Acabei me permitindo mais um único dia sozinha. Sabia que teria que encarar todos os pretendentes e hóspedes na segunda-feira, mas me deixei ficar em meu quarto no domingo. Já não estava mais tão apreensiva, nem sentia verdadeiramente o peso de toda a situação. Tinha certa consciência de que minha primeira aparição depois da verdade sobre o estado de saúde de meu pai ter sido revelada era importante; que as pessoas estariam ainda mais atentas à minha reação, tomariam nota de tudo que eu faria, de todos meus olhares, de qualquer demonstração de interesse por todos os homens que cruzassem meu caminho. Ainda assim, ainda que soubesse de como a competição agora tinha mudado, apesar de sentir que todo o apelo de Clare no começo sobre eu considerar meu coração além do futuro do país já não importava, não estava ansiosa. Não estava nem incomodada.
Talvez, em algum canto escondido de minha cabeça, a decisão já tivesse sido tomada, talvez eu simplesmente soubesse que acabaria por escolher o cara certo e não precisava me preocupar com isso por enquanto.
Meu último dia livre não foi prova de procrastinação, mas de vitória. Depois de muito tempo, pedi para me trazerem um computador e me sentei à frente dele, disposta a escrever. Fiz questão de deixar minha máquina de escrever ao lado, me inspirando a testar suas teclas somente com palavras dignas do esforço e de sua história. E, mesmo tendo acabado só passando horas olhando para uma tela em branco e sentindo as letras com as pontas dos dedos, não fui dormir desapontada. Na verdade, a sensação de conforto vitorioso me acompanhou até eu me deitar. Não cheguei a escrever nada, mas a mera disposição de tentar era algo que eu já não sabia que voltaria a sentir. Era uma conquista grande o suficiente para aquele momento.
No dia seguinte, me levantei antes que viessem me chamar. Clare tinha dormido ao meu lado, mas conseguiu ganhar de mim e acordar antes do sol, desaparecendo dali antes que pudéssemos falar do dia que viria. Com energia renovada como se aquele mês tivesse acabado de começar, deixei que a nova criada me ajudasse a me vestir. E escolhi por um vestido leve e simples, feito um pouco mais formal somente pelo blazer que colocaria em cima - coral e delicado, para caso Clare insistisse que eu não sabia ser romântica.
Já estava repassando com Liev todos os eventos do dia, quando bateram à porta principal dos meus cômodos. Assim que vi Kyle entrar, percebi o quão pouco o tinha encontrado até então. Nós mal havíamos trocado duas palavras de cumprimento ou acenos distantes com a cabeça. Ele estava mais alto do que eu me lembrava, como se tivesse esperado sua adolescência inteira para crescer só nos últimos anos e chegar aqui parecendo bem mais velho do que era. Ou talvez fosse o terno que lhe emprestava um ar de adulto.
Seus passos, em compensação, continuaram levemente incertos quando andou até os sofás nos quais Liev e eu estávamos sentadas. Somente quando ele estava logo na minha frente que eu me levantei e o abracei, fazendo com que ele estranhasse.
"Você está melhor do que eu esperava," ele falou logo depois de hesitar e acabar me abraçando também. "Alteza," completou quando nos afastamos, provavelmente pelo olhar que Liev lançou na sua direção.
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A Herdeira do Trono
RomanceE se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? Depois de uma vida inteira se preparando para seguir os passos de sua mãe e ser a melhor rainha que Ashland já teve, o futuro da Princesa Lola...