que acontecesse.

Mas, ao mesmo tempo, talvez tudo isso só provasse que eu era forte. Receber todas as críticas possíveis e continuar de pé. Ter que travar uma batalha a cada interação, a cada dia, e continuar na guerra. Os jornais tinham um mês para transformar minha vida inteira em uma busca por um marido e eles já tinham começado com as questões mais podres que poderiam encontrar. Já se perguntavam se eu era impossível de amar, se era impossível de aguentar.

Essa era a verdadeira guerra, vê-los relevarem absolutamente tudo que eu já tinha construído para o nosso país e tudo que ainda queria construir e me resumir à minha vida amorosa.

E isso me fazia forte. Isso me fazia respirar fundo e endireitar meus ombros naquele momento. Me fazia levantar meu queixo no ar e olhá-los com desdém. Era focando nisso que eu continuava. Deixando que eles achassem que estavam ganhando, entendendo tudo que era esperado de mim. Era o sacrifício que eu precisava fazer para manter o legado do meu pai e finalmente ter uma voz que eles nunca poderiam ignorar.

Depois de todos os convidados já estarem na praia e prontos para acender suas lanternas de papel, eu também estava preparada para o mês que começava. Fui até a minha na beirada do palco, ignorando a presença das câmeras, enquanto os outros assistiam em silêncio.

Normalmente, era Clarissa que estaria ali para me ajudar, mas ela não tinha aparecido. Então Liev segurou a lanterna enquanto eu a acendia, depois a passou para mim. O papel ainda não estava quente pela chama, mas eu já sentia a brisa que vinha do mar puxá-la para cima, me pedindo para soltá-la.

E soltei. Eu a assisti subir, sozinha, uma luz quente em uma noite escura, ficando cada vez mais alta, mais brilhante, mais quente.

Os convidados logo acenderam suas próprias com ajuda dos funcionários e iluminaram o céu como se liberassem estrelas, mas eu ainda mantinha meus olhos na minha, na maior e a que estava acima de todas as outras. De longe, a que brilhava mais forte.

E então senti um arrepio correr pelo meu corpo inteiro, me avisando que eu estava pronta. Para o dia seguinte, o mês inteiro, o que viesse. Sabia que teria meus momentos de fraqueza, mas não deixaria que ganhassem de mim. O povo podia se encher e se empanturrar de fofoca leviana e superficial, eu não me deixaria abalar ou ao menos influenciar. Era a primeira noite e já estava cansada de me importar com a opinião dos outros. Eu estava ali por mim, pelo meu pai e por quem eu era.

Ou melhor, quem eu deveria ser.

Eu deveria ser a herdeira do trono por direito.

E, se eles achavam que ganhariam de mim por cansaço ou tecnicalidade de uma lei machista e antiquada, estavam completamente enganados.

A Herdeira do TronoOnde histórias criam vida. Descubra agora